Climas tropicais são propícios a castiçais

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Quarta, um dia esquisito, meio curioso. Outono tentou vestir sua melhor roupa (uma calça, uma camisa cinza limpa e um Jiordan). Os poucos dias os quais haviam se passado, foram um completo desastre.
1°. Briga no estágio, quase ameaçado de demissão.
2°. Dois de seus três amigos foram embora por conta de uma empresa em outro estado. Sobrando apenas Elian.
3°. Laura criou uma espécie de treinamento pro encontro com seus pais, ela se irritou, ele tentou acalmar, ela se irritou mais e eles acabaram desistindo.
4°. Seu patinho já sabia usar o quintal como caixa de areia, Dodgers era um membro importante da família.

Barulho de campainha, Laura pediu licença para todos sentados a mesa para ir atender seu convidado tão importante.
- Você tá lindo.
- Eu tô atrasado - falou sussurrando.
- Relaxa, só a mesa tá arrumada - ela pegou ele pela manga da camisa - vem, entra.

- Espero que não estejam vestidos tão chique. Fiz essa montagem rápido e vim direto pra cá.
- Amor, você tá lindo - Laura era suspeita pra falar, gostava do garoto de todos os jeitos. - Vamos, hora de conhecer a família.
- Ai droga.
Laura conduziu o garoto meio distraído até cozinha, seus pais sentados juntos de um lado da mesa, na ponta ficava sua avó, como um tipo de matriarca.
- Hum, mãe... Papai - a voz da garota ficou trêmula, como se tivesse visto um predador.
Ambos se viraram saindo de uma conversa particular, os jovens não sabiam se estavam rindo ou planejando algo ruim.
- Ah, olá - a mãe foi a primeira a quebrar o gelo. - Finalmente nos conhecemos.
O pai de Laura ficou analisando de fundo, como um guarda costas.
- Sim, é um prazer conhecer a senhora e o seu marido - Outono apertou a mão de ambos e se retornou para o lado de Laura, ela estava protegendo ele naquele momento.
- Você tem um nome curioso, filho - a voz cansado do pai chegou até Outono.
- Pai??
- Relaxa - o garoto segurou o mindinho de Laura - tá de boas.
- Se esse assunto for sensível eu peço desculpas.
- Não, não, tudo bem. É um nome difícil de digerir, mas eu gosto.
- Mamãe também gosta dele - o homem continuou - quando me contou que Laura estava namorando, as maiores ressalvas foram para o seu nome.
Outono rio de nervoso, eles já haviam fofocado sobre ele.
- Por favor, Outono, sente-se com a gente - Laura não confiava tanto nessa bondade da mãe, ela era astuta, analisava o momento.
- Ah, bom, com licença.
Laura e Outono sentaram-se do outro lado da mesa, Laura frente a frente com o pai e Outono encarando a mãe dela, assim como ela havia pedido a garota antes dele chegar.

- Então - ambos sentiram o momento chegando, perguntas e respostas.
- Outono, querido - a vó gritou da cozinha - venha me ajudar com esse bolo de carne.
- Com licença, eu já volto - ele nunca ficou tão feliz em ouvir sobre bolo e carne.

- Vocês dois estão assustando ele - Laura falou com um pouco de raiva na voz.
- Como se estamos sendo gentis? - o pai questionou.
- Gentileza forçada? Qual é, pai? Seja natural.
- Então vou perguntar se ele usa drogas.
- Não tão natural.
- Estamos fazendo o que você pediu, meu amor - Laura sentiu de novo a habilidade da mãe de controlar o assunto. - Precisamos conversar com ele, saber se ele é bom o suficiente.
- Ele é incrível, mãe. Por favor, conversem normalmente.
- Podemos descobrir mais sobre ele? - o pai de Laura era sempre preocupado.
- Claro, ele não é difícil de falar. Mas não curte pressão.
- Interessante. Ele não teve aquela acusação de roubo no estágio? - Laura olhou desacreditada pra mãe.
- Já foi retirada, foi um cliente da loja.
- Isso é bom. Vamos perguntar apenas o básico, ele não vai precisar ficar na defensiva - Laura sabia que ele iria precisar da defensiva, sua mãe era uma ameaça.
- Prometem? Eu gosto muito, muito dele - Laura deixou escapar um sorriso.
- É perceptível - o pai dela era o menos agressivo, felizmente. - Tá sorrindo igual uma boba faz tempo.
- PAI!???
- Não caia na conversa do seu pai, ele fazia uma cara mais idiota quando começamos a sair.
- Intrometida - ele resmungou.
- Menti?
- Não - e deixou um silêncio para as duas.
- Uma coisa é certa, ele é bem mais bonito do que o seu antigo namorado.
- O Saulo? - Laura achou engraçado - Ele era um idiota e já faz dois anos... E também era bem feinho mesmo.
- Eu disse.

- Chega de papo - a avó de Laura invadiu a cozinha com o bolo de carne e Outono veio logo atrás com as outras coisas - vamos jantar.

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