Quatro Meses e Minha Total Ruína - I

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Faltava o ar em meus pulmões quando cheguei em meu quarto. Minha cabeça rodava, e minhas mãos suavam frio, ao contrário do que comumente acontecia. Meus pensamentos eram uma bagunça, e tentar colocá-los no lugar não adiantava, eles sempre se emaranhavam mais uma vez.

Me sentei no canto do quarto e respirei fundo, tentando incontrolavelmente me acalmar. Onde o primeiro comandante de Marley estava com a cabeça quando me colocou aqui, quando me designou pra essa tarefa? Eu não era competente e nem nunca seria!

A voz de Reiner em forma de uma longínqua lembrança veio em minha mente mais uma vez: "Eu confio em você", ele dizia, enquanto suas mãos afagavam meus cabelos pretos e eu chorava, tendo acabado de receber a posse da titã fêmea.

Solucei entre meu choro silencioso e de pouco ar, e coloquei as mãos em meu rosto. Eu precisava dar um jeito naquilo, eu precisava me conter! Eu precisava não enxergar Jean com os olhos de lascívia e vontade como olhei hoje, ou muito menos conversar com Levi como se fosse um amigo de longa data, como estávamos fazendo nos últimos dias. Eles eram meus maiores inimigos, e os mais sujos que podiam existir! Eu precisava me lembrar disso! Eu precisava...

Felizmente não consegui concluir minhas idéias. Meus pensamentos foram se afastando, as luzes baixas do meu quarto foram perdendo a cor, e eu adormeci ali mesmo, sentada no canto do quarto.

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Acordei com suor pingando do meu corpo, e olhei em meu relógio de parede. Ainda era madrugada.

Alcancei o banheiro em passos curtos, e me olhei no espelho com esperança de ver um rosto menos cansado, o que não aconteceu. Apesar de não ter olheiras, meu olhar deixava o conjunto da minha feição parecer que eu havia sido atropelada por centenas de carroças.

Aprontei um banho rápido, e fiquei na banheira por alguns minutos. Não me demorei ali, não queria que mais pensamentos confusos adentrassem minha cabeça.

Me arrumei como pude e desci as escadas do alojamento, esperando que ninguém estivesse acordado. Eu só precisaria de um chá pra relaxar meu corpo, e nada mais. Abri com cuidado a porta do lugar e coloquei minha cabeça pra dentro. Ótimo, o refeitório estava vazio.

Tentando fazer o mínimo de barulho possível, fiz o chá, e assim que terminei coloquei o bule e minha xícara em cima da mesa. Me sentei bem no meio do banco propositalmente, já que caso alguém quisesse se sentar também, teria que fazê-lo do outro lado da grande mesa.

Com as duas mãos na xícara, fechei os olhos e senti o leve aroma da camomila. Aquele cheiro me lembrava Marley... Me lembrava a casa de Reiner, e as vezes em que comíamos biscoitos e bebíamos chá, juntos. Naquela época, mal sabíamos o rumo que nossas vidas tomariam.

Interrompi meus pensamentos assim que ouvi a grande porta do refeitório ser aberta, essa que por sua vez, dava acesso ao pátio principal do alojamento para o lado de fora. Abri meus olhos e o vi parado, segurando a maçaneta.

Jean pousou seus olhos nos meus logo que percebeu minha presença, permanecendo assim por alguns segundos. Eu continuei imóvel, estática, eu diria.

Mais uma vez, eu estava paralisada, e acho que ele tinha o poder de me deixar assim. Senti vergonha de tê-lo deixado sozinho e pelo visto, ele tinha acabado de chegar do depósito do campo. Suas roupas estavam imundas, e ele trazia em seu ombro um pano velho todo molhado, de suor, penso eu.

Ele se aproximou devagar tirando o pano do ombro jogando-o no canto do chão, e só desviou seu olhar do meu para pegar uma xícara dentro do armário comunitário. Se sentou no banco do outro lado da mesa, e ainda me olhando, se serviu do chá que eu havia feito. Jean deu um gole da bebida, voltou a xícara à mesa, e apoiou seus cotovelos em cima da madeira fria cruzando suas mãos, cobrindo um pouco de seu rosto atrás delas. Seu olhar era sério, cansado, mas ao mesmo tempo lascivo e carnal.

Nossos olhos não se desviaram em nenhum momento, e quanto mais tempo se passava, mais parecia entendermos a mesma coisa, sem precisar dizer uma palavra sequer.

Pensei que sair dali como se nada tivesse acontecido poderia ser a melhor opção, e realmente, talvez poderia mesmo.

Repetindo diversas vezes na minha cabeça que aquilo era uma completa loucura, me levantei levando minha louça até a grande pia, e me dirigi à porta que dava acesso às escadas do alojamento. Antes que eu pudesse abri-la, senti um de meus braços ser puxado para trás. Não, eu definitivamente não tinha escolhido a melhor opção.

Seus olhos castanhos brilhavam, e eu podia jurar que ouvia seu coração bater tão alto quanto o meu. Sua mão livre puxou minha cintura e me aproximou de seu corpo, pela segunda vez naquela mesma noite. Pela segunda vez naquela mesma noite eu estava sem ter para onde correr, e não sei se dessa vez eu conseguiria.

- Você deixou todo aquele serviço pra mim – ele disse, aproximando sua boca o mais próximo que podia do meu ouvido. Sua voz era rouca e baixa, mas ainda assim conseguia ser doce. Parecia um demônio, tentando por tudo o que era mais profano me tirar dos caminhos certos, e pra falar a verdade, ele estava conseguindo. – Eu fiz tudo sozinho. Acha isso certo, Esther?

Enquanto ele falava, suas mãos subiram pelas minhas costas e depois desceram, parando em uma parte bem baixa de minha cintura. Fui puxada para ainda mais perto do seu corpo, sentindo um leve volume por baixo de suas calças. Todas as extremidades do meu corpo se arrepiaram, e eu fechei meus olhos, imaginando centenas de perversões.

- Acho que você está me devendo uma. Eu não curto muito organizar as coisas, e menos ainda sozinho – sua boca continuava colada em meus ouvidos, ao ponto de sentir seus lábios molhados se movimentando enquanto ele falava. Suas mãos ultrapassaram a linha da minha cintura, e pararam em minha bunda, me levantando de uma vez encaixando-me em seu colo.

Passei meus braços ao redor de seu pescoço, e apertei minhas pernas em sua cintura. Foi exatamente naquele momento que eu percebi: eu havia vendido minha alma aos demônios.

Drowning (Parte I) - Jean KirsteinOnde histórias criam vida. Descubra agora