CAPÍTULO NOVE

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Ouço barulho de passos e quando abro os olhos vejo Tobias. Estou em uma cama em algum lugar desconhecido e ele continua com a mesma roupa que usou ontem à noite. Todos os acontecimentos de ontem retornam a minha mente e tento afastá-los, sei que preciso ser forte e cuidar de tudo agora.
— Que lugar é este? — Pergunto.
— É uma fazenda. Seu tio nos trouxe pra cá ontem à noite. Ele disse que te explicaria tudo quando você acordasse. Dirigiu muito pra chegar até aqui e você esteve dormindo durante toda a viagem. Parece que ele estava com medo de alguém estar nos seguindo.

Eu estava pensando que meu tio nos levaria até a casa dele. Não sei o que deu nele, não faz sentido que nos tenha trago para um lugar tão distante.

No momento só consigo imaginar que seu constante esquecimento que minha tia sempre reclamava tenha evoluído para um quadro sério de Alzheimer.
— Preciso falar com ele. Onde ele está?
— Ele disse que precisava comprar alguns suprimentos. Antes de chegar aqui nós passamos por um comércio de estrada, mas já tinham fechado. De qualquer forma, ele não deve demorar a chegar.

— Seus pais devem estar preocupados. Afinal, era pra gente estar na casa quando aquilo aconteceu.
— Alfred insistiu para me deixar em casa, mas quando viu que eu não ia ficar deixou que eu viesse junto e me fez ligar para a minha mãe antes que celular saísse de área.
— Menos mal.
— Você não está sozinho. — Afirma Tobias repentinamente.
— O quê?
— Você disse que estava sozinho ontem. Não está. Vai ter que continuar sendo o amigo do Tobi-Mão-Louca.
— Eu não quis dizer isso.
— Eu sei.
Ando com Tobias pela casa. Toda o lugar é muito bonito, porém o que mais me encanta com certeza é a bela vista pela janela da sala, pois estamos cercados por uma vasta floresta repleta de arvores de cerejeira com lindas flores rosas e nas proximidades da casa há com uma cachoeira que traz uma brisa relaxante. As arvores me lembram muito às que apareciam constantemente nos animes japoneses que eu costumava assistir sempre que não estava fazendo algo da escola ou jogando com Tobias, flores assim devem ser comuns no Japão, mas aqui no Brasil eu nunca tinha visto e só consigo ficar encantado.

— Uau! — Solto boquiaberto.
— É, eu sei. É incrível né? Enquanto você não acordava eu passei a maior parte do tempo admirando tudo isso, é simplesmente perfeito. — Fala Tobias.
Penso que os antigos donos da casa deveriam ser muito ricos, porém já não vêm aqui há muito tempo, o lugar está completamente abandonado. Por toda parte há poeira, tanto que Tobias e eu espirramos algumas vezes ao andar pela casa. Ainda assim, consigo perceber que toda a mobília foi colocada estrategicamente para que a casa tivesse uma aparência rustica.

A área de lazer tem uma churrasqueira e duas redes armadas cobertas por poeira. Imagino que as pessoas que moravam aqui não gostavam da movimentação da cidade. É lugar calmo e bom pra viver. Não consigo deixar de pensar que Kelly seria feliz aqui, já que ela sempre foi uma pessoa mais restrita e lembro que quando precisávamos comprar algo para nossa casa ela sempre priorizava comprar o que parecia ser mais antigo, ela amava isso.
Vejo que o tio Alfred deixou café passado e pães de queijo em cima da mesa da sala. Como estou faminto, acabo tomando três xícaras acompanhadas de vários pães, não sei ao certo dizer quantos, já que perdi as contas no terceiro.
Já estou cansado de ficar andando de um lado para o outro na casa à espera da volta do meu tio enquanto Tobias parece ficar distraído com alguns objetos estranhos que vai encontrando pela casa. Assim sendo, caminho pela fazenda abandonada até chegar na cachoeira. Penso que se esse lugar fosse conhecido muitos turistas viriam até aqui e logo o relaxante espaço natural daria lugar a sacos plásticos e outros lixos que os humanos descartam em qualquer canto. Logo, é melhor que esse lugar continue oculto na floresta, reflito. Embora seja triste que as pessoas não possam desfrutar desse lugar incrível.
Sento em uma pedra enorme na beira da cachoeira e consigo encostar os pés na água gélida. A brisa, agora mais forte, me faz querer deitar na pedra e aproveitar o momento ao máximo. Deito com a cabeça por cima dos braços. Fecho os olhos enquanto meus pulmões parecem tentar absorver o máximo do ar limpo que podem antes de retornar para o ar poluído da cidade com o que estou acostumado. Acabo adormecendo.

Crônicas do Herdeiro de Rurik: O Rugir da Katana (Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora