Japonesa dos olhos azuis

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O silêncio tomou conta de cada metro quadrado do ginásio. Caroline mantem uma expressão de confusão e excitação. Ainda estou tentando reordenar minha respiração, Sara me fodeu tão gostoso e de forma bruta, estava com saudades disto. 

As vozes das meninas entrando no ginásio rompem o silêncio, me ponho de pé. Rotaciono meu corpo na direção de Sara, ela solta a guia da coleira e a guarda em sua bolsa. Caminho até o banco que está minha blusa, a pego e a visto. Sentir o tecido roçar no local em que Sara desferiu as batidas da corrente me fazem contrair de dor, não vou entrar na piscina hoje.

Volto meu olhar para Nakamura, seus olhos ainda possuem lágrimas. Ele sentiu pena de me ver apanhando? Por qual outra razão ela choraria? Sorrio e acinto com a cabeça para mostrar que as coisas estão bem. 

- Vamos. - Sara diz me fazendo voltar a realidade. 

- Está tudo bem, recomponha-se. - Digo para Caroline antes de ir até Sara.

***

As duas horas depois do que aconteceu no corredor de armários foram monótonas, o tempo não pareceu nem se quer passar. As três garotas de mais cedo no banheiro apareceram para treinar na piscina, o medo delas sobre mim era evidente, um delas estava com um roxo nas costas e a ideia de ser eu quem o fez me deixa inquieta. Posso ser banida na academia e não poder treinar nunca mais.

Caroline passou distante, evitou contato físico e visual. Isso me deixou duas vezes mais inquieta, Sara tinha que dar uma de durona que defende território logo agora? Ela nunca ligou quanto a outras garotas que eu fodia, por que com Caroline é essa atormentação? Devo evitar me sobrecarregar, isso me deixa agressiva e hoje não tenho treino para poder dissipar minha raiva. Só mais meia hora Manuela, você consegue, só mais meia hora.

- Você está longe, me fala o que tá pensando. - A tranquilidade de Sara me faz serrar os punhos.

- Você me da ordens em situações que envolvam prazer, que envolvam sexo ou preliminares maravilhosas. - Volto meu olhar para o dela. - Fora isso eu não tenho obrigação nenhuma de lhe acatar ordens. - Respondo firme, ela abaixa o olhar e vê meus punhos serrados.

- Manu, calma, se perder o controle você pode ser expulsa da academia. - Ela diz dando dois passos para trás. - E eu sei que você não quer isso. - A deixei assustada. Relaxo os punhos, tudo isso é culpa de ações da parte dela.

Olho para meu relógio, ainda restam vinte e cinco minutos. Busco Nakamura com os olhos, onde ela está? Me preocupo, busco novamente, nada. Como ela desapareceu rápido assim? 

- Você pode me ajudar em uma coisa? - Levo um susto com a pergunta vinda de uma voz diferente da de Sara. Ouço uma leve risada, olho para minha esquerda, que alívio, é Caroline.

- Você me assustou. - Digo levanto a mão sobre o peito, eu tomei um super susto. - Pode repetir o que disse? - Pergunto, não entendi ao certo o que ela perguntou.

- Você está aérea tem um tempão. - Nos encaramos por alguns segundos. Não sei o que dizer. - Perguntei se você pode me ajudar com uma coisa, você pode? - Ajuda-la? Que pergunta estranha, ela normalmente me faz pirraça.

-  Claro, do que precisa? - O que ela planeja? Isso me deixa sem saber o que fazer.

- Meu armário está emperrado, pensei que você pudesse me ajudar já que você é... É bem forte. - Ao fim de sua frase sinto meu rosto queimar, eu fiquei corada? 

- Sim, eu... Eu... Eu posso tentar te ajudar, vamos? - Digo já caminhando em direção as armário, meu rosto está queimando, com certeza estou corada. 

Eu fiquei com vergonha? Manuela o que aconteceu com você? Foco, tem que se manter presente, se mantenha presente.

- Não precisa caminhar tão depressa, Manuela. - A doce voz de Nakamura me trás de volta a realidade mais uma vez. 

