Capítulo 10- Despedaçados

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Olá! Aconselho que leia, pelo menos, o final do último capítulo (se o leu há muito tempo) para refrescar a memória.
Aproveite!
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— Ah, meu Deus! Me desculpe!
Ele pareceu não se importar muito com minha presença.
— Você!
  Ele tinha lembrado de mim. Ah, Deus...
  — Você por aqui! Que... — pausa dramática... —estranho — ele riu.
  — É... — eu sorri de volta — Na verdade eu estou apenas de acompanhante.
Ele franziu o cenho.
— Acompanhante? — ele pareceu estranhar.
  — Sim, é... estou com minha prima — me expliquei — Ela gosta de festinhas assim — tomei um gole de minha bebida.
  — Entendi... — ele deu um sorriso de canto de boca e me encarou.
  Ficamos assim até alguém falar alguma coisa. Por Deus, que clima estranho era aquele?
  — Bem — ele quebrou, finalmente, o silêncio —, aproveite a festa. Eu vou ver o que aconteceu ali em baixo — e apontou para a escada.
Já ia descendo quando eu o voltei a atenção:
— Tudo bem, Senhor sem nome — enfiei o meu copo no rosto e abafei um risinho.
No mesmo momento ele se virou, também rindo.
Ele se aproximou novamente.
— E eu provavelmente não te disse meu nome...
— Provavelmente... — fingi que estava pensando, olhando para o teto.
Ele riu.
— Elliot, encantado.
Tendo pego minha mão, a levou perto de sua boca e a deu um beijo, lento e delicado, sem tirar os olhos de mim.
Minha pele na mesma hora se arrepiou. Como alguém conseguia me causar aquela sensação, eu não sabia, e não sabia por que especificamente ele me causava aquilo. Ele, que eu conhecia tinham poucas horas.
Ele soltou a minha mão e continuou a sorrir.
— Você vai ficar aqui ou quer descer? Acredito que não queira ficar sozinha.
Eu lembrei que Duff tinha me pedido para o esperar, mas o clima no andar de baixo não tinha melhorado e ele talvez não fosse voltar agora. Então, por que não?
— Claro! Vamos ver o que aconteceu lá em baixo — respondi, e o acompanhei, até chegarmos no lugar no acidente.
Tinham cacos de vidro por todo o lugar. O chão estava tomado de cacos, umas gotas de sangue, e alguns pedaços de madeira. Eu não sei por que, mas me preocupei na hora. Alguma coisa dentro de mim não estava certa.
Me distanciei de Elliot e tentei abrir passagem para ver o que acontecera. Não via Duff, não via ninguém conhecido. Mary tinha sumido. Por Deus, que nervoso!
As pessoas iam, devagar, se afastando e me abrindo passagem, até que, em um momento, avistei Duff no chão, com alguém em seu colo. O olhar das pessoas em volta era apavorante. Eu não entendia o que estava acontecendo, então comecei a ficar nervosa. Por fim, consegui abrir passagem e estava dentro do vazio círculo que tinha se feito.
Ali Duff estava com um garota em seu colo, uma garota desacordada, que estava, aparentemente, muito bêbada. Eu me aproximei, cheguei a tocar no ombro de Duff para perguntar o que tinha acontecido, até que, ao ver direito quem estava nos braços dele, desacordada, meu corpo parou.
Meu braços congelaram e meu copo caiu de minha mão sem dificuldade nenhuma. Da ponta do meu pé até o mais alto de minha cabeça estava tremendo. Tremendo de medo, de nervoso, de preocupação. Mary estava praticamente morta ali, com um rasgado enorme em seu peito, que ia de um ombro até o outro. Tinham cacos de vidro lá dentro, era visível, até mesmo de longe. Era fundo; era feio, era apavorante, parecia ter sido rasgada por algo bem mais bruto do que um vidro.
E eu não conseguia fazer nada. Eu via, de alguma forma, Duff tentando chamar minha atenção, mas era inútil. Sabe quando você para no tempo e não consegue fazer absolutamente nada? Eu estava assim. Eu não sou, definitivamente, o tipo de pessoa que, em meio ao caos, é rápida e ágil; eu sou lenta, e fico apavorada de uma forma que meu corpo congela, exatamente como eu estava ali, vendo Mary jogada no chão, banhada por sangue.
Minha cabeça parou, meu pensamentos pararam e meu corpo também. Até que, de alguma forma, eu estava dentro de um carro, com alguém dirigindo e nos levando a algum lugar. Para onde? Eu não sabia.

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  Quando voltei à realidade, estava no hospital, em uma sala estranha, com Duff sentado na cadeira ao meu lado. Eu estava voltando aos poucos, mas, ainda assim, o choque era grande.
