Por do sol

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Manuela On

O caminho pra casa é silencioso. Meus olhos se recusam a parar de chorar e o pingo de forças que tenho é por Clara que dorme serena em meus braços.

O carro para e demoro alguns segundos para entender que chegamos. Felipe me ajuda a subir com as bagagens e o silêncio agora se torna pior. Eu levo Clara até seu berço e volto pra sala encontrando Felipe chorando no sofá.

- Sabe, eu conheço Gabriel desde que me conheço por gente! Eu nunca, nunca vi ele dessa forma Manu - Fala engolindo o choro alcançando meus olhos - Eu vou tirar ele de lá, por você, pelas meninas, e principalmente por ele mesmo. Eu te juro - Fala e eu volto a chorar incrédula

Eu o amo mais que tudo, mais realmente não acredito que ele deixará a favela por mim ou pelas meninas.

Ele se levanta pra me abraçar e sou pega por uma solidão sem igual. Quando ele se vai me sento no chão em choque, fico assim até anoitecer sendo despertada pelo choro da minha pequena. Eu a pego e caminho até meu quarto onde coloco a banheira para encher tirando minha roupa e em seguida a de Clara.

Minha mente se perde em não saber o que pensar, um momento onde seu coração dói e sua mente fica como um tela em branco cheia de confusões. Eu perco as horas dentro da banheira e quando dou por mim estou deitada observando Clara.

Olho além dela e vejo o enorme Mar Negro pela janela. Vejo algumas estrelas e peço em silêncio pela proteção dele.

Sinto que tudo acabou.

04 meses depois

- CLARA - grito quando vejo ela tentar enfiar a mão na tomada - Não pode bebê - a pego no colo colocando ela no andador

Quando me levanto sinto uma leve pontada na barriga me fazendo respirar fundo. Ainda faltam duas semanas pra nascer.

O tempo praticamente voou. Tudo o que fiz foi apagar Gabriel da minha vida, tia Ju, Victoria, Lorena e Diego não citam nada referente ao morro ou ele. Sempre que passo em frente a favela viro o rosto para o lado contrário para não doer. Porque dói saber que o amor não bastou.

A campainha toca e corro pra atender. Recebo minha tia e Victoria com um enorme sorriso, elas entram e trato logo de tirar o fricassé do forno.

- Coisa mais linda do mundo - Victoria se aproxima com Clara no colo

- Você parece feliz - Digo refogando alguns legumes

- Hoje é um dia feliz, recebemos uma notícia maravilhosa - Fala animada dando um beijinho no bebê

- Hmmm, posso saber o que é? - Falo e sinto outra pontada na barriga

- Não! Porque você não quer saber sobre tal pessoa - Fala e eu concordo calada

Nosso almoço é regado de risadas e conversa fiada. Amo ter elas como família mesmo quando o mundo me tirou a minha.

- Você vai se atrasar para a consulta - Ju fala conferindo as horas e eu me levanto depressa sentindo outra pontada

- Aí merda - Resmungo

- Tem um bebê querendo sair - Ela diz fala e rimos

- Só daqui a duas semanas tia - Afirmo e pego minha bolsa no móvel - Eu vou indo, a casa é de vocês e precisando de qualquer coisa podem me ligar - Falo dando um beijo em Clara

- Tem certeza que não quer companhia? - Vic pergunta e eu nego

- É só uma consulta de rotina - afirmo e me despeço delas

A nova moradora do morro Onde histórias criam vida. Descubra agora