Contos: Drácula e Zaharina

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Ele a conheceu quando ela acabara de completar treze anos. Era uma criança, e por isso, Drácula não tomou qualquer interesse pela sua existência. Ele só lembrava de um pequeno detalhe: Zaharina tinha longos cabelos ruivos presos em dezenas de tranças com fitas grandes demais, que voavam de um lado para o outro enquanto ela saltitava.

 Ele só lembrava de um pequeno detalhe: Zaharina tinha longos cabelos ruivos presos em dezenas de tranças com fitas grandes demais, que voavam de um lado para o outro enquanto ela saltitava

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Kyustendil, Bulgária, 1497.

O senhor feudal e nobre Nikolai Sokolov era conhecido e respeitado por todos: um homem de porte distinto e sério, alguém que notadamente vivia para seus negócios. Muitos de seus vassalos diziam que o bigode espesso e vermelho do homem conferia-lhe poderes sobrenaturais para farejar de longe uma boa empreitada e ora, se você visse a extensão das propriedades e dos bens do homem, com certeza concordaria com essa sandice.

Mas não importa o que diziam, o bem mais precioso do homem com certeza era a sua filha mais velha, Zaharina. Não que ele próprio achasse isso, ah não, seu único interesse pela filha jazia na primeira oportunidade que teria para empurrá-la para um nobre rico. Ele até já tinha várias opções. Por falar nelas, um deles acabara de chegar em sua propriedade: Conde Drácula. Nikolai conhecera o Conde há onze anos em um baile que reunira pessoas importantes da Romênia e da Bulgária, mas não prestara muita atenção ao sujeito na ocasião. Recentemente alguns boatos a seu respeito chegaram aos ouvidos do senhor Sokolov, ao que parecia, o Conde era podre de rico e um dos únicos nobres romenos que não temia o avanço dos turcos. As pessoas diziam que enquanto Vlad Drácula estivesse com eles, não havia porque temer os otomanos. Aquilo impressionou o senhor Sokolov, que, mesmo em meio àquele caos e instabilidade, pensava em novas formas de engordar os bolsos. É claro que o nobre romeno sequer desconfiava que aquele era o objetivo de Nikolai, tinha sido convidado até ali sob o falso pretexto de conhecer o sucessor de Sokolov, que passaria a administrar os bens da família no ano que vem.

Era de conhecimento comum que o Conde Drácula não estava procurando por uma esposa, ele sequer era visto saindo de seu castelo ou falando com seus vassalos e demais nobres. Inúmeros boatos rondavam a sua misteriosa figura: alguns diziam que ele era um velho de 150 anos que se recusava a morrer e tinha olhos brancos, outros diziam que era a imagem cuspida de seu imponente pai e, por fim, outros diziam que Vlad era o seu pai. O único boato que interessava ao senhor Sokolov era o capital invejável do Conde.

Ele estava sentado confortavelmente em sua poltrona na sala de visitas, com os filhos em pé atrás dele. Marko, o mais novo, mantinha o queixo empinado e orgulhoso, enquanto Zaharina olhava entediada por uma janela e fazia questão de bufar a todo instante.

— Calada, Zaharina. — Seu pai ordenou e ela só bufou mais alto. Nikolai virou o corpo e ergueu a mão para lhe acertar uma bofetada quando a porta se abriu e um de seus vassalos introduziu a chegada do Conde.

E vejam só, ele não tinha 150 anos. Era um homem cheio de classe e com aquele porte que só os nobres tem. Suas roupas com certeza custaram uma fortuna e ele parecia vestido para impressionar, mesmo que sua expressão fosse de total seriedade e monotonia.

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