Thorin estava sentado no trono que outrora tinha pertencido a seu avô. Ele não mostrava expressão, e parecia estar completamente alheio a tudo. Seu olhar se levantou ao ouvir o som de passos, e ver Dwalin andando firmemente em sua direção, com um olhar duro.
- Desde quando abandonamos o nosso próprio povo? - O anão parou em frente ao trono, e sua voz assumiu um tom suplicante - Thorin, eles estão morrendo lá.
Thorin parecia mal ter ouvido o que o outro lhe disse, enquanto seu olhar vagava, parecendo pensar em alguma coisa.
- Existem vários salões nessa montanha... - Ele começou, sem parecer ter real ideia do que dizia - Lugares que podemos fortificar, tornar mais seguros... Sim - Ele se aproximou de Dwalin - Sim, devemos mover o ouro mais para o subterrâneo, por segurança.
- Thorin, você não me ouviu? Dáin está cercado, será um massacre!
Dessa vez Thorin absorveu as palavras, mas sua expressão não se alterou.
- Muitos morrem na guerra. A vida é barata. Mas um tesouro como este, não pode ser avaliado por vidas perdidas. Ele vale todo o sangue derramado que gastamos. - Ele disse, num tom calmo e seco, como se não se importasse nenhum pouco com o que acontecia fora da montanha.
Dwalin não se moveu um centímetro, parecendo não conseguir acreditar no que escutava.
- Você está sentado nesses salões, com uma coroa sobre a cabeça. - Ele disse, em um tom triste - E mesmo assim, agora é menos do que já foi.
- Não fale comigo - Thorin respondeu - Como se eu fosse um mísero senhor anão... Como... Se eu ainda fosse Thorin Escudo de Carvalho. Eu sou o seu rei!
- Você sempre foi o meu rei, e você sabia muito bem disso. Não está vendo o que se tornou.
Thorin mal se movia, os olhos se desviando dos do anão a sua frente.
- Vá - ele disse - Vai embora, antes que eu o mate.
Com um último olhar de decepção, Dwalin se virou, e saiu.
...
Eu continuava lutando com toda a força que me restava, mas a sensação de que tudo aquilo era inútil me invadia.
Cada vez mais corpos se encontravam no chão, e nossos números caíam rapidamente. Aqueles homens não eram lutadores. Eram simples trabalhadores, que sustentavam a própria família com muito trabalho, e agora eles morriam um a um, sem nenhuma chance contra o número de inimigos.
Eu perdia as esperanças conforme a batalha avançava. Aos poucos, essa sensação me consumia. Eu não temia a dor e a morte, só desejava que pudesse fazer algo para que aquilo acabasse.
Eu tinha falhado, e agora todos iríamos morrer.
...
Thorin andava lentamente, olhando para o chão. O ouro derretido que tinham usado para tentar matar Smaug havia endurecido, formando um piso dourado, e brilhante. Era fácil se perder observando.
A mente do anão era uma confusão. Muitas pessoas, e lembranças passavam pela sua mente. Vozes ecoavam pela sua mente, de pessoas conhecidas. Era doloroso escutar aquelas frases familiares. Bilbo, Fili, Kili, Ballin, Dwalin, Aerin, Gandalf... E a sua própria voz. Palavras cheias de ódio, proferidas por sua voz. Mas não parecia ser ele. Não soava como Thorin Escudo de Carvalho.
Thorin caiu de joelhos, as vozes ecoando por sua cabeça, passando como lâminas afiadas por sua mente. E então, as vozes sumiram. Por um momento, ele se sentiu pior ainda com sua ausência, como se algo estivesse faltando. Uma dor profunda, como se tivesse perdido algo muito importante, e a culpa fosse sua.
E então, com um grande esforço, Thorin se levantou, com os olhos fechados. Não, ainda não estava perdido. Eles ainda estavam vivos, ainda estavam lutando. Ele ainda poderia impedir que aquela dor gigantesca se tornasse real.
O anão abriu os olhos. Sabia o que tinha que fazer.
...
Os anões estavam sentados em pilhas de escombros, ainda vestindo suas armaduras, suas armas pousadas e inúteis ao lado. Não diziam nada. Os sons da batalha que se desenrolava do lado de fora falavam por si. Todos estavam frustrados, e preocupados com os amigos e familiares que se encontravam lá fora, lutando.
E então, eles viram uma figura se aproximar. Um vulto, armado com uma espada, que se aproximava a passos confiantes. Assim que reconheceu o tio, Kili começou a se dirigir em sua direção, com raiva.
- Não me esconderei atrás de um muro de pedras, enquanto outros lutam a nossa batalha por nós! Isso não está no meu sangue, Thorin - Ele parou na frente do tio, desafiador.
Thorin o encarou, com seriedade.
- Não - Ele disse - Não está. Somos filhos de Dúrin. E o povo de Dúrin não foge de uma luta. - Ele sorriu para o sobrinho, o qual retribuiu.
Então ele passou por Kili, e se dirigiu aos outros.
- Não tenho o direito de pedir isso a vocês - Ele disse - Mas vocês me seguiriam uma última vez?
Um por um, os anões desembainharam suas espadas, sorrindo.
...
A batalha parecia perdida. Dáin havia recuado o que sobrou de seu exército para as portas da montanha, numa última tentativa desesperada de se agruparem e se defenderem. Mas os números dos orcs eram muito superiores. O anão sabia que era uma batalha perdida. Ele só não conseguia entender porque Thorin não tinha vindo a sua ajuda.
Os anões soltaram um grito de guerra ao ver o exército inimigo se aproximar, se preparando para um último esforço. Com mais uma corneta, o exército de orcs começou a marchar em sua direção, o som terrível se espalhando mais uma vez por toda a planície.
E então, outra corneta a respondeu. Por um momento, o exército de orcs estacou, procurando a fonte do som. E então, um grande sino derrubou a barricada que protegia a entrada da montanha, deixando um grande buraco no lugar.
E então a companhia de Thorin Escudo de Carvalho irrompeu pela abertura, numa formação em V, liderados pelo anão, com Fili e Kili ao seu lado. Com um grito de guerra, eles ultrapassaram o exército de Dáin, e correram em direção aos orcs.
Dáin soltou um grito, e liderou seu exército atrás de Thorin, seu coração novamente cheio de esperança. Uma nova investida poderosa atingiu os orcs, enquanto a batalha continuava, mais feroz do que nunca.
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A GreenLeaf #3
Adventure"A alguns anos eu era só uma garota normal..." A última parte da aventura dos anões. Finalmente! Smaug invadiu a cidade do lago. E enquanto toda a atenção de Aerin está nisso, as trevas se aproximam cada vez mais, conquistando espaço aos poucos. As...