Capítulo 13- Uma Noite Como Esta

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Quando um vazio invade nosso peito, vemos-nos perdidos em meio à escuridão. O sol não brilha, o ar não te dá a mesma sensação de uma brisa gostosa, e seus passos são todos sem um sentido; tocar uma música não deposita todo o prazer suficiente em seu corpo, como se seus dedos estivessem congelados e sua mente travasse constantemente. Viver desse lado escuro do mundo não era bom.
Quando a solidão bate, é a pior sensação que nosso corpo pode sentir. Estar com muitas e ainda assim estar só; se matar de amores e prazeres, beijos perdidos em bocas jogadas, mãos que ilustram corpos deformados... não são flores. Iludem-se os que pensam que a vida cheia de prazeres físicos é uma maravilha. Pelo contrário, nunca estive em um poço mais fundo do que esse. A mente cansa, o corpo morre e leva a alma junto com ele. O escuro adentra à realidade, e não sai. Sorrisos verdadeiros não fazem parte do cotidiano, ter vontade de levantar da cama pelo menos é um objetivo inalcançável. Estava morto por dentro e morrendo por fora.
Mas havia tempos, desde New York, que eu não me sentia tão vivo como nessa noite.
Eu conseguia sentir, finalmente, o gosto do paraíso dentro de mim.
E eu estava fora de mim.
            Meu corpo se incendiou como nunca tinha feito antes. Meu coração palpitava forte, eu o sentia querendo pular para fora do peito. Eu tremia, minhas mãos tão experientes se viam perdidas em uma estrada de curvas e rampas prontas para serem descobertas, mas eu não sabia o que fazer. Parte de mim ansiava por aquilo há meses, e se pegava toda noite imaginando como seria a sensação de um dia beijar aquela bola; mas a outra parte de mim não sabia o que fazer naquele momento.
Amber se perdia em mim.
          — Espera — eu disse, tentando me desvincular dela. O que deu não deu certo. — O quê...
          — Cala a boca — Amber disse e me calou com um beijo.
          Suas mãos puxavam meu cabelo que caia na nuca, e seu corpo se debatia contra o meu a cada movimento.
          — Você não acha melhor, ahn,  a gente sair daqui? — assim que ela se soltou de mim, deixando apenas poucos centímetros entre nós, a Amber envergonhada e tímida voltou para seu lugar.
          Eu sorri, não acreditando no que estava ouvindo.
           — O show ja vai começar, então não sei se seria...
           — Foda-se
Sua mão agarrou a minha e me arrastou até uma sala vazia, apenas com um sofá destruído.
Eu sorria. Parecia estar em um sonho, mas minha imaginação nunca chegaria perto da verdadeira sensação de estar corpo a corpo com a mulher que me deixava fora de mim.
Nossas mãos se tocavam, nossas línguas dançavam em uma música lenta e saborosa; nossos corpos estavam em perfeita sintonia, e eu sabia que era certo.
Eu sentia o peito dela saltando; ansiava por aquilo como eu, a cada tempo que passávamos juntos a vontade só crescia. Minhas mãos permitiram-se deslizar. Descobri o que tanto procurei, andei por caminhos deslumbrantes e explodi de felicidade. Como era prazeroso estar em suas mãos.
             — Por favor, não me deixe esquecer isso — falei ofegante entre nossas bocas.
             — Nunca. — Amber agarrou minha nuca com seus braços e beijou minha orelha — E faremos questão de relembrar.
              As minhas mãos trêmulas pareciam se encaixar perfeitamente em sua cintura, e nossas pernas bambas se entrelaçavam como em um nó. O final triste se deu quando a chamada para o palco soou. As peles se descolaram e as mãos voltaram a esfriar, saímos do quarto vazio com um aperto, mas ao mesmo tempo com um sorriso no rosto: finalmente, o que muito esperei veio a acontecer, e agora não tinha mais volta, estava feito.

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Naquele show, eu estava mais feliz do que nunca. Nada mais importava do que estar ali tocando, e junto dela. Nunca tinha ouvido Amber cantar tão seriamente, e parecia que anjos estavam rondando meus ouvidos.
         Passamos o show. Foi um sucesso. O entrosamento foi mágico, parecia que tínhamos ensaiado durante dias, porque ficou tudo perfeito. Eu admito que tocar com Amber ao meu lado foi um pouco difícil no início, mas depois que seu sorriso tomava conta da minha visão, tudo o que eu podia colocar para fora eu coloquei, era como se existisse apenas nós dois, e o mundo inteiro podia se ferrar.
           Após o show, nos reunimos em uma área como sempre, e as reações foram ótima.

Selfish || Duff MckaganOnde histórias criam vida. Descubra agora