Depois de uma oração forçada que Outono apenas movimentou os lábios, era o momento do bate e volta familiar.
- Está maravilhoso como sempre, Senhora Bastos – Outono achou que elogiar a vó de Laura faria boa imagem dele.
- Obrigado, meu anjo.
- Falou seu nome de solteira pra ele, mãe? – Outono notou um certo complexo materno.
- Claro, me faz parecer menos velha – a senhora ajeitou o cabelo grisalho e rio para os jovens.
- Você vem com frequência aqui, Outono? – a mãe de Laura era sutil e dolorosa nas falas, tudo era ameaçador. Ela sempre gesticulava com um copo na mão, o garoto achava aquilo ridículo. Mas rir estava fora de cogitação.
- As vezes vindo do estágio e pra matar a saudade, mas isso de semana em semana – ele sentiu o ar escapar – as vezes duas.
- Sério? Acho muito legal vocês estarem indo devagar, seguindo seu tempo – a mulher passou a mão no braço do marido, aparentando muita felicidade e querendo que ele sentisse também.
- Sim, mãe, sem pressa, somos jovens e a senhora me ensinou bem – Laura sorriu internamente lembrando que havia transado com Outono no segundo encontro e raramente eles não estavam conectados.
- Desculpa ser intrusivo – a voz cansada do pai de Laura tirou todos de seus próprios pensamentos. – Mas você faz estágio de que?
- Escritório, não sei explicar muito bem, mas faço o básico de ajuda geral pra todo mundo. É bem entediante, mas ajuda a pagar o curso de culinária.
- Ora, você gosta de cozinhar? – o homem realmente demonstrou interesse, até parou de comer.
- Sim, ainda estou evoluindo, mas já consigo preparar coisas fora do cotidiano – ele gesticulou um pouco – ou pode se dizer "chique".
- Agora entendo o motivo de ter conquistado minha mãe.
- Fato, vovó adora a comida dele.
Mais vinte minutos de conversa, papo jogado fora, perguntas sobre o futuro, crianças, trabalho e afins. Outono teve que ir para casa, não aguentava mais toda aquela pressão.
Laura ajudou o pai e a vó a lavar a louça, enquanto sua mãe fazia uma ligação importante.
- O que o senhor achou dele? – passou um prato para o pai secar.
- Ele é um garoto gentil e engraçado...
- Não é? – Laura interrompeu animada.
- Mas – ele estendeu a mão e pegou outro prato – quero que você fique bem, filha, aproveite sempre pensando em si mesma.
- Obrigado, papai – a garota quase derreteu de felicidade.
- Espero que consiga convencer sua mãe – ele apontou por cima do ombro em direção a sala.
- Ela me assusta.
- Também me assusta. Mas a amo.
Laura terminou de lavar as mãos e foi em direção a seu confronto.
A mãe era uma mulher calma (as vezes manipuladora). Tinha engravidado aos 18 de Laura, muito, muito cedo para uma mulher tão sonhadora ser mãe. Isso criou uma parede entre ambas, fazendo Laura ser mais protegida do que amada.
Laura fez alguns barulhos para chamar a atenção da mãe assim que chegou a sala. Mas foi silenciada com um levantar de dedo, estava ocupada ao telefone.
A garota ouviu algumas palavras difíceis, xingamentos chiques e bastante coisa sobre dinheiro.
- Okay, quero resolver assim que retornamos – a mulher desligou o celular com um gesto robótico e com o mesmo gesto se virou para a filha. – Venha, sente-se aqui perto, sei que quer essa conversa.
Laura obedeceu como um cão adestrado.
- Vou direto ao ponto, você já tem 18 e vai entender bem – isso era assustador para a garota. – Não quero ser avó.
- Mas... Espera – a garota tentou raciocinar. – O QUÊ?
- Ah, também não gosto muito dele, seria mais justo deixarem isso de namoro pro futuro, já na universidade e bem estruturados...
- Mas nem a senhora foi assim.
- Não me interrompa.
- Sim senhora – e ficou quieta novamente.
- Não tire o foco do seus objetivos, Laura. Ele é só paixão de fases.
- Gosto muito dele e pretendo dizer que o amo no nosso próximo encontro, mas depende do seu veredito. Não quero criar confusão entre a gente, mãe – sentiu os olhos marejados e a garganta presa.
- Eu apoio, faz você feliz e preciso entender que tenho uma filha independente.
- SERIO?
- Sim, e seu pai iria me encher se não apoia-se. Não é?
- É sim – o pai espião saiu do esconderijo que usava para ouvir as conversas.
- Obrigado, obrigado, obrigado – a garota puxou o pai para o sofá e abraçou ambos com muita força.
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Escreva Isso
RomanceFelizmente a estação do amor, do romance e das flores chegou... Espera, não é primavera? Esqueça tudo que falei.