CAPÍTULO 11

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É uma garota de cabelos castanhos chamativos e olhos azuis claros enigmáticos. Eu sou um pouco maior que ela, mas a menina não chega ser tão baixa quanto Tobias. Se ela usasse redes sociais seria uma dessas meninas que ficam rapidamente famosas por serem muito bonitas. De todo modo, seu olhar misterioso me faz pensar sobre quem ela é e de onde vem.
— O que está acontecendo aqui? — Pergunto com os olhos arregalados.
— Você também está vendo isso? — Questiona Tobias atônito.
— Sim.
— Ufa! Que bom, pelo menos não estou vendo coisas.
— Tudo que eu disse era verdade. — Diz a garota.

A garota coloca novamente o anel e agora seu olhar juvenil dá lugar ao rosto da velha senhora Bertones que sempre me observava.
— Talvez vocês prefiram essa aparência. Kelly me ajudou a escolher, ela achou que seria conveniente, já que uma pessoa idosa geralmente passa despercebida e ela realmente nunca quis que você soubesse de tudo até que chegasse a hora, por isso nunca fomos devidamente apresentados.
Imagino que o espanto tenha ativado a síndrome da mão alheia de Tobias, já que agora ele está dando tapas aleatórios na cara da velha. Eu deveria ajudá-la, mas agora essa velha parece ser uma ameaça, então acho melhor que Tobi continue com o ataque.
— Pare com isso humano. Vocês são mais problemáticos do que pensei. Talvez Algustus esteja enganado. Não tem como um garoto como você ser a esperança do mundo. — Relata olhando pra mim.
— Nós vamos ouvir sua explicação sobre tudo e o que você quer comigo e com Jack e depois vamos decidir o que faremos com você. — Tobias respira fundo e fala como se tivesse total controle de toda a situação enquanto tenta recuperar o controle de sua mão.
— Na verdade, eu fui mandada para proteger Jack, você foi só um contratempo infeliz. Ainda acho que eu deveria ter ido te deixar em casa quando tudo aconteceu. Por outro lado, considerei que Jack precisará de um amigo para passar por... Vocês sabem... este momento difícil.
Tobias parece estar prontidão para responder, mas interrompo.
— Por que eu precisaria de proteção?
— Existem pessoas más Jack, Kelly fez um bom trabalho em te esconder durante todos esses anos, entretanto inevitavelmente os problemas do meu mundo acabariam por bater na sua porta. Por isso, atacaram sua casa. Acho que Kelly pensou que poderia te proteger para sempre, esse foi erro dela, te amar muito para te deixar partir. Pobre Kelly.
— Você é um gênio da lâmpada, não é? Só isso poderia explicar. Deve ser por isso que Kelly sempre contava histórias sobre gênios para mim quando eu era criança. — Digo enquanto lembro de todas as histórias e músicas sobre gênios que eu nunca encontrava na internet mesmo buscando muito. Agora imagino que não eram histórias criadas por ela, tudo pode ser verdade mesmo.
— Mais ou menos. Ainda não sabemos porque mais alguns de nós nasce sem muitas habilidades. Esse é o meu caso. Mas respondendo sua pergunta: sim, gênios existem e é por isso que eu posso usar esse anel. É como se eu fosse um gênio defeituoso.
— Mesmo assim eu posso ter direito a três desejos? Preciso trazer minha mãe e as pessoas que estavam na casa ontem de volta. — Digo com a voz trêmula querendo me apegar a alguma esperança.
— É, se isso tudo que você diz é verdade faça isso. — Sugere Tobias.
— Não funciona assim. Existem certos limites que não podemos cruzar. Esse é um deles, infelizmente. Receio que nem mesmo os gênios lendários poderiam fazer isso. Desculpe Jack.
— Gênios lendários? — Questiona Tobias interessado.
— Sim, são os mais talentosos e brilhantes da nossa geração. Eles já fizeram tantas coisas incríveis e vocês nem devem saber, mas se não fosse por eles esse mundo já estaria com graves problemas. Ainda não entendo como esses humanos conseguem poluir tanto. A sorte de vocês é que periodicamente eles vêm aqui para reparar sua camada de ozônio. Vocês deveriam ter mais cuidado, sério. — Diz inconformada. — Contudo, eu adorei visitar Paris durante minha estádia na terra. Sempre quis visitar a cidade do amor. Meus pais sempre comentavam que Eleonora Prior, a minha preferida entre os gênios lendários, arquitetou o lugar todo em segundos, porém é claro que depois algum humano ficou com os créditos por todo o trabalho. De qualquer forma, Eleonora não se importa com essas besteiras. Ela já fez muitas coisas nesse mundo por diversão, criou 6 do que vocês chamam aqui de 7 maravilhas do mundo. Meu sonho é um dia ser como ela, o que é claramente impossível, já que eu nasci sem talento — Lembra, parecendo ficar triste.
— Ah, não fala isso. Eu acho que você pode conseguir ser o que quiser, você parece ter muito potencial. A gente pode sair um dia desses pra conversar melhor sobre isso e comer uns docinhos, mas só se você deixar de usar a aparência dessa velha e voltar a ser a menina bonita. — Diz Tobias esperançoso de que finalmente uma menina bonita aceite sair com ele. Claro que ele já tentou chamar todas da nossa escola, mas parece que nenhuma quer ser a namorada do Tobi-Mão-Louca.
A velha tira o anel e novamente dá lugar a uma menina da nossa idade.
— É claro que não vou sair com você, mas vou voltar a usar a minha aparência original, é mais cansativo do que vocês pensam manter um disfarce.
— Quero tentar. — Diz Tobias ansioso tentando pegar o anel emprestado.
— Não vou te dar o anel, você não conseguiria usar nem se tentasse por mil anos, mesmo eu demorei meses para conseguir fazer isso. Um simples humano sem sangue de gênio viraria pó se tentasse usá-lo. — Diz aparentando estar com raiva, como se isso realmente fosse um absurdo.

