Esperança

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Gabriel On

Desperto com a musiquinha irritante do meu despertador e me estico na cama para alcançar o celular na cômoda.

Eu me sento meio sonolento e escuto o barulho da televisão no fundo. Eu visto a minha bermuda suja e abro a porta do quarto observando melhor o local. É um ambiente claro, a luz do sol entra pelas janelas do quarto de Manuela que ilumina bastante o corredor.

Caminho devagar chegando na sala encontrando Clara no andador e Flor no carrinho perto do sofá. Sorrio observando as duas e me orgulho por saber que elas tem meu sangue. Eu realmente sou pai, inacreditável

- Bom dia - Manuela passa com uma camisola rosa meio transparente segurando um bolo na mão

- Bom dia - Digo observando a linda mesa de café que ela está montando - Posso te ajudar? - Pergunto me aproximando um pouco

- Não, já acabei - Diz sem olhar pra mim. Ela está me evitando?

- Manu, está tudo bem? - Pergunto e ela responde com um "uhum" indiferente saindo pra cozinha

Eu suspiro e pego Clara no andador colocando ela na cadeirinha adaptada. Manuela chega com Flor mamando colocando algumas frutinhas picadas para nossa primogênita. Eu observo todo o contexto e tento não chorar. A minha mulher, linda, forte, e esforçada alimentando nosso bebê, uma mesa de café farta, Clara fazendo uma leve bagunça com as frutas e principalmente, a paz que reina nesse exato momento.

Meus olhos alcançam os dela e não consigo conter. Meus olhos me denunciam quando a primeira lágrima cai me fazendo tampar os olhos colocando os braços sobre a mesa.

- Gabriel?! - Ela me chama mais sou incapaz de olhá-la agora

Nem se eu quisesse conseguiria explicar o que estou sentindo. Vejo toda a minha vida passar por minha cabeça, desde moleque soltando pipa, quando passamos fome, a primeira vez que vendi droga, a primeira vez que usei, quando matei, e principalmente quando recebi o morro em minha mãos. Eu jurava que havia zerado a vida, que nada nunca ia ser tão vitorioso quanto aquilo.... Mais não, ela chegou devagar, com esse jeitinho quieto mais delicioso de ser, me mostrou que eu podia ser muito mais daquilo que conseguia enxergar, me ensinou a importância das coisas simples e valiosas, como a família. Minha família.

- Ei - sinto suas mãos em meus ombros - O que foi? - Ela se senta ao meu lado me abraçando

Eu limpo meu rosto e a puxo pro meu colo a abraçando forte. Meus Deus, como eu amo essa mulher.

- Obrigada Manu - Olho em seus olhos perdidos - Você é tão especial pra mim! Essa mesa, nossas filhas, você.... - Volto a lacrimejar - Eu não tenho mais medo de ter vocês entende? - Questiono e ela enxuga minhas lágrimas séria concordando - Eu não sou mais um bandido, minha filhas não tem mais um pai bandido - Me emociono e ela começa a chorar me abraçando apertado

- Pare de chorar merda, não tenho estruturas pra isso - Ela resmunga fazendo um carinho em meu cabelo

- Eu te amo, te amo, te amo, te amo - Digo sentindo o cheiro de seu pescoço fazendo ela segurar meu rosto

- Eu também amo você Gabriel - Sorrio - Mais precisamos nos concentrar no agora, temos duas crianças, estou no terceiro período da faculdade, você vai entrar ainda - Ela sorrir orgulhosa - Você vai estudar meu amor - Sorrimos juntos em meio as lágrimas - E por mais que eu quisesse te beijar agora e arrancar sua roupa - Diz aproximando sua boca da minha

- Você está de resguardo caralho - Rosno apertando sua cintura

- Cala a boca e me deixa terminar - Fala bravinha e eu concordo calado - Eu não quero que dê errado de novo, porque se der não tem mais volta. Eu não posso fazer isso com meu coração novamente, você não pode fazer isso comigo - Ela pede colando sua testa na minha - Então vamos nos concentrar em sermos bons pais nesse momento, em estudar que é algo que você almejou tanto Gabriel, e durante esse tempo a gente vê no que vai dar nós dois - Finaliza e eu seguro com todas as forças para não beijar ela

A nova moradora do morro Onde histórias criam vida. Descubra agora