23 | Carta para Youngjae

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Um dia antes da véspera de Natal, em pleno tédio às onze e pouca da noite, eu decidi me adiantar na minha contribuição para a ceia de amanhã e colocar logo a mão na massa.

A minha ansiedade e a minha empolgação me incentivaram a levantar da cama para cozinhar mesmo em horário tardio, até porque eu já não conseguia dormir tão cedo assim em dias normais, quem dirás agora, comigo estando tão empolgado pela ideia de Natália — a qual todos os meus amigos passariam o Natal conosco juntinhos em sua casa — ter dado certo no fim das contas. É, ela realmente tinha ligado para cada mãe e pai dos meus colegas, e todos confirmaram presença. Bom, nem todos os pais quiseram ir — no caso, os de Namjoon —, mas isso não o impediu de querer ir; na verdade, pela alegria de Namjoon no nosso grupo do Kakao assim que soube da notícia, ele não me pareceu nem um pouquinho afetado com a ideia de passar aquela data comemorativa longe dos pais.

Eu não fazia ideia da relação que ele tinha com a sua família, porém também não perguntei muito sobre, afinal, não era da minha conta.

Mais cedo, a Yuna havia feito um pudim de chocolate enorme com ajuda de Youngjae para contribuir na comida, e como tínhamos um vegano no grupo, os dois decidiram fazer uma receita vegana para que todos pudessem desfrutar da receita que, particularmente, ficou MIL VEZES melhor que os doces artesanais do nosso antigo estoque secreto de pudins de chocolate.

Desde a última visita de Natália aqui em casa, eu tinha pensado bem no que cozinharia, tinha que ser algo fabuloso, de altas expectativas, uma especialidade a altura de agradar todos os paladares, além de, claro, ser uma receita vegana para que ninguém ficasse sem poder comer. E depois de tanto, tanto pensar, uma receita que eu tirava de letra iluminou a minha mente como um grande holofote. Claro que não era lá aquela obra gastronômica para os gostos mais refinados por caviar, mas tinha um sabor extremamente agradável, e sem querer me gabar — porém já me gabando —, a minha receita que continha um tão simples ingrediente principal deixava Ratatouille no chinelo.

Vestido com meu avental de cozinheiro e com os meus ingredientes postos sob a mesa, eu estava pronto para colocar a mão na massa, todavia fui impedido de partir para a primeira etapa por conta susto que o meu próprio celular me deu quando começou a tocar alto no bolso da minha bermuda. Ao pegar o aparelho, o nome que apareceu no visor da ligação por vídeo me arrancou um sorrisão enorme, tão grande que nem hesitei em atender o motivo dos meus pensamentos avoados no dia a dia.

— Oi, Kook! — cumprimentei o meu namorado com um aceno frenético, observando o seu sorriso fofo aumentar consideravelmente ao me ver.

Oi, meu gatinho lindo — ele parecia estar no seu quarto graças a baixa iluminação ambiente, estava deitado com o queixo sobre uma almofada estampada com a cara do Ben 10. — Está tudo bem aí?

— Está sim — ri; cocei a pontinha do nariz. — Por que ligou do nada? São onze da noite, deveria estar dormindo.

Ahh, não consigo dormir! Só consigo pensar em você — a sua cabeça tombou para o lado, como um bobo apaixonado ao me ver gargalhar. — Você nunca dorme antes das onze, sabia que estaria acordado e só queria jogar papo fora com o motivo da minha insônia.

— Uh, ok. Então vamos conversar — dei de ombros, sem conseguir desmanchar o sorriso do rosto. — E aí? O que faz de bom?

Vegetando — riu. — E você? Não parece estar no quarto.

— Estou cozinhando — apoiei o celular num suporte de temperos bem na minha frente, deixando Jungkook ali parado para me ver. — Vou fazer a minha contribuição para a ceia. Minha especialidade!

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