Contrato - Parte I

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Natacha me acompanha em silêncio pela escada, esse silêncio está me deixando tensa. A cada degrau que subimos ela pressiona mais minha nuca, ela está com a pegada mais firme que antigamente. Sorrio balançando a cabeça. Natacha deve ter sua sonhada coleção de cadelas de raça que tento me dizia sonhar ter.

- Qual o problema? Você faz esse gesto de negação quando seus pensamentos te trazem uma resposta. - Depois de quatro anos ela ainda se recorda disso. Me mantenho em silêncio, ela não manda mais em mim, esse lugar pertence a Sara agora. - Te fiz uma pergunta, me responda ou vai fazer o que fazia antigamente. 

Ela para no último degrau da escada, eu já a subi por completa. O que eu faço? Não quero responde-lá, mais ela é tão severa que meu corpo me trai por anseio de seus toques.

- Um... - Meu corpo se arrepia. - Dois... - Natacha solta minha nuca com um empurrão, mais dessa vez, para a surpresa dela, eu não caio. Volto meu olhar para o seu, sua expressão de surpresa é acompanhada de um sorriso perverso. - Ora, ora, ora... Você mudou mais do que eu pensei... Três, cadelinha. - A observo subir o último degrau, meu coração está batendo violentamente. Como não a respondi tenho que tirar uma peça de roupa, o problema é que eu só estou com uma única peça de roupa. - Não me faça ter que mandar você fazer o que sabe que tem que fazer.

A encaro por alguns segundos antes de desviar o olhar. Mantenho o olhar baixo, não quero olhar para ela enquanto retiro minha camiseta. Tiro-a com rapidez, sem cerimonia ou gracinha, como acontecia antigamente. Jogo a camiseta no ombro e volto a fazer o caminho para o meu quarto, sinto meu rosto queimar, devo estar vermelha como um tomate.

Dou quatro paços e o silêncio ainda se mantem, que droga Natacha, fala alguma coisa. Paro de andar, respiro fundo antes de virar para trás. Sem muita pressa rotaciono meu corpo na direção dela, meu olhar ainda está baixo.

- Você vai ficar parada ai? Não tenho pretensão de conversar nua no corredor. - Assim que termino de falar levanto minha visão para os olhos de Natacha. Para a minha surpresa ela está corada e boquiaberta. - O que foi? Não faz essa cara... Não é a primeira vez que me vê nua... - Tento manter uma postura de controle mais sei que devo estar mais vermelha que ela.

- Uau... - Como ela pode responder só isso? - Você cresceu em todos os sentidos, Manu... Você está incrível. - Minha cabeça vai explodir de tão vermelha que devo estar. - Seus seios estão lindos, suponho que continuem firmes por conta dos exercícios que faz para alimentar seu narcisismo. - Natacha começa a caminhar em minha direção, o que aconteceu com minha coordenação? Não consigo me mover. - Como alguém como você desejaria alguém como Caroline? Ele teme a própria sombra, ainda é virgem, nunca ousou nem se masturbar... Ela é inocente, não deveria estar no seu cardápio. - O olhar dela devora o meu.

Respiro fundo tentando parecer calma. Ela está tão próxima que posso escutar sua respiração e sentir. Com os olhos ainda firmes em mim ela leva suas mãos  à meus seios, os apertando com extrema força.

- Aah... - Acabo soltando um baixo gemido. - Você não sabe nada sobre o meu cardápio, você nem se quer faz parte dele... Tire suas mãos de mim, eu não pertenço mais a você! - Afirmo com convicção retirando as mãos dela do meu corpo. - Se quiser conversar, vamos fazer isso no meu quarto. - Faço um pausa, agarro seu rosto com uma das mãos. - E isso não significa que vamos transar. - A encarro fortemente soltando seu rosto enquanto volto a caminhar.

- Mais nós temos um contrato. - Ouço a voz baixa dela e paro na porta do meu quarto, olho para ela. Natacha esboça um sorriso maldoso e confiante.

- Tínhamos. - Respondo entrando em meu quarto.

Meu Deus, como ela pode citar o contrato numa hora dessas? Ela quebrou uma regra importante, ela me deixou sem mais nem menos, além do mais ela queimou a cópia dela e jogou minha coleira fora... Tudo isso bem na minha frente. 

Sinto um aperto no peito, não me lembrava como doía a dor do abandono por alguém que considerava extremamente importante em minha vida. Em milésimo de segundos essa dor se torna raiva, eu odeio Natacha.

- Você não deve dar as costas á mim. - A voz dela faz meu sangue ferver ainda mais, serro meus punhos com força. - Não, você não quer fazer isso, abra suas mãos Manuela. - Minha respiração acelera violentamente, não consigo abrir minhas mãos. Não é certo machucar ela, mais meu corpo não me obedece, meus punhos querem amaciar o rosto de Natacha. - Manu, abra suas mãos.

A voz dela está ficando cada vez mais distante, eu estou entrando em uma crise, Natacha tem que sair do quarto o quanto antes. Eu desejo quebrar alguém, desejo bater nela até não sentir minhas mãos.

- Manu, eu não vou sair. Se colapsar em sua crise de violência você vai se machucar por não poder quebrar nada do seu quarto. - O que ela está falando? O som a minha volta está ficando tão baixo que não pude entender o que ela disse.

Meus pensamentos estão acelerados, sinto meu corpo começar a tremer, os sons a minha volta sumiram. Ela já saiu do quarto? Eu preciso me ferir antes de perder o controle, o que vou fazer? Eu preciso me prender, não, preciso perder a consciência por alguns minutos. Isso vai me reinicializar. 

- Manu, por favor abra as mãos! - Esses ruídos estão me incomodando, o que eles são?

A enorme vontade de quebrar algo está ficando muito latente, outra crise em um lugar inapropriado. Desfiro um forte soco em minha têmpora direita, caio instantaneamente, dessa vez eu aceite de primeira. Tudo está girando, as coisas estão embaçadas, agora posso ficar calma sem quebrar nada como da outra vez.

- MANU! - Agora ouço com clareza o ruído, é a voz de Natacha. Antes que eu apague sinto suas mãos segurarem meu rosto.     

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