— Você apenas está com medo que eu consiga usar com perfeição o seu anelzinho na primeira tentativa. — Diz Tobias tentando provocar a garota.

— Olha aqui seu humano de segunda categoria... — A menina tenta continuar a discussão, mas eu interrompo antes que isso se agrave.
— Você ainda não nos falou o seu nome e para deixar claro ainda estou tentando entender isso tudo, porém não confio em você. — Falo.
— Como não confia nela bro? Ela acaba de mostrar todas essas coisas legais e parece que estava prestes a dizer que nós somos os escolhidos para uma parada sinistra. — Afirma Tobias.
— Olha aqui garoto, eu já disse que não estou aqui por você. Já começo a me arrepender da decisão de ter deixado você vir. Se eu fosse abençoada pela mana te mandaria para outro planeta agora mesmo. — Responde brava.
— Você parece ser meio temperamental gatinha, mas não se preocupe, eu ouvi falar que as grandes amizades ou talvez os grandes amores começam assim. Você já ouviu falar que os opostos se atraem? É algo muito recorrente por aqui.
A garota parece extremamente irritada, mas decide ignorar Tobias e passa a falar comigo, já que parece perceber que eu não estou convencido com sua história e preciso saber mais para decidir se acredito ou não.
— Meu nome é Wanda Makai. Sou filha adotiva de Algustus Makai. Alguns dizem que ele é o mais forte entre os lendários e eu não duvido. Seu talento é surpreendente. A maioria dos gênios, mesmo os mais fortes, são poderosos em dons específicos, como fogo, água, proteção, enfim existem diversos tipos de habilidades, contudo Makai é diferente, suponho que ele consiga fazer tudo que quiser com perfeição. Mesmo assim, nem mesmo ele foi capaz de derrotar o herdeiro de Filória. Só um herdeiro pode se igualar a outro e é por isso que precisamos de você Jack, pois você é o herdeiro de Rurik e seu destino é derrotar o seu inimigo ou ser derrotado por ele, infelizmente você não tem escolha. Nesse momento no mundo dos gênios, outra guerra está prestes a começar. — Lembra a garota enquanto sua feição muda para o que parece ser uma tristeza sincera.

Sempre fui bom em saber quando as pessoas estão falando a verdade e a angústia no olhar de Wanda parece me convencer. Agora já estou mais disposto a ouvir o que ela tem a dizer e colaborar se for necessário, mas claro tudo isso parece uma ficção e por algum motivo ainda não quero acreditar que ela diga a verdade, a minha vida sempre foi muito normal e agora é estranho imaginar que gênios realmente existam, por mais que as histórias de Kelly pareçam fazer mais sentido agora.
De longe o voo de um pássaro encantador chama a atenção de todos, Tobias por um instante parece se assustar.
— Uau! — Diz Tobias nostálgico
— É lindo. — Digo encantado com o pássaro que continua a voar em direção a rocha perto da lagoa que eu estava a poucos instantes.
O pássaro é fantástico! Se parecido com uma cacatua, mas é enorme do tamanho de uma pessoa e muito gordo, mas formoso como eu jamais tinha visto, suas penas revessam entre brancas e douradas e parecem soltar um brilho dourado que cai com o seu voo. Na sua cabeça penas grandes e douradas parecem formar um cabelo radiante que chama a atenção. Sua presença é tão cativante que por um instante pareço esquecer de todos os problemas e da dor da perda de Kelly que a todo instante apertava meu coração. É perfeito! Tudo que eu quero é ficar olhando durante todo o dia.
— Imaginei que ela fosse aparecer. Mesmo após todos esses anos, vê-la é encantador. — Diz Wanda sorridente ao ver o pássaro.
— Então você já tinha visto esse pássaro antes? — Questiono.
— Sim, na verdade você também a conhece, logo você entenderá.
O pássaro passa pela cachoeira e pousa na grande rocha, por um instante ele parece se alegrar ao olhar para mim, pois começou a pular e seu bico assumiu uma feição que eu poderia jurar que era um sorriso, porém imagino que só pode ser coisa da minha cabeça. Como estava distraído com o pouso não percebi que Wanda já estava se aproximando do pássaro e quando me dou conta ela já parece estar falando com o pássaro, como se fossem grandes amigos.
— Vejam só, todos esses anos e você não mudou nada, está radiante como sempre. — Admira Wanda. — Aproposito você deveria usar essa aparência mais vezes. — Fala com um tom sarcástico.
Wanda está carregando uma das jaquetas de frio que trouxe de sua ida a loja de estrada e parece usá-lo para cobrir a ave misteriosa. Por um instante viro para perguntar a Tobias se ele já tinha visto algum pássaro dessa espécie, se está em extinção ou apenas entender porque em todos esses anos eu nunca tinha visto algo assim, nem na internet e nem em livros de ciências na escola, mas agora Tobias parece que está em choque.
— É Malu. — Diz eufórico.
— O quê? Malu está morta, você sabe.
— O pássaro é a Malu.
Volto a olhar para a rocha da cachoeira e agora não tem mais nenhum pássaro. Wanda está abraçando uma Malu enfraquecida, coberta apenas por um dos casacos de Wanda.

Crônicas do Herdeiro de Rurik: O Rugir da Katana (Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora