Puro ciúmes

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Gabriel On

Eu cresci escutando que bandido bom é bandido morto, até o dia em que me tornei um. As pessoas em geral trabalham, ganham seu salário, tem suas vidinhas miseráveis e boa. Elas enxergam a favela como um monte de casinhas amontoadas, pessoas pobres e mal educadas, e claro, fábrica de bandido. Elas não enxergam pessoas trabalhadoras, mães solteiras batalhando pra pagar água e luz, não vêem os jovens sem opção pra ganhar dinheiro porque ninguém quer contratar um favelado. Eu tive que passar fome pra entender que ser bandido é uma opção. Eu sei que é totalmente egoísta roubar algo que não é meu, mais foda-se, o mundo é egoísta de forma geral, todos são egoísta quando se tem interesses ou objetivos.

Quando eu assumi o morro fiquei totalmente perdido. Eu só queria uma favela tranquila, com moradores que gostassem de mim e não que tivessem medo, e por isso hoje sou eu por eles e eles por mim. Yasmin tacou uma bomba em mim. Eu nunca quis ser pai, e não que eu tenha algum trauma ou que não goste de crianças, eu simplesmente não quero ser pai, e por isso hoje me encontro mais confuso que antes.

Em meus braços tenho praticamente minha salvação. Manuela é muito diferente de qualquer menina que tenha cruzado meu caminho, ela é simplesmente extraordinária, com um riso frouxo e uma alegria que contagia todos ao redor. Ela me olhou no olhos e disse que gostava de mim, ela se tornou uma amiga leal, com vantagens, mais mesmo assim amiga.

Eu me dei conta de que gosto dela pra caramba, porque doeu escutar ela me pedir pra ficar longe. Doeu para um caralho, e não existe a possibilidade deu ficar longe dela.

Eu fico calado e deixo ela chorar, Victoria aparece no corredor e nos olha perdida, eu apenas faço um sinal e ela volta pra trás concordando com a cabeça.

Manuela se afasta olhando pra baixo enxugando suas lágrimas e suspiro. Não quero ela chorando.

- Quer ir pro quarto? - Pergunto fazendo um carinho em sua bochecha

- Tenho que me arrumar pro baile - Ela diz baixo ainda olhando pro chão

- Olha pra mim - Peço segurando seu queixo

Ela levanta seu rosto me mostrando seus olhos vermelhos e suas bochechas coradas.

- Me deixa ficar na sua vida?! - Questiono juntando mais nossos corpos

Ela me fita por um tempo e em seguida me abraça.

- Eu quero flores e chocolates - Diz manhosa e eu sorrio a puxando pela cintura apertando seu corpo ao meu

- Pode deixar que darei - Beijo o topo de sua cabeça - Vamos juntos pro baile, tudo bem? - Pergunto e ela assente

Ela levanta a cabeça e eu puxo sua nuca trazendo sua boca até a minha. Nós sorrimos durante o beijo me fazendo morder seu lábio inferior.

Terminamos com um selinho e cada um vai pra um quarto. Eu entro no meu e tiro minha camisa pegando meu celular.

Mando algumas mensagens confirmando o som e as bebidas do baile com meu vapor. Entro no banheiro e tomo um banho quente relaxando totalmente meu corpo.

Eu saio com a toalha enrolada na cintura e vou até meu armário pegando o desodorante e perfume. Eu pego uma cueca branca, uma bermuda e uma blusa da Nike preta seguido do meu tênis. Passo os dedos no meu cabelo e boa, estou mais que pronto.

Saio do quarto e escuto a barulheira vindo do quarto da minha irmã. As duas devem estar aprontando, sinto que terei trabalho essa noite.

Eu desço as escadas e encontro minha mãe na sala fazendo Rafael dormir. Eu me sento ao seu lado e ela sorrir.

A nova moradora do morro Onde histórias criam vida. Descubra agora