16 | Musical

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— Ei, acordem.

Com três batidas na porta do meu quarto, eu e a Yuna pulamos da cama num movimento só. Os toques na madeira não foram fortes, nem o tom de voz usado fora tão alto, mas o que quase nos fez cair do colchão em susto foi a presença do nosso pai na entrada do nosso quarto, nos chamando no que julgava ser umas cinco e pouca da manhã pela claridade fraca que entrava pela janela.

Estreitei um pouco mais os meus olhos inchados pelo sono, o vi usando o seu uniforme camuflado do exército e um incomum mochilão cor marrom-claro nas costas; me questionei internamente do porquê ele nos acordara tão cedo e, principalmente, do motivo para que estivesse carregando aquela bagagem enorme e aparentemente pesada só para lidar com mais um dia de trabalho.

Resmunguei baixo pela situação, me sentei no colchão e esfreguei as mãos frias pelo meu rosto para espantar um pouco mais a preguiça, bocejando e penteando os meus cabelos para trás no que tentava não focar demais no peso que uma noite mal dormida estava fazendo em minhas pálpebras. Olhei para o lado e vi a minha irmã vestida com o seu pijama de Stich, sentada em sua própria cama sem nem se dar o trabalho de ajeitar o ninho cor-de-rosa da própria cabeça ou de disfarçar aquela cara inchada de sono; os seus olhos fechados e a sua postura torta de zumbi entregavam que ela só estava esperando o Doyun dar o tal recado para voltar a dormir.

— Irei partir em missão no exército — ele disse enfim, e tais palavras foram suficientes para prenderem completamente a minha atenção. — Quero que se comportem nesse tempo. A comida que tem na dispensa foi contada para durar o tempo em que eu estarei fora. Se acabar, se virem e comprem suprimentos com o dinheiro de vocês.

— Espera, o quê??? Pera, pera, pera, assim do nada? — ignorei todos os seus conselhos ao perguntar, espantado e avoado demais com a quantidade de informações que o meu cérebro lerdo ainda tentava assimilar. — Vai ficar quanto tempo fora?

— Um mês, é o tempo comum de missão.

Bastou que aquela simples frase saísse da boca alheia para que tanto eu quanto a Yuna despertássemos completamente da sonolência gritante que nos rodeava, arregalando os lumes miúdos para trocarmos olhares abismados e, em seguida, analisarmos juntos as expressões do nosso pai em busca de algum traço que indicasse uma falta de veracidade no que dizia.

Será que aquilo era um sonho maluco?

Me belisquei com força por baixo dos lençóis; não acordei de novo.

— Isso é sério? — a Yuna perguntou.

— E eu estou com cara de quem está brincando? — ele revirou os olhos e suspirou fraco. — Até parece que essa é a primeira vez. Enfim, só vim avisar isso a vocês. Se virem aí até eu voltar, e eu não quero nada fora do lugar até lá, muito menos desconhecidos aqui dentro. O Youngjae irá ficar bem de olho em vocês.

Após a sua curta, grossa e objetiva declaração, ele simplesmente deu meia-volta e saiu do quarto para bater na porta do meu irmão mais velho, talvez para lhe dar a mesma notícia que nos deu e mais alguns outros avisos, já que, hipoteticamente, Youngjae seria o novo "homem da casa" na sua ausência. 

Fora do campo de visão do nosso pai, eu e a Yuna nos entre olhamos de novo, dessa vez, com sorrisos radiantes nos rostos repletos de luz e os corações tão agitados quanto esquilos sob efeito de cafeína pura; era inacreditável!! Tipo, meu Deus, iríamos passar um mês sozinhos em casa!! Um mês inteiro sem o pai!! 

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