Dois Meses e Alguns Dias

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Acordei com Sasha esmurrando a porta de meu quarto, e praguejei em pensamento. Grande hora para me acordar, logo depois de um dos treinos mais exaustivos daquele mês. Me enrolei em meu único roupão e girei a maçaneta.

- Esther, vista o uniforme rápido! - ela disse empurrando a porta. Juro que se tivesse esbarrado em mim eu lhe daria um soco.

- O que foi que aconteceu? - perguntei, encontrando sua feição desesperada.

- Titãs ao Sul! Não pegue seu equipamento, não temos tempo! - ela se virou e saiu descendo as escadas gritando, tentando acordar todos que ainda estavam dormindo.

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Na sala de reuniões, Erwin tentava entender de todas as formas o que acontecia. Sua mente parecia divagar em uma série de pensamentos para tentar arranjar alguma explicação. Definitivamente ele era um ótimo Comandante, e para mim, um grande perigo.

- Mike avistou titãs ao Sul, senhor! A muralha pode ter sido rompida! - um rapaz ruivo e esguio repetiu o que havia acabado de dizer alguns segundos antes.

Reiner me olhou desconfiado, e eu encarei Bertolt. Tentávamos entender o que havia acontecido. Isso não fazia parte dos nossos planos, muito menos tinha partido de um de nós, com certeza poderia nos trazer problemas.

- Esther, você e alguns soldados do time irão até a muralha. Precisamos encontrar essa brecha! - Erwin disse se levantando com pressa. - Levi, leve a maioria do time de Elite com você. Avancem o território e encontrem os titãs ao Sul. Não temos tempo, então tratem de correr.

- Sim senhor! - a sala disse em uníssono, prestando continência e saindo em passos rápidos.

Assim que chegamos ao estábulo, Jean puxou-me pelo braço. Passei meus olhos pelo lugar procurando Reiner ou Bertolt, pensando na tragédia que seria se nos vissem ali.

- Só preciso te pedir uma coisa - sua mão afagou a minha com um carinho que eu nunca havia antes sentido, e seus olhos brilharam. - Se cuide.

Afirmei com a cabeça, rezando pra que de fato ninguém tivesse visto ou ouvido aquilo, e então nos soltamos. Jean iria com o time de Levi, e eu precisaria ficar com o restante do pessoal caso algo desse errado dentro das muralhas.

Providenciei de arrumar os cavalos até que todos chegassem. Nosso tempo era contado então devíamos sair o mais rápido possível. Não pegamos nossos equipamentos já que iríamos para dentro das muralhas, também estávamos trabalhando contra o relógio. Cada segundo importava, além do mais, Levi e o restante do time já haviam ido à frente portando seus equipamentos.

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- Impossível! Vocês tem certeza? - perguntei inconformada. Havíamos nos separado em dois grupos, procurando em toda a extensão da muralha, por algum rompimento ou abertura. Fizemos o mesmo trajeto duas vezes, mas não encontramos nada. Que merda havia acontecido?

- Esther, não trouxemos nossos equipamentos. É melhor irmos até o castelo descansar um pouco - Bertolt disse, enquanto eu continuava inconformada com a situação.

Bertolt tinha razão. Já havíamos procurado de todas as formas alguma brecha, mas nada havia aparecido. Além de Bertolt, Reiner e Connie também estavam conosco, e mais alguns soldados com os quais eu não mantinha contato, Historia e Ymir. Eles precisariam descansar.

Meu coração bateu forte, e me lembrei de um par de olhos castanho claros. Será que ele estava bem? Será que já havia se deparado com algum titã? Não importa. Naquele momento eu deveria me preocupar apenas com os rapazes e nosso plano, o qual a cada segundo que se passava, ia por água abaixo.

- Vamos! Não podemos ficar aqui até o amanhecer - confirmei, redirecionando meu cavalo em direção ao castelo Utgard, o mais próximo de onde estávamos.

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Passamos uma grande parte da noite dentro da torre, tentando entender o que estava acontecendo. Nenhum titã havia aparecido, e isso não me cheirava nada bem.

Subi até o topo do castelo de pedra e apenas observei. Esperei algum sinal, alguma luz, mas nada aconteceu. Ouvi passos se aproximando atrás de mim, e Bertolt se colocou ao meu lado.

- O que acha que aconteceu? - sua voz doce agora era preocupada. Eu nunca havia me aproximado tanto de Bertolt, como de Reiner, mas ele não deixava de ser uma de minhas prioridades. Convivemos juntos durante todo o treinamento como guerreiros por Marley, e entendemos bem um ao outro. Bertolt era um bom amigo, um homem com um grande coração e uma gentileza incomparável. Talvez algum dia eu tivesse ao menos metade de sua empatia.

- Não faço ideia - respondi coçando os olhos. O cansaço já começava a tomar conta de meu corpo.

Ele suspirou fundo e fixou o olhar no horizonte. Ficamos ali calados por algum tempo, até nossa suposta paz ser completamente tirada de nós. Avistamos ao mesmo tempo, titãs de alturas diferentes se aproximando do castelo, e então gritamos com todo o volume que tínhamos em nossas gargantas.

Reiner e o restante dos soldados subiram até o terraço. Ficaram atônitos quando viram o que acontecia. Os pêlos de todo o meu corpo se arrepiaram, e eu entrei em pânico. Aquilo não podia estar acontecendo, não era possível!

- Vocês, protejam essa torre! Nós temos o equipamento, iremos descer! – Nanaba disse, acompanhada do outro soldado veterano.

- Vocês estão loucos?! - gritei, não acreditando no que aqueles miseráveis tinham em suas cabeças. Só podia ser merda.

- Esther, não existe outra opção - Nanaba sorriu, e se jogou do topo da torre, caindo em cima de alguns titãs que já haviam chegado próximo o suficiente.

Tudo acontecia em uma fração de segundos. Reiner, Bertolt e eu estávamos em uma das piores situações possíveis. Senti como se meu corpo tivesse sido amarrado, de tão impotente.

Eu poderia jurar que nossos corações saltariam da boca se pudesse, já que a visão que tínhamos era a mais próxima de todos os meus pesadelos. Pesadelo. Apenas um pesadelo. Apenas um pesadelo!

Cobri meus ouvidos com as palmas de minhas mãos e fechei os olhos com força, esperando que eu acordasse logo. Nada.

Abri meus olhos e olhei para o horizonte novamente, confirmando que aquilo era real. Atrás de vários titãs irracionais estava o titã Bestial, de braços abertos em uma pose absurdamente amedrontadora. Zeke havia chegado.

Drowning (Parte I) - Jean KirsteinOnde histórias criam vida. Descubra agora