EPÍLOGO

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  — Eivy! Não é assim que as coisas funcionam! Você tem que passar pelo luto do Matheus, mas isso não significa que tem que sair toda noite pra beber e ser inconsequente! Amiga, você já pediu demissão do trabalho, mesmo seu chefe negando. O que quer fazer com a sua vida? Você ainda tá aqui Eivy, precisa reagir! — Pela milésima vez, tentei convencê-la a parar com tantas saídas noturnas.

Eram sete e quarenta da manhã e ela acabou de bater em minha porta. Seu rosto estava completamente borrado de maquiagem pelo choro, cabelos bagunçados e cheirando a bebida. Desde que seu namorado faleceu há dois meses, ela não conseguiu seguir em frente. Voltou a morar com a dona Fernanda, sua mãe, porque não conseguia entrar em seu apartamento sem que se lembrasse de Matheus.

Resolvi passar mais tempo com ela naqueles últimos meses do que com qualquer outra pessoa. Minha amiga não estava nada bem.

— Eu sei, Cat... eu sei — resmungou cambaleando pelo meu quarto e se jogando na cama.

— Se sabe, por que continua?

— Não sei..., eu preciso esquecer ele. Não quero mais chorar. Ele morreu e me deixou aqui acabada, aquele desgraçado.

— Não fala assim, amiga. Não tem que esquecer ele. Só precisa aprender a ficar sem ele. Isso vai doer pra sempre. E não é a bebida e a curtição que vão acabar com essa dor. Você o amava, ele também te amava. Foca nas coisas positivas. Tenho certeza que o Matheus não ia gostar de te ver assim.

— Não mesmo... — com um sorriso tímido, ela se sentou. — Ele ia dizer que eu tô horrorosa com esse resto de maquiagem.

Sentei ao seu lado e segurei em sua mão.

— Por favor, Eivy, não desiste. Eu preciso de você, sua mãe também. Você só tem vinte e sete anos, tem tanta coisa pra viver. Eu tô aqui pro que precisar. — Cabisbaixa, ela fazia, com os dedos, um desenho imaginário no edredom.

— Foi mal, Cat. Tô sabendo que tenho sido insuportável...

— Eu te entendo, amiga. Não precisa se desculpar. Eu me preocupo com você, sabe?

— Eu sei. — ela inspirou fundo e me olhou séria. — Meu ex chefe me indicou a uma vaga de trabalho em Richmond, Virginia, lá nos estates. Ele tem um amigo que é um dos chefões de uma rede de hotéis por lá. Falou que seria bom pra mim ficar fora por um tempo.

— E você aceitou?

Para mim seria horrível se minha amiga fosse embora do Brasil, mas não poderia ser egoísta a esse ponto. Sei que faria bem pra ela recomeçar em outro lugar, longe de todas aquelas lembranças.

— Não, eu não respondi.

— Por que? Que eu saiba, você fala inglês muito bem. Sem contar que é uma ótima profissional.

— Mas... — ela se jogou na cama novamente e olhou para o teto. — Eu não sei, Cat. Não sei se devo.

— Se você for, vou morrer de saudade, óbvio — me deitei ao seu lado —, mas prometo que vou te visitar sempre.

— Sei lá. Deixar tudo e todos que eu conheço aqui..., ir pra um lugar onde não conheço ninguém. Não sei se é uma boa ideia.

— Eu sei — me virei para encará-la —, mas é uma ótima oportunidade pra você. Principalmente agora.

— Talvez seja... vou pensar.

— Certo. O que decidir, vou te apoiar — sorri para ela tentando passar confiança e segurança.

— Agora quero dormir, Cat.

— Fedendo desse jeito? Nem pensar! Vai tomar um banho, agora.

Ela choramingou tentando me convencer a não obrigá-la, porém é vencida pelo cansaço e se arrastou resmungando até o chuveiro.

A Minha Vez, Catharine - livro 1 completoOnde histórias criam vida. Descubra agora