Capítulo 14 - Lembranças

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- Depois de tudo que tinha acontecido na minha família, tinha ficado claro pro meu pai que as coisas não podiam continuar daquela maneira. Ele parou de beber, mas estava óbvio para qualquer um que tinha alguma coisa muito errada dentro de casa. Eu estava com medo de apanhar de novo ou de fazer qualquer coisa que prejudicasse todo mundo porque eu já acreditava que as coisas só estavam daquele jeito por minha culpa.

"A solução foi simples: orfanato. Hiashi me deixou numa casa de adoção para meninas e eu estava apavorada com a ideia de ficar em lugar como aquele, mas tentei me acalmar dizendo que as coisas lá seriam melhores do que em casa e chegou uma hora que eu realmente pensei que poderia ter uma vida melhor no orfanato... Grande erro."

- O que aconteceu? – As imagens na cabeça de Hinata não eram muito claras e ele não entendia direito o que via.

- Quando eu era criança eu era muito tímida, então nunca tinha sido fácil para mim me relacionar com outras crianças, não foi diferente quando Hiashi me abandonou. Como eu ficava muito isolada as outras meninas começaram a me chamar de estranha, diziam que eu tinha problemas e que por isso meus olhos eram diferentes... Crianças acreditam com facilidade até mesmo em suas próprias mentiras, então não demorou muito para que todas elas se afastassem com medo pensando que eu tinha alguma doença.

"Eu passei os primeiros anos no orfanato sem me relacionar com ninguém. Eu era uma criança que achava que tinha culpa na morte da mãe, que tinha sido abandonada pelo pai e que deixava outras crianças com medo. Eu me sentia como aquelas princesas amaldiçoadas dos contos de fadas, destinadas a destruir tudo que tocassem até que aparecesse um príncipe encantado para quebrar a maldição."

Naruto conseguia sentir a solidão que dominava Hinata quando criança, um sentimento pesado e forte demais para alguém naquela idade lidar.

- Você era só uma criança inocente. Não tinha nada de amaldiçoado em você.

- Mas não era o que parecia, não é? – As lembranças voltaram e ela continuou a falar. – Depois de alguns anos no orfanato, a instituição começou a passar por problemas financeiros e, para lidar com isso sem ter que colocar todo mundo para fora, eles fecharam o orfanato para meninos dessa mesma rede, a instalação foi vendida e eles foram todos para o prédio das meninas, que era maior.

"Poderia ter sido minha chance de finalmente fazer amigos, eu já tinha meus treze anos e poderia lidar melhor com essa situação, talvez pudesse até encontrar o príncipe que me salvaria da maldição na qual eu estava presa. Certo? Errado. Houve uma nova maldição, talvez disfarçada em forma de benção. Meu corpo se desenvolveu muito mais rápido do que o do restante das meninas e em proporções bem maiores do que o da maioria."

"Eu comecei a chamar atenção de um jeito que eu não queria. As garotas ficaram com raiva porque viam os meninos olhando para mim e sentiam ciúmes disso. Elas começaram a ficar ainda mais cruéis e se por um lado eu ouvia comentários maliciosos vindo deles, por outro eu escutava inúmeras ofensas vindas delas."

"Mas eu podia lidar com aquilo, pelo menos enquanto tudo se resumisse às palavras. Aos dezesseis eu comecei a chamar ainda mais atenção e os meninos começaram a não ficar satisfeitos em só me olhar e fazer seus comentários estúpidos. Foi quando eles começaram a me pedir coisas... Beijos, carícias, me pediam para deixá-los me tocar ou para tocá-los. Eu negava, claro, mas um dia um dos meninos decidiu que não valia a pena respeitar minhas decisões e me atacou no meu dormitório. Como eu ficava sozinha o tempo todo não foi difícil para ele encontrar um momento propício..."

A cena ainda estava clara na memória de Hinata, ela lia um dos livros que ficavam disponíveis para as crianças, era um de seus favoritos e ela já o tinha lido ao menos cinco vezes antes. Estava distraída, concentrada em uma das partes mais importantes e emocionantes da história. Ela não tinha visto aquele garoto chegar, só soube que ele estava no quarto quando sentiu a mão dele cobrir sua boca, vindo de trás, e virando-a em seguida para que pudesse vê-lo.

O Pecado do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora