— Ah, que merda! — berrei ao levantar e quase lançar ao chão a cadeira bege e acolchoada que usava para sentar em frente ao computador.
— Ei, ei... Que isso? TPM, gatinha? — Eivy entrou de repente em meu quarto e jogou a bolsa no chão. Se sentou na cama em seguida.
— Ai, amiga... — choraminguei correndo para o seu colo — , tô com bloqueio de novo.
— Vem cá... — ela imitou um tom de voz engraçado — O que aconteceu? Posso te ajudar em alguma coisa?
— O de sempre, né... Quando chego na parte do romance, da pegação mesmo, sabe? Eu acabo escrevendo sempre a mesma coisa, como se não tivesse mais criatividade. O livro tá sendo a cópia fiel do último que eu publiquei! Tá maçante, entediante...
— Como um livro de romance erótico fica entediante? Impossível! — ela riu.
Eivy sempre foi a mais entusiasmada entre nós duas. Com seu sorriso alegre e o rosto esbanjando juventude, ela sabia o que dizer em todas as situações, nem que fosse apenas um 'foda-se!'
Às vezes, me pego observando-a e sorrindo. Sei que pareço boba, mas agradeço todos os dias por ter uma amiga tão fiel... e linda também. Ela parecia ser uma pintura grega antiga com aqueles cabelos ruivos tipo labaredas e os olhos verdes grandes, que partilhavam da harmonia oferecida por suas sardas na região do nariz. Sempre brinquei com Eivy que pessoas ruivas são raras. "Talvez eu te venda algum dia!", dizia, enquanto ela se rendia aos risos. Sua companhia era importante demais para mim. Mesmo namorando, ela sempre conseguia um tempinho para ir até a minha casa ficar comigo. É o mais próximo de uma irmã que eu já tive. Esteve sempre presente nos piores e melhores momentos da minha vida. Arrisco a dizer que ela me conhecia bem mais do que o meu próprio pai.
Éramos amigas desde os meus seis anos. Ela era minha vizinha até um certo tempo, quando se mudou para seu apartamento no centro do Rio de Janeiro para ficar mais próxima do trabalho. Eivy era recém formada em Marketing e estava pensando em sair da casa de sua mãe, dona Fernanda. Eu, pelo contrário, em plenos vinte e seis, ainda morava com meu pai. Até cogitei ir embora algumas vezes, mas parecia que eu estava enfiando uma faca no peito do velho Jorge.
" Sempre fomos nós dois desde que sua mãe morreu!", "E como você vai se sustentar?", "Porque você quer me deixar sozinho?", " Essa casa é sua!"
Eu disse a ele mil vezes que conseguia me sustentar tranquilamente com o que recebia dos livros. O velho Jorge sempre soube que nunca me importei muito com os luxos que tínhamos em nossas vidas. Sempre gostei de coisas simples. Mas ele estava certo em uma coisa: aquela casa era mais minha do que dele. O homem trabalhava tanto que quase nunca estava. Havia dias em que eu nem chegava a vê-lo.
Às vezes, me sentia só. Passava mais tempo conversando com os empregados do que com ele. E, apesar do papo ser muito bom, nunca foi a mesma coisa. Sentia falta de algo..., algo que nunca tive ou experimentei direito. Uma mãe, quem sabe, ou irmãos e parentes próximos.
— No que tá pensando? — Eivy me arrastou de volta dos meus devaneios.
— Nada não..., só em como retomar minha história.
— Quer que eu te conte como foi minha noite com o Matheus pra você se inspirar? — ela questionou entusiasmada, enquanto se aconchegava melhor na cama.
Ela e o Matheus namoravam há alguns meses. Sinal de que o negócio era sério! Digo isso porque Eivy sempre foi de muitos namorados, ou como a prórpia dizia: 'Eu gosto é da pegação!'. Desde que conheceu Matheus em uma festa, porém, seu comportamento baladeiro mudou. Ela estava visivelmente caidinha por ele.
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A Minha Vez, Catharine - livro 1 completo
RomanceCatharine é uma escritora de romances eróticos, mas não possuí quase nenhuma experiência sexual. Após perder a virgindade com seu namorado de faculdade, ela criou um bloqueio que a impede de ter relações íntimas. As coisas começam a mudar quando o...