Reduzo a velocidade de meus passos, o que está acontecendo comigo? 

Caroline me acompanha em silêncio, estamos uma lado a lado com a outra. Dobramos para o corredor de armários, Nakamura naturalmente sai na frente. Para minha surpresa, assim que chagamos em seu armário ela o abre sem nenhuma dificuldade. Não contenho uma expressão confusa.

- Desculpa, mais se eu não inventasse algo e te dissesse a verdade você não viria. - Ela explica em tom baixo, quase como um sussurro. 

Estou parada como uma estátua, não sei o que falar para ela pela primeira vez. A observo procurar algo em seu armário, o que ela planeja?

- Senta no banco, por favor. - Nakamura retira uma pomada do armário. Olho bem a embalagem, sorrio automaticamente, é a mesma que uso. - Do que está sorrindo? 

- Nada, só estou surpresa. - Respondo sentando no banco e abaixando a blusa para que ela possa ver minhas costas, mais não à tiro do corpo. 

- Céus... - Ela sussurra. - Está tão vermelho, que sorte não ter cortado. - O que ela pretende, por que ela vai fazer isso? Por que me ajudar? 

Silêncio. Eu não digo nada e ela se cala. 

- Vou passar, ta bom?... - A respondo balançando a cabeça.

Assim que ela toca um dos machucados meu corpo contrai, não era para estar doendo tanto. Com toques leves e gentis Caroline espalha a pomada por toda parte exposta das minhas costas em que havia um hematoma.

- Pronto... - Ela diz suavemente.

- Obrigada. - Respondo colocando a blusa novamente. Ela se levanta e vai guardar a pomada.

Eu quero perguntar tantas coisas para ela... Por que eu não consigo abrir a boca? Me sinto fora da minha própria personalidade.

- Isso realmente te deixa... Te deixa... Te deixa... - A encaro enquanto ela tenta montar sua pergunta, Caroline está corada. Ela volta seus lindos olhos azuis para os meus. - Desculpa, eu não deveria me entrometer no que não diz a meu respeito. - Ela desvia o olhar.

- Tudo bem, pode perguntar. - Digo.

- Isso te deixa com tesão? Apanhar? - Respiro fundo antes de responder a pergunta.

- Sim, é divertido quando meu sangue está quente. Me deixa muito molhada receber umas palmadas. - A respondo e vejo seu rosto se avermelhar. - Receber ordens também, inclusive se elas satisfazerem quem as ordena. Porém eu tenho um grande problema com agressividade, então é ainda mais excitante se alguma ordem envolver o uso da violência. - Seus belos olhos me olham surpresos. - Você me disse não entender como as ordens me fazem ser livre, mais é simples. - Me ponho de pé, ainda nos encaramos. - Eu gosto de ordens e quando as tenho elas me permitem ser quem eu realmente sou, isso me faz ser livre, Nakamura. - Caroline abaixa a cabeça.

- Você nunca vai parecer uma pessoa normal, não é mesmo? - De onde veio essa pergunta? Fico sem reação. - Ao invés de aulas de luta, deveria procurar ajuda psicológica. 

- O que? Você está me chamando de louca ou perturbada? - Serro os punhos, minha respiração acelera violentamente. 

Caroline me envolve em um abraço repentino, isso quebra instantaneamente toda a raiva que havia surgido.

- Não sua cabeça dura. - Ela continua a me abraçar. O que eu faço? - Estou dizendo que em seus olhos eu vi mais dor do que prazer, foi isso que me fez chorar. Você parecia me pedir ajuda. - Caroline solta meu corpo, mantenho meu olhar baixo, eu não esperava nada disso. - Não se preocupe, eu não vou contar o que houve para ninguém. - Ela diz isso e vai embora.

Sento-me no banco, o que acabou de acontecer? Eu não estou entendendo. " Você parecia me pedir ajuda ", essa frase está ecoando na minha cabeça, e o abraço... O abraço dela, ainda o sinto envolver meu corpo. Meus olhos se preenchem de lágrimas, por que isso está me deixando com vontade de chorar? O que você fez comigo, japonesa dos olhos azuis?    


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