Quatro Meses

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Meus pulmões não aguentavam puxar mais ar, e meus pés pediam pra que eu parasse de correr, mas eu não parei. Não pude ir com meu cavalo, para não levantar nenhuma suspeita, e queria que pensassem que eu estivesse em meu quarto. Avistei Reiner no topo da muralha, e logo chamei o elevador para que eu pudesse subir.

Assim que cheguei, dei-lhe o abraço mais desesperado que pude, como se fosse o último. Ele retribuiu, com apenas uma mão, já que na outra segurava seu lampião.

- Por favor se acalme, Esther. Eu estou aqui – ele disse colocando o lampião no chão e afagando meus cabelos agora com as duas mãos. Seu abraço era meu porto seguro, e apesar de parecer que nada nos aconteceria, quando estava com ele, eu sempre voltava à realidade.

Minha respiração foi se acalmando, e aos poucos fui me soltando de seu corpo.

Por sorte, havíamos combinado de nos encontrar no topo da muralha vazia naquela mesma noite, na noite em que Levi tinha chegado mais perto da verdade. Reiner e Bertolt precisavam saber.

- Reiner... Levi... O comandante... - ainda era muito difícil controlar minha respiração. As palavras saíam completamente entrecortadas.

- Ei, se acalme. Eu estou aqui com você! Olhe pra mim e respire - suas mãos puxaram meu rosto pra cima, e seus olhos me fitaram um pouco preocupados.

Puxei o ar, e pareceu que finalmente dessa vez, ele havia enchido meus pulmões o suficiente para que eu terminasse a frase.

- Reiner... Os três, Levi, Erwin e Hange, sabem que o Colossal e o Blindado estão dentro das muralhas - soltei de uma vez, puxando mais ar ao terminar de falar.

Reiner apertou os olhos me olhando atônito por alguns segundos, mas logo depois me puxou em um forte abraço. Pude ouvir seu coração bater alto em seu peito, e suas mãos afagaram meu cabelo mais uma vez. Como era bom ouvir o som de seu corpo, como era bom aproveitar seu abraço, e mais ainda, como era bom saber que eu tinha uma família. Reiner era minha família.

- Confie em mim. Eu prometo que ficará tudo bem - seu abraço se tornou mais pesado, e eu chorei em seus ombros. Sua voz era firme, mas ao mesmo tempo eu conseguia sentir o medo escapando entre suas palavras. – Você fez um ótimo trabalho ganhando a confiança de Levi. Como seu líder, eu sempre confiei em você, Esther. Como irmão, eu prometo que ficará tudo bem. Você confia em mim?

Confirmei com a cabeça, me aconchegando em seu corpo.

Apesar de confiar verdadeiramente em Reiner, nós precisaríamos tomar atitudes mais drásticas em breve. Nosso prazo dentro das muralhas estava acabando, e se não morrêssemos pelas mãos da Tropa de Exploração, morreríamos pelas mãos de Marley.

Afastei os pensamentos, fechei os olhos e apenas aproveitei seu abraço. Respirei fundo e como sempre, minha mente me trouxe memórias que achei que nem possuísse mais.

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- Ei, Esther. Você pode vir comigo! Minha mãe disse que vai fazer biscoitos e chá - Reiner disse animado.

Quase dei pulos de felicidade. As coisas em casa não estavam nada bem. Sempre ao final do mês, meu pai não conseguia comprar comida o suficiente. Minha mãe também não podia ajudar, já que minha irmã era bem mais nova que eu e precisava de atenção e cuidados o dia todo.

Se os problemas parassem por aí, ainda estaria tudo bem, mas meu lar não era nada amigável. Não era acolhedor, não era amável.

Com Reiner era diferente. Ele me olhava com os olhos que eu queria que minha família me olhasse, mas eu sabia que isso não aconteceria.

- Amanhã temos treino, então você precisa se alimentar bem! Ele disse, segurando minha mão e me conduzindo pela calçada.

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Suspirei fundo e me afundei na água da banheira. O dia estava quase raiando, e eu ainda não havia grudado os olhos, pra variar. Pensava em mil e uma maneiras de resolver aquela situação, mas nenhuma alternativa me parecia boa o suficiente.

Saí da água e me vesti rapidamente. Eu não conseguiria dormir de qualquer jeito, então sequer toquei em minha cama. Meu olhar estava fixo no chão, e meus pensamentos bagunçados foram formando uma idéia. Foi exatamente nesse momento, em que tomei mais uma vez uma péssima decisão.

Peguei meu casaco e subi as escadas. Dei leves batidas na porta antes que pudesse me arrepender, e esperei. Ele abriu, me olhando um pouco surpreso, mas logo me puxou pelo braço.

Fui envolvida em um abraço apertado, enquanto seus lábios se encontraram com os meus em uma dança repleta de desejo. Sua língua percorreu o caminho de minha boca, descendo vagarosamente pelo meu pescoço, até parar em minha clavícula.

- Ah Esther... – ele gemeu baixo e com a voz rouca.

Fui puxada para o seu corpo, e o ajudei encaixando minhas pernas em volta de sua cintura. Seus beijos em meu pescoço não cessaram até chegarmos em sua cama. Agora deitada, e com seu corpo por cima do meu, minhas mãos passaram por suas costas ainda cobertas, até chegarem em seus cabelos. Entrelacei meus dedos em alguns fios e os puxei pra cima, deixando-os espetados.

- Acho que se deixasse suas mechas crescerem, ficaria ainda mais lindo - falei, arregalando os olhos logo depois. Merda!

Ele já era convencido, e essa minha afirmação poderia piorar a situação. Senti um leve riso sair pelo seu nariz, confirmando que ele concordara com meu comentário.

Seus braços seguraram minhas costas, e ele me colocou sentada por cima de seu colo. Suas mãos subiram até meu rosto, segurando-o, enquanto seu olhar se colocou fixo sobre mim. Seus olhos castanhos brilhavam mais do que qualquer outra coisa, e então eu percebi que estava tudo perdido.

Eu estava perdidamente apaixonada pelos olhos de Jean.

Drowning (Parte I) - Jean KirsteinOnde histórias criam vida. Descubra agora