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— Até amanhã, meninas!
O sininho da entrada tilintou uma última vez assim que saí porta afora do Café. Olhei para os dois lados da rua iluminada pelos holofotes alaranjados dos postes e suspirei pesado aquele ar seco e gelado. Meu hálito condensou no ar e eu me apertei nos casacos grossos e quentes antes de iniciar apressadamente o meu trajeto ao meu próximo compromisso da noite.
O meu destino não estava distante, mal davam cinco minutos de caminhada, mas tive que apertar o passo já que me atrasei um pouquinho por ter ficado escovando pelo de gato até poucos minutos a mais do meu expediente. Por mais que andar rápido piorasse a sensação térmica do frio que imobilizava todas as extremidades do meu corpo, nada tirava o sorriso do meu rosto e nem diminuía a ansiedade que envolvia o meu peito como um abraço quente.
Meus sapatos amarelos espirraram as gotas de uma poça d'água ao lado do meio fio assim que subi na calçada larga, e nem mesmo o maldito respingo de água que entrou pelos buraquinhos laterais do meu All Star conseguiu me abalar, pois ali na minha frente, em meu objetivo final, numa grande placa iluminada, estava escrito: Amígdala, clínica de psicologia e psiquiatria.
Adentrei o lugar de arquitetura moderna e cumprimentei a balconista com uma reverência rápida para não atrapalhá-la em seu telefonema; em seguida, eu olhei para todas as cadeiras de espera vazias bem ali e, lá no fundo, eu encontrei a minha "criança" sozinha em seu lugar, com os olhos focados em suas mãos inquietas sobre o próprio colo e a boca meio torta, mordiscando a pele interna da bochecha.
— Kook!
Chamei alto o suficiente para que ele olhasse para frente, se levantasse do lugar e viesse correndo até mim com o maior sorriso de todos, me agarrando no abraço mais apertado e caloroso que ganhei no dia, quase me afogando nas dezenas de casacos macios que cobriam seu peitoral grande.
Hoje havia sido a sua primeira consulta no psiquiatra desde a sua última crise. Ele ia passar a frequentar aquele lugar semanalmente, todos os sábados pouco antes do meu expediente acabar, e eu iria buscá-lo assim que terminasse os meus afazeres no Café — tínhamos combinado aquela rotina juntos durante as madrugadas passadas de pura insônia.
Haviam sido dias complicados depois daquilo tudo, mas sabia que aquele sufoco todo era necessário para que tivéssemos bons resultados o quanto antes, e o ato de nos abraçarmos bem no meio daquela clínica — deserta pelo horário tardio — trazia uma sensação de êxtase do nosso primeiro passo dado naquele caminho tão longo.
Era a nossa primeira conquista.
— Ahh! Você parece um pinguim fofinho todo engomado assim! — ele sussurrou, esmagando as minhas bochechas em milhares de beijos baixinhos. — Que saudades!
— Nós só nos separamos por duas horas! — mas mesmo assim, eu nem negava a reciprocidade daquele sentimento e nem pensava em tirar meu rosto do meio do seu peito, mesmo que estivesse quase ficando sem ar. — Como foi a consulta, meu amor? Deu tudo certo?
— Foi tudo maravilhoso! — ele me apertou ainda mais, pressionando a sua bochecha contra o meu gorrinho cinza na cabeça. — Foi bem legal mesmo, a moça que conversou comigo era bem simpática! Eu não estava conseguindo me abrir no início, mas aí a gente começou a conversar sobre animes e jogos para que, de acordo com ela, eu ficasse mais à vontade, e aí eu consegui conversar um bocado de coisa sobre o meu problema! Tipo, falei tudo mesmo!
— Sério? — me afastei só para focar em seus olhos, ele assentiu freneticamente, eu esmaguei as suas bochechas com as mãos e grunhi com a visão adorável que tive. — Meu pai do céu! Isso é tão incrível! Não são todos que conseguem tanto progresso na primeira consulta! Estou tão orgulhoso de ti!
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RESILIENCE FILTER
Roman d'amour[Book trailer fixado no primeiro capítulo] Quando chegou à adolescência, Park Jimin nunca imaginou que viveria a fase mais louca e complicada da sua vida, muito menos que frequentaria um lugar tão semelhante a um manicômio no seu dia a dia; era norm...