A nova moradora do morro

Homens também choram

Manuela On

Eu tenho em mente que até agora não a sangue entre minhas pernas. Somente isso importa. Somente. Eu estou num quarto escuro a um bom tempo, eu já não sei a quanto tempo, parece séculos. 

Meus lábios estão rachados pela falta de água, meu corpo mais consegue se sustentar sentado pela falta de qualquer farelo de comida. Minha cabeça doi muito, meus braços tem alguns roxos, pois apanho todo dia, a sangue seco espalhado pela minha cabeça, na minha testa e até mesmo no canto da minha boca. 

Eu penso em apenas proteger minha barriga quando eles destrancam a porta. Eu rezo pra sair daqui o mais rápido possível, pelo meu bebê. 

Respiro fundo pela primeira vez rezando pra Deus mandar Gabriel vir me buscar. Eu estou extremamente magoada. Magoada a ponte de pensar na minha atual situação.

Eu me mudei pra casa dele, onde deixei minha tia magoada, tia essa que me acolheu quando perdi meus pais, quando não me sobrou ninguém. Eu vivo hoje com a pessoa que amo, dizer que não o amo seria um grande mentira, mas, todavia, porém, a uma outra gravida em nossa vida que tem nos atormentado um tanto que não cabe na minha lista mental. Nós brigamos por conta de Yasmin, brigamos por conta da favela, brigamos até pelo modo que vou pra faculdade. Eu entendo que Gabriel tem uma lista de prioridades grande, mais parece que não estou nela, parece que sou a namorada árvore que fica sobrevivendo na sombra dele, pois eu digo, EU NÃO SOU ESSE TIPO DE MULHER.

Eu agora estou gravida, o que muda totalmente o curso da minha vida. E não, não há qualquer resquício de arrependimento em mim. E agora, aqui nesse escuro penso o quanto fui burra em não contar a Gabriel, ele é pai, tão importante quanto eu que sou mãe. É porque as pessoas tem o poder e a mania de desmerecer a importância dos pais.

Enfim, quando o inventario dos meus pais saio eu recebi uma boa quantia em dinheiro que pode me manter pro resto da minha vida. Se eu por acaso sair viva desse quarto escuro e nojento, irei sair da favela, comprarei um apartamento em outro estado se preciso. Meu bebê precisa crescer em segurança.

(...)

Estou quase dormindo sem forças quando a porta se abre me fazendo cercar minha barriga com meus braços.

- Levanta vadia - Oliver um cara que vem me ver todos os dias

-Não consigo - Digo baixo e ele suspira se aproximando agachando na minha frente - Ai Deus- Choro por todo meu corpo está doendo

- Deus, você é muito linda pra estar aqui - Ele diz me analisando - Você está gravida não esta? - Questiona me fazendo arregalar os olhos - Calma, Manuela eu sou X9 do Vidigal - Afirma e eu arregalo meus olhos

- E é braço direito do Bernardo? - Questiono incrédula por ele ter chegado num cargo tão alto 

- Fala baixo gata, presta atenção. Te trouxe um pedaço de pão, come rápido, amanhã te trago aguá tudo bem? - Diz e eu tiro força do além para abraça-lo

- Eu não sei porque ta fazendo isso, mais obrigada - Digo e o sinto sorrir

- Você tem um bebê e está aqui - Diz - Isso basta pra eu ter compaixão - Afirma e eu sorrio

Ele me entrega um pedaço de pão e se levanta saindo do quarto. Eu como como uma maluca e me deito sentindo algumas dores no estômago. 

02 dias depois

Oliver abre a porta e eu estranho sua cara de bravo. Ele abaixa e olha pra trás pra ver se vem alguém vindo.

- O que fizeram com você? - Ele questiona se abaixando