CAPÍTULO 10

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Não sei quanto tempo se passou, mas o sol já está quase a se pôr quando abro os olhos ao ouvir o barulho do velho carro Mercury Coupe do tio Alfred.

Levanto e corro em busca de alguma explicação sobre o porquê de estarmos aqui e na esperança que ele tenha mais notícias sobre o incêndio.

O homem que aparenta ter uns 60 anos, cujo cabelos tingidos começam a revezar entre os fios negros e brancos desce do carro com algumas sacolas e não parece me ver quando entra em casa cumprimentando Tobias.

— Cadê ele? — Pergunta.

— Estou aqui. — Grito ao me aproximar com a mão cobrindo os olhos por causa do forte sol que ofusca a minha visão.

— Jack. Que bom que você está bem.

— E então? — Digo querendo saber notícias sobre a casa, ainda sem querer aceitar que Kelly se foi.

O tio, triste, balança a cabeça negativamente e eu consigo entender tudo, contudo seguro as lágrimas porque sei que se começar a chorar novamente não vou mais conseguir conter toda a dor que está acumulada dentro de mim. Por isso, procuro imediatamente outro assunto para discutir tentando evitar que os dois comentem o assunto e precisem vir me consolar.

Vejo que ele comprou roupas completas para frio. Certamente, não posso deixar de estranhar, já que aqui está fazendo calor.

— E esses trajes?

— Vamos precisar deles.

— Nós estamos no Brasil, nunca vamos precisar de roupas assim por aqui. — Pondero. — Está tudo bem com o senhor? Tem agido muito mais estranho do que o normal desde ontem.
— Tem razão. Desculpa Jack, eu queria respeitar o seu momento de perda, mas você precisa saber de tudo agora. — Diz sério. — Eu não sou o seu tio Alfred. Eu só pareço com ele, por causa de um objeto mágico que me permite assumir a aparência de qualquer outra pessoa. Precisei usar esse disfarce para me infiltrar em sua casa e tentar protegê-los. Contudo, no momento que cheguei lá me contaram que você tinha saído com Tobias, o que atrapalhou os meus planos, já que tive que ir procurar vocês. Por sorte, vi a luz ligada na casa da senhora Bertones. Bom, na verdade Bertones era apenas mais um de meus disfarces, mas por sorte foi quando encontrei os dois bisbilhotando em minhas coisas, eu tinha certeza que tinha apagado a luz, então quando a vi ligada pensei que algum assaltante estava tentando roubar minhas lindas caixas de sons. Infelizmente, eu não esperava que explodissem sua casa pensando que você estava lá. Sinto muito pela Kelly, a propósito. Ela foi uma das únicas controladoras que sobreviveu na guerra. Todos tínhamos muito respeito por ela.
— Cara, por que você nunca me contou que seu tio tinha alucinações? — Reclama Tobias.
— Eu não sabia. Pra que você insistiu que eu subisse no carro com vocês? Nunca deveríamos ter vindo.

— Ele disse que eu podia confiar nele e eu acreditei porque ele é o seu tio. Ele parecia ser confiável e não coloque a culpa em mim, como eu poderia saber que ele é louco?
— Você ao menos deveria ter pensado melhor. Agora nem sabemos se ele vai conseguir dirigir até a cidade nessas condições. — Lamento.
Tobias parece estar prestes a continuar a discussão quando Alfred tira um anel dourado do dedo. Nesse momento, um forte brilho emana dele e já não vejo um homem de meia-idade. Mas, no seu lugar tem uma menina que aparenta ter a nossa idade. 

Crônicas do Herdeiro de Rurik: O Rugir da Katana (Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora