05 | Farinha de trigo e chantilly

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Eram exatas onze e quarenta da noite quando eu e o Jungkook já estávamos na estação, ambos sentados num banquinho de madeira à espera do próximo trem que nos levaria até a casa do próprio.

Acabei aceitando o seu convite quando ele insistiu, acrescentando que não queria que eu sofresse com aquele castigo do meu pai e que seria uma boa oportunidade para que eu fugisse um pouco de casa como um delinquente, já que o Doyun não me esperaria acordado.

Avisei a Yuna sobre o meu 'rolê' com o Jungkook e que provavelmente chegaria bem tarde em casa, e por esse motivo pedi para que não me esperasse acordada. Ela chegou a me responder com um áudio de um minuto inteiro que me assustou por um momento, pensei que tinha acontecido algo grave em casa que me impediria de ficar fora, entretanto, quando abri a mensagem de voz, relaxei ao ver que era só surto dela por conta do meu jantar com o Jeon.

No que fui pulando de dez em dez segundos do seu áudio repleto de gritos, eu e o Jungkook fomos ouvindo frases cortadas e, ao mesmo tempo, muito significativas, como: "MEU DEUS, VOCÊS SÃO MUITO GA-..."; "Jantarzinho român-..."; "Dá o golpe da larica nel-..."; "Na fanfic que-..."; "Aí quando a boca dele sujar você mete o linguão e-..."; "HEHEH-..."; "Mas use camisi-..."; "Enfim, se divirtam".

No que eu esfregava os dedos na testa e prendia o riso, o Jungkook gargalhava como se não houvesse amanhã daquelas falas cortadas, até pediu para que eu reproduzisse tudo do início ao fim, mas eu ainda precisava manter o pingo de dignidade que me restava e deletei aquele um minuto de pura vergonha antes que Jeon pensasse em roubar o meu celular para fazer o que bem queria.

Nos despedimos da minha irmã assim que o trem chegou em nossa estação. Tive que escondi o celular nas calças quando adentramos o vagão deserto e nos acomodamos em qualquer lugar próximo a uma janela, lado a lado.

— Ei — talvez fosse desnecessário lhe tocar para ter a sua atenção, mas era inevitável relevar qualquer oportunidade de encostar naquela tatuagem de serpente em seu antebraço mesmo que por um segundo; era tão legal, uma arte invejável, talvez eu tentasse reproduzi-la um outro dia no meu caderninho de desenhos —, eu não quero incomodar muito... então eu vou em bora assim que comer, tudo bem?

— Como é? Você não vai incomodar, bocó — ele me encarou com estranheza. — Quem é você e o que fez com o Jimin sem vergonha que me chamou de cavalão hoje cedo?

Estalei a língua no céu da boca, empurrando seu ombro contra a janela fosca do trem no que escondia o meu sorriso com o dorso da mão.

— Cretino idiota!

— Eba! É o Jimin de novo!

Iii Jimin di nivi — o imitei com voz enjoada, Jungkook riu da minha criancice.

— É um bebê mesmo.

— Eu sou mais velho que você, pirralho.

— E como você sabe disso?

— Uma pequena investigação — lhe mandei uma piscadela, voltando a me ajeitar em meu assento —, bem pequena mesmo.

— A sua garantia foi meio suspeita — ele comentou, risonho. — Vou relevar, com medo, mas vou relevar.

Continuamos a viagem naquela mesma energia boa, todavia senti um certo clima pesado crescer ao nosso redor quando paramos duas estações após o Cafe, onde, de relance, pude ver o pomo-de-adão de Jungkook subir e descer em nervosismo.

Quando as portas se abriram, ele apertou a barra da camisa, enxugou as mãos na calça, se levantou e ficou de frente para mim como uma estátua.

— Vem... — ele me puxou pelo braço, levantei do lugar com a dúvida dando boas marteladas em minha cabeça. — Nós... chegamos.

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