  — O que aconteceu?
  Duff pareceu se assustar com minha voz, mas ficou feliz ao ver que eu estava sã. Ele saltou da cadeira e se ajoelhou em minha frente.
  — Ei! — ele disse, com um sorriso no rosto — Você está bem?
  — O que aconteceu? — repeti minha fala, sem o encarar, olhando para o nada.
  Duff pareceu engolir seco antes de falar.
  — Mary sofreu um acidente. Não sei se você se lembra
  — Lembro — interrompi a fala dele.
  — Izzy nos trouxe ao hospital — ele concluiu, se sentando novamente.
  Eu finalmente o olhei. Mas não queria. Não queria porque sabia que ele sentiria pena de mim, me abraçaria, e me faria chorar enquanto tentava me acalmar. Minhas mãos tremiam, o meu corpo tremia por inteiro. Eu só conseguia pensar no pior.
  — Como ela está?
  Ele pensou antes de falar.
  — As enfermeiras a levaram assim que chegamos. Não sei como ela está.
  Meu olho se encheu d'água.
  — Tudo bem — prendi o choro enquanto encarava minhas mãos.
  — Ela vai ficar bem, tenho certeza disso.
  Duff tentava me acalmar. Ele era uma pessoa boa por fazer isso, mas ele não sabia que o efeito era contrário: quanto mais calma, mais desesperada eu ficava.
  — Há quanto tempo estamos esperando?
  — Uma hora e meia, mais ou menos.
  — Ah — suspirei por choque. Uma hora e meia. Eu não aguentaria ficar esperando nem mais um minuto.
  Eu estava calma por fora, não fico gritante em situações assim, mas o meu exterior implorava por gritar, sair por aquela porta e procurar Mary.
  Eu precisava me distrair.
  — Aonde estamos? — eu me virei totalmente para Duff, esperava que ele me entretivesse.
  — No hospital — ele olhou ao redor da sala, como se fosse óbvio.
  — Não estamos na sala de espera.
  — Eu pedi que nos botassem em um lugar isolado, por causa de você. Imaginei que não fosse gostar de barulho.
  Ah.
  Eu sorri.
  — Imaginou certo.
  E ele me devolveu o sorriso.
  — Como você está, agora? — ele me perguntou, segurando minha mão.
  — Acho que melhor. Não totalmente bem.
  Ele balançou a cabeça, afirmando.
  Entre uma frase e outra que falávamos era um silêncio. Ficava um silêncio extremamente estranho. E eu não sabia por quê. Nosso diálogo era: pergunta, resposta, e nada mais. Estava estranho, mas não tinha como mudar. A situação era tensa em qualquer lugar daquele hospital.
  — Como foi que aconteceu?
  — Eu não sei — ele me olhou, com sinceridade — Estava lá em cima com você, lembra?
  — Ah, sim — lembrei-me — Certo — pausa extremamente tensa — Mas ninguém te contou?
  — Falaram que ela estava dançando em cima da mesa. E, pelo visto, foi mesmo.
  — Irresponsável — falei para mim, mas Duff ouviu.
  — Por que não tenta esquecer isso um pouco?
  Eu ri abafado, de ironia.
  — Como? — perguntei. Eu sinceramente queria saber.
  Duff pensou, pensou e pensou...
  — Você gosta de pão?
  Anh?
  Eu o olhei. Franzi o cenho. Ele parecia certo do que tinha perguntado. E então caí na gargalhada.
  — Duff! — eu disse em meio a risos.
  — O que foi? — ele também estava rindo — Eu só perguntei se gostava de pão!
  — E isso é pergunta que se faça agora? — eu olhei com um ar um pouco brincalhona para ele.
  — Você não queria se distrair? — ele disse, e eu tive de concordar. Era uma ótima distração.
  — Só você pra me fazer rir em meio a isso.
  — Dizem que meu ingrediente secreto é ser engraçado — ele falou em um tom debochado — Acho que agora eu percebi que era verdade...
  — Só agora?
  — Esquece isso — ele riu e se encostou na cadeira.
  Ficou olhando para o teto, pensando em alguma coisa, enquanto ainda segurava minha mão.
  Eu me apoiei no braço da cadeira, para tentar ficar mais próxima.
  — No que está pensando? — perguntei, já mais descontraída.
  — Em você — ele foi direto.
  Eu fiquei vermelha de vergonha. Em mim?
  — Por quê? — franzi o cenho. Eu realmente não tinha entendido.
  — Há uma semana atrás você não estaria assim comigo como está agora.
