Da janela larga, na torre mais alta do Castelo Drácula, Wilhelmina tinha a visão mais privilegiada da Transilvânia. Não havia grades, cortina ou um batente de madeira. Tampouco era necessário. O que ela faria? Tentaria fugir por ali? Mina olhou para baixo. Mesmo se saltasse, conseguisse escapar das pedras e ter a sorte de cair no fosso, a queda de mais de cem metros a mataria.Ela tentou se livrar dos pensamentos horríveis sobre aquela morte, voltando a observar a vista. As montanhas altas e pontiagudas erguiam-se sobre a névoa como se brotassem de um manto de algodão. Não era possível ver a base montanhosa dali de cima, o que lhe dava a impressão, às vezes, de estar no céu. Que ironia.
Um vento gelado jogou seus cachos escuros para trás e ela cerrou as mãos sobre o colo. Como estaria seu pai? Ele tinha lenha o suficiente para enfrentar aqueles dias frios? E os seus amigos, estariam bem? Estariam vivos?
Ao final do horizonte, era possível notar, com certa dificuldade, que o sol estava se pondo. O astro passara o dia inteiro escondido pelas nuvens baixas, mas agora, o pouco de luminosidade que sobrara desaparecia. Logo a noite chegaria e, com ela, suas criaturas.
Mina observou a passagem do tempo praticamente imóvel, mas seus pensamentos estavam agitados. Ela pensava sobre seu futuro e até onde ele se estenderia, afinal, qualquer pessoa com senso temeria a realização de que a sua vida — bem como o fim dela — está nas mãos de outra pessoa.
Ela não notou quando o sol finalmente desapareceu e tampouco ouviu os passos no corredor. A pesada porta de madeira foi aberta com um rangido e ela ficou em pé, alarmada. Seu visitante, um dos criados, era um homem baixinho e um tanto corcunda, o lado esquerdo do rosto ficava permanentemente inchado, como uma ferida que não cicatriza.
— O mestre gostaria de vê-la, senhorita Mina.
Chegava a ser surpreendente como ele fazia questão de pedir, como se aquilo fosse um convite que Mina pudesse recusar. Ela respirou fundo, passou as mãos frias pela saia do vestido e seguiu o criado pelos corredores do castelo.
A câmara estava quente e aconchegante graças à enorme lareira. A ideia do frio atroz do inverno estar apenas a uma parede de distância soaria irreal, não fosse por seu visitante envolto em peles grossas de urso e pelos brancos salpicados em seus ombros e cabelo. Lótus segurou e observou por alguns segundos o frasco vazio que Rohan lhe deu e, com um sutil suspiro, o colocou sobre a mesma mesa a qual seu corpo se encostava.
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Do Inferno
General FictionO vilarejo de Pitești enfrenta ameaças sobrenaturais há anos, mas os humanos encontraram formas de se defender e se orgulhavam de jamais terem precisado de ajuda externa para lidar com as criaturas. Até uma série de tragédias abater a cidade. O sequ...