A chuva caia forte do lado de fora da casa de Hinata, provocando um som calmante ao bater contra o telhado. Em um outro dia ela provavelmente ficaria na varanda do quarto, apreciando as nuvens carregadas e sentindo-se relaxar por aquele mesmo som acompanhado do cheiro característico que a chuva sempre trazia consigo.
Já se faziam quase duas horas desde que deixara Naruto na porta da boate, a chuva tinha começado pouco antes dela chegar em casa e a acompanhava em sua espera pelo loiro até àquela hora. Enquanto ele não chegava já havia providenciado um banho quente e um café, tinha lavado as vasilhas e arrumado uma bagunça invisível na sala. Tudo na expectativa de ver o tempo passar mais rápido.
Acompanhada de uma xícara de café fumegante ela finalmente aquietou-se no sofá, aconchegada debaixo de um cobertor grosso, estava frio mesmo na casa fechada. A televisão exibia um filme qualquer pelo qual ela não se interessara em prestar atenção, estava ligada apenas para que fingisse estar distraída com algo que obviamente não estava, até mesmo o som do aparelho estava baixo, quase inaudível em comparação ao barulho da chuva. Hinata percebeu que não se importava, o som da água caindo a ajudava a pensar melhor que qualquer trilha sonora de mais uma das grandes produções Hollywoodianas.
Quando finalmente a porta da sala se abriu, tomando-a em uma surpresa rápida, ela não soube se havia cochilado enquanto esperava ou se estava apenas tão perdida em seus devaneios que perdera por completo a noção de onde estava. Ao perceber a caneca ainda pela metade em sua mão concluiu que havia sido a segunda opção.
Naruto não aparentava estar voltando do temporal lá de fora, seu corpo e suas roupas estavam completamente secas, mas Hinata não se surpreendeu. O fato de ele estar ali, em carne e osso naquele momento, não significava que ele estivera assim nos segundos anteriores ao abrir da porta. Conhecendo-o como o conhecia, sabia que ele só se dera ao trabalho de entrar pela porta para anunciar sua chegada, ele poderia muito bem ter surgido em qualquer cômodo sem provocar barulho algum, mas isso talvez a deixasse um pouco irritada. Hinata estava cansada de vê-lo fugindo das conversas, estava o esperando por um motivo e não queria ter a sensação de que ele continuava fugindo dela.
Quando Naruto se sentou ao lado de Hinata no sofá, esperou que ela lhe dissesse alguma coisa, que fizesse uma série de perguntas e que até o acusasse de ser um idiota ou coisa parecida, mas ela não disse nada. O silêncio se prolongou entre os dois por longos minutos, era como se não soubessem o que falar. Hinata se sentia ridícula por isso, passara os últimos dias querendo uma conversa com Naruto e agora que ele estava lá, pronto para ouví-la, ela simplesmente não encontrava a voz ou as palavras que queria usar.
- Hina? – Ele a chamou finalmente, fazendo-a encará-lo pela primeira vez desde que chegara.
Quando Hinata fitou-o nos olhos viu nos orbes azuis uma profundidade de preocupação e ansiedade que normalmente não estavam lá. Naruto parecia bem, mas seus olhos denunciavam um cansaço gigantesco. Ela esperou que ele lhe dissesse mais alguma coisa, mas ele apenas tomou de sua mão a xícara abandonada e, após deixa-la sobre a mesa, esticou-se para envolve-la em seus braços. Hinata não resistiu ao gesto e deixou-se ser abarcada pelo abraço delicado, sabia que era uma ação ainda complicada vinda dele.
- Me desculpe. – Ele pediu sem a soltar. – Por tudo.
- O que aconteceu com você? – Ela perguntou ciente que as lágrimas desciam por seus olhos, estava cansada de contê-las.
Naruto suspirou, soltando-a. Era o momento de ser sincero com Hinata, o máximo que conseguisse, então a encarou sem saber por onde começaria. Apesar de saber que aquele momento chegaria ele não tinha um discurso ensaiado para ela, apenas deixaria as palavras correrem e tomarem sua própria direção.
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O Pecado do Anjo
FanfictionNum mundo de corações partidos é comum perguntar a alguém sobre o amor e ouvir sobre decepção. Num mundo de relacionamentos cada vez mais superficiais é comum amores rasos, impossíveis de se jogar de cabeça. Num mundo como esse seria impossível o fl...