  — Rindo?
  — Deixando-se ser conquistada.
  Mais uma vez ele foi direto, e eu enrubesci novamente.
— Conquistada em que sentido? — disse, encarando meus pés, tímida.
Duff riu. E quando eu achei que fosse fazer uma brincadeira de mau gosto, na verdade, ele foi sincero:
— Na amizade. Você não seria assim comigo se fosse.. não sei.. — ele botou os dois braços atrás da cabeça — ontem?
Eu ri.
  — É mesmo. Não sei, mas acho que a melhor coisa que me aconteceu ultimamente foi ter te conhecido.
  Na mesma hora, ele arregalou os olhos, como se dissesse: "Jura?"
  — Nunca pensei em ter intimidade com um astro do rock — ri.
  — Mas você não conhecia a gente antes de sua prima chegar aqui? — ele perguntou, curioso.
  — Sim. Na verdade, eu escutava música clássica.
  Duff se impressionou.
  — Era o que meus pais permitiam — lembrei-me de meus pais. Ah, que falta eles não faziam — Na verdade, eu comecei a gostar desse estilo.
  — Você realmente tem cara de quem gosta de música assim — Duff se apoiou no braço da cadeira e ficou a poucos centímetros do meu rosto — Você é toda delicada.
  Franzi o cenho.
  — Delicada?
  Eu definitivamente não me achava delicada.
  — É — Duff pôs uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha — Bem delicada.
  Meu rosto congelou.
  Duff não me tocara, mas tocara algo de mim, e eu quase senti seu toque em minha orelha. Meu rosto ficou vermelho.
  Droga, Amber.
— Eu não acho — sorri — Mas se você diz...
Ele passou as mãos lentamente pela borda da minha orelha, me causando arrepios. Eu me estremeci.
  Duff não me tocava tinha... um certo tempo, e eu jurei para mim mesma que nunca mais sentiria aquela sensação, mas eu não conseguia me conter.
  Meu olhos se focaram, por conta própria, na boca de Duff, e, na hora, eu percebi que estava ferrada. Era aquela mesma sensação: de calor, de nervoso, de borboletas no estômago. E ele tinha apenas tocado em meu cabelo...
  — Você é linda — ele interrompeu meus pensamentos.
  O olhei, ele me olhava indiscretamente. De alguma forma, eu sabia que ele sentia o mesmo. O seu rosto me dizia que ele sentia o mesmo, era claro: sua boca entreaberta, com os lábios recém molhados por sua língua, abrindo um sorriso fraco, seus olhos freneticamente abertos e focados, suas sobrancelhas levemente elevadas... era um conjunto; de alguma forma, seu rosto de dizia o que ele queria, era nítido.
Era estranho a forma como em tão pouco tempo eu conhecia bem a pessoa dele. Eu sabia do que ele gostava, dos seu trejeitos, e o que suas expressões diriam, e eu nunca o estudei para reparar isso, era simplesmente natural: eu sabia e ponto. De alguma forma, eu e Duff estávamos ligados, eu não sei como e nem por que, mas sabia que, um dia, quando ele voltar para sua cidade, ainda estaríamos ligados. Parecia que em uma outra vida estivemos juntos... Era bizarra a forma como tínhamos uma conexão, e isso também era nítido.
  A mão dele ainda estava próxima a meu rosto, parecia ter congelado ali, e aproveitando o lugar e a situação como estava, a aproximou lentamente, começando a tocar minha bochecha.
  — Duff, por favor, não — eu pedi, mas incrédula nas minha próprias palavras.
  Eu, definitivamente, não queria que ele se afastasse, e sabia que ele não faria, mas não era certo. Não era o momento certo. Eu não sei por que, mas algo de mim o desejava; desejava sentir seu gosto novamente, mesmo minha me dizendo que não. Parecia o inferno. Era uma luta, mas eu sabia que eu, com minha racionalidade, iria perder para meu sentimentalismo.
  Eu fechei os olhos à medida em que Duff se aproximava lentamente, imaginando que ele iria fazer o que qualquer homem em tal situação faria, e ele realmente iria, quando, inusitadamente, alguém abriu a porta.
— Amber? Sua prima já está no quarto.
Um enfermeira entrou, e não sei dizer se isso era uma coisa boa ou ruim.
Bendita Mary

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Olá!
Decidi fazer uma capítulo menor para não ficar muito cansativo. Espero que gostem.
Se estiverem sentindo falta de alguma coisa, ou, talvez, queiram acrescentar alguma coisa na história, por favor me digam.
Obrigada.
Beijos!

Selfish || Duff MckaganOnde histórias criam vida. Descubra agora