Capítulo 2- Mary, tire seus pés da minha cama!

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Ah, o arzinho gelado de London, como eu adorava esse clima. Meu café sempre me ajudava a lidar com o frio gostoso que eu sentia quando saia para trabalhar. As roupas mais estilosas eram, sem dúvidas, nessa época do ano. É um tempo bom para ficar deitada na cama sem fazer nada, mas eu infelizmente não tinha esse lazer disponível.

O vento um pouco agitado batia nas minhas janelas e deixava o meu quarto barulhento, o que estava atrapalhando a minha leitura de Lolita tarde da noite. Eu esperava um temporal naquela terça-feira, o clima estava tenso, um bom clima para ler um livro. O meu suéter que estava pendurado no cabideiro em frente à janela balançava de forma em que fosse derrubar o meu cabide; o lençol da minha cama, apesar de preso, fazia ondinhas ameaçando se soltar da minha cama. O frio tomou conta do meu quarto de certa forma em que eu bati meus queixos, o meu pijama não era muito quente, a solução foi fechar a janela - o que foi quase impossível devido ao vento puxando o vidro para fora.

A lareira da sala aquecia o meu quarto, expulsando o ar frio que morava em meu quarto. Já eram meia noite, eu estava quase perto de acabar o meu livro, mas o meu sono não me permitia concentrar na leitura formal e potente do papel; amanhã seria um dia complicado, eu teria de acordar cedo e ir até o aeroporto. Por Deus, como eu odiava as férias. Só pelo fato de que minha prima viria ficar dois meses inteiros em minha cidade, eu tinha vontade de entrar em hibernação, só Deus sabe quão irritante é aquela voz de Mary e o seu jeito de agir, como se fosse uma deusa. Mas, apesar de tudo, o carinho que eu tinha por ela era imenso. Nós nos divertíamos muito, e Mary me levava para as maiores aventuras de toda a minha vida, o que eu estranhava muito, devido a só ficar dentro de casa.

Eu fui criada por país rígidos, advogados, seguiam a lei como se fosse um estilo de vida; eu jamais fui permitida a sair de casa se não fosse para eventos escolares ou religiosos. Eu tinha que ter a nota máxima na escola, minhas atividades eram voltadas para a escola, o meu futuro dependia de mim e meus pais achavam que eu era incapaz de conseguir uma boa vida vivendo de um jeito, digamos, menos formal. Eu trabalho apenas como atendente em cafeteria, esse sempre foi o meu trabalho durante 21 anos – até quando era criança eu frequentava esse mesmo lugar –, e é o que me sustenta. Meus pais não me bancam, na verdade, acho que às vezes nem se recordam da minha existência, eu vivo com robôs da lei. Mas Mary me livrava disso de alguma forma. Ela era engraçada e totalmente extrovertida, ela me tirava de casa e me mostrava coisas que nunca tinha visto na vida, isso acontecia pelo fato dos pais de Mary serem tão liberais.

Por um lado eu queria isso, entende? Ser livre, poder fazer tudo sem as velinhas da igreja me julgarem, sair dessa vida parada e cansativa. Mas por um lado eu tinha medo. Mary se afundava nas drogas e isso a deixava muito mal, eu nunca vi graça nisso, e Mary me confirmava a cada dia que isso era um inferno na terra. Mas apensar disso, Mary conseguia ser uma pessoa excelente, eu a rotulava como a prima chata e legal que me liberta, sem dúvidas ela era isso tudo.

Meus olhos se fecharam e a luz escureceu, quando me dei conta, o relógio despertava na cabeceira da minha cama, me fazendo acordar.

O sol não era forte, típico de London. O tempo fechado do lado de fora me deixou por um instante com vontade de voltar a dormir, mas eu sabia que se eu voltasse ao me sono Mary ficaria furiosa e daria um jeito de cortar minha cabeça. Eu levantei, não estava tão frio quanto o dia anterior. Peguei um casaco e desci para tomar o meu café.

Rudolf estava sentado numa das cadeiras da mesa da cozinha lendo o jornal do dia com seu óculos apoiado na ponta do nariz, com um de seus cotovelos apoiado na mesa e uma xícara de café esfriando. Sua cara estava fechada como sempre.

— Bom dia. — eu disse seriamente. Eu duvidava que Rudolf me respondesse, quintas-feiras causavam um mau humor no meu pai.

— Bom dia, Susanne. — Rudolf não tirou os olhos do jornal para falar comigo. Ele só me chamava pelo nome do meio, eu odiava, mas não podia reclamar. — Está indo para o aeroporto?

Selfish || Duff MckaganOnde histórias criam vida. Descubra agora