Eu nomeio minha encadernação

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Dois meses namorando o garoto que eu gosto. É algo estranho, é fofo, ao mesmo tempo é bizarro, mas também é misturado com algo fofo.
- Laura - sussurrou a vó ao fundo.
A garota não sabia o que pensar, como apresentar para os pais, só a vó sabia e mesmo assim ainda desconfiava.
- Laura.
Mas e se...
- Laura - a garota saiu dos seus pensamentos com um tapa de leve na nuca.
- Oi, vó. Desculpa, tava distraída - Laura pegou a tesourinha e voltou a podar o bonsai.
- Não se distraia tanto, são plantas sensíveis, garota - a vó usava um óculos fundo de garrafa, cinco graus em cada olho. Parecia um telescópio focada nas pequenas árvores.
- Não tem uma pesquisa comprovando a violência com essas plantas?
- Uma vez ou outra aparece - a vó cortou um galho minúsculo. - Criação humana, mudança genética e mais essas coisas. Mas, tem algo unânime.
- O que é?
- Elas relaxam bastante - a vó soltou uma risadinha.
- Isso é verdade.

Após algum tempo ajudando a avó, lanchando, conversando sobre a vida e a universidade. Laura dormiu pela parte da tarde, quando acordou, viu uma recado na geladeira:

Oi, dorminhoca, fui à minha aula de Pilates.
Volto às 21:00
Tem enroladinho de salsicha no microondas
Beijos

PS: Um pro Outono também.

- Como assim beijos pro... - Laura olhou o celular viu que eram 15:10 horas. Como faltou professor pra ela, estava com a tarde livre e lembrou que o namorado saia nesse horário. - Aquela velha inteligente.
Laura ligou para Outono, eles demoraram pra se acostumar com ligações, mas depois de um tempo tornou-se natural. Mal trocavam mensagens.
- Fala, coisa feia - gentil demais.
- Não vou falar então.
- Boa tarde, meu amor. O que me traz o prazer de vossa ligação? - ela adorava esses mimos sem graça.
- Então... A vovó, quer vir aqui em casa assistir algo ou sei lá, conversar... Bem pertinho da minha boca? - ele rio longe do telefone.
- É uma boa proposta. Ela volta que horas? Porquê tô fazendo pão caseiro.
- As nove... Deve dar tempo pra massa inchar.
- Laura.
- Oi?
- Tu não sabe cozinhar.
- Olha, se for pra humilhar eu vou desligar. Taokey? - ele deu mais risadas.
- Chego aí em 20 minutos, gata.
- Sem atrasos, idiota.
- Mas é meu charme, tchauzinho.

Laura deu uma geral na casa, rápida e escondendo algumas roupas que estavam jogadas pelo chão. Devem pensar: "Nossa, se ele te ama, deveria gostar da sua bagunça". Outono amava ela, mas tinha TOC subclínico, vivia a vida plenamente, mas pequenos detalhes o incomodava.
Nas primeiras duas semanas de namoro, houve uma vez a qual Laura esqueceu de ajeitar a alça do sutiã, o garoto ficou horas em desespero interno, só falou no outro dia por mensagem.
Campainha toca.
Ela vai saltitando para abrir.
- Olá, belo senhor - gentilmente a porta revela outono com os braços cruzados apoiando algo.
- Oi - ele responde.
- Quack - o patinho também.
Ela encara aquela cena e sorri em choque.
- Eu posso explicar - ele queria muito rir.
- Entra.
Outono e seu amiguinho amarelo vão em direção a sala para se sentarem no sofá.
- AAAAAA não - Laura interrompe sua bunda a meio centímetro do sofá - pro quintal, não quero cocô de pato aqui dentro.
Os três foram para o quintal, cheio de plantas, árvores e uma área pra almoço em família com uma mesa de madeira gigante.
- Põe ele aqui - Laura fez um ninho com uns panos velhos.
Outono deixou a ave pequeninha lá, que se acomodou e dormiu.
- Ele é muito fofo.
- Você é um idiota - ela ponderou - é um ladrão idiota.
- Eu não roubei, ele tava no meio da rua.
- Sério?
- Na calçada.
- Outono???!!!
- Quê?
- Você roubou um pato.
- Mas ele é tão fofo, vou levar pra casa, a mãe vai adorar.
- E seu pai?
- Também, ele tem um papagaio que vive lá no quintal de casa.
- Oh céus.
- Qual é? Olha pra ele.
Ambos encararam aquela coisinha fofa dormindo.
- É realmente fofo - ela admitiu.
- Podemos cuidar juntos.
- Um pato sempre foi minha meta de relacionamento.
O momento da encarada silenciosa, ambos observando os lábios um do outro e então um beijo, calmo, o suficiente pra sentir o toque da pessoa.
- Eai, o que vamos fazer agora?
- Continuação de filme de terror bem ruim?
- Você leu minha mente - ele deu outro beijo nela e ambos correram pra sala.
- Espera - Outono segurou ela. - E o patinho?
- Vou buscar o notebook, daí a gente assisti alí na rede.
- Você é a mulher mais perfeita do mundo.
- Eu sei, já volto.

Após uma tarde consumindo animações, filmes duvidosos de terror e alguns chamegos. O novo animal de Outono acordou e começou a chamar atenção.
- Acho que vou levar ele pra casa, vai que tua vizinha aparece aí.
O garoto se levantou da rede todo desajeitado e foi acalmar a ave.
- Mas...
- O quê?
Laura ficou sem graça e meio irritada.
- Achei que tu iria dormir aqui hoje. Vai embora com o teu pato roubado?
Outono espirrou.
- Saúde.
- Obrigado - e fungou baixinho. - Não quero arrumar problemas, bem, então depois eu venho.
- Qual é, Hernan?
- Não me chama disso - poderia ser uma advertência de raiva, mas ele achou engraçado.
- Sério que quer pra uma próxima?
- Sim. Pode ser amanhã?
- Pode, mas não sei se vou tá igual tô hoje.
- Como?
Laura trocou o peso dos pés e sentiu um frio subir a espinha. Estava envergonhada, ela era tão transparente quanto água e Outono notou isso.
- Ah, qual é? Não pode me chantagear assim.
- Um pato - ela apontou para o filhote que estava adorando as carícias do garoto. - Acha que não posso apelar?
- Espera eu ligar pra alguém em casa cuidar dele? Daí tipo... A gente pode banhar juntos, suei vindo pra cá.
- Sério?
- Juro de mindinho.
- Okay.
Outono ligou duas vezes e sua mãe atendeu, convenceu ela de que o patinho séria o maior investimento em fotos, vídeos e coisas do mundo. Ela passou pra buscar e foi embora logo em seguida com o novo membro da família.
Voltando pra dentro da casa de Laura, o garoto não a viu por perto.
- Laura?
- No quarto.
Ele foi até lá e a viu bagunçando o guarda roupa.
- O que tu tá fazendo, doida?
- Caçando uma toalha pra tu, né? Ou vai se secar com a toalha de rosto?
- Bem...
- Você é uma criatura curiosa - ela mexeu mais um pouco - achei, toma - e jogou pra ele a toalha com uma Cinderela bem grande estampada.
- Hummm.
- Que foi? Bateu na sua masculinidade, gatão?
- Não, só que eu prefiro a Mulan...
Ela encarou aquele garoto desajeitado com nome esquisito e esqueceu o mundo ao redor.
- Ei.
- Oi.
- Eu te amo, Outono.



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