Selfish || Duff Mckagan

Capítulo 12- Baixos e Altos

15 de dezembro de 1988.

De todo mal, a gente tira um bem, essa frase é muito falada. É na verdade fazia sentido; se olharmos apenas as coisas ruins da vida, a gente nunca vai pra frente, ficaremos presos no pessimismo. Ser grato por apenas respirar deveria ser nada menos que uma obrigação. Mas o ser humano tem isso de sempre levar uma situação ao pessimismo, sentindo um prazer em querer se dar mal. De onde já se viu? Ansiar por coisas boas nos traz coisas boas, e só de pensar em querer se dá bem, já é suficiente. Sempre fui muito assim, ingrata, sendo que na verdade tinha tudo, e agora que não tenho nada, vejo o quão egoísta eu era. Bem estranhamente eu me sentia bem melhor sendo quem sou agora, e isso eu não tinha dúvidas; afinal, a gente sempre tem que tirar um bem de tudo.
— Você está demitida.
Bem, nesse caso, era impossível.
— Por quê?
Brian olhou para mim com um olhar quase piedoso.
— Você não está vindo trabalhar, e de qualquer forma estamos bem apertados, teríamos que cortar um custo... — ele mexeu na caneta de sua mesa — A crise vem para todo mundo.
— Mas eu nunca faltei, só não tenho vindo regularmente porque não pude. — eu disse, com minha veia do pescoço quase saltando para fora ─ Você sabe da minha situação, sabe a reviravolta que aconteceu na minha vida; mas eu tenho feito de tudo para vir trabalhar.
Ele olhou para mim fixamente e cruzou os dedos em cima de sua barriga.
— Você saiu de casa.
Ele disse como se eu tivesse me esquecido. E como se eu fosse desprezível.
— Puff, e é exatamente por isso que eu preciso de um emprego. Como acha que eu vou sobreviver sem dinheiro? O pouco que eu tenho vai acabar! ─ eu estava quase implorando pra ele me deixar ficar.
— Amber, escute, você é nova, com certeza arranjará outro emprego — agora ele analisava suas unhas com a sobrancelha levantada.

Brian era o famoso tipo de cara que aparece na vida de toda mocinha em uma comédia romântica para estragar seus planos: nojento, feio e preguiçoso. Sua vida era extremamente confortável, e ele tinha dinheiro nas mãos sem precisar de esforçar, e talvez seja por isso que ele se tornou um solteirão tão irritante.

Ele parecia - e de fato estava - não se importar com minha vida, e com nada que eu falasse, o único motivo plausível para ele me demitir era a minha falta de compromisso, e que tinham sido poucas as vezes que faltei com isso. Mas ele realmente parecia não se importar.

─ Infelizmente a vida é feita de altos e baixos, e, no momento, você está no seu "baixo", se é que me entende ─ e soltou uma risadinha, como se fazer piadas fosse apto àquele momento ─ Você é uma moça muito inteligente, vai arranjar um jeito.

─ Brian, eu...

─ Agradecemos o seu trabalho durante esse tempo, mas não precisamos mais de você.

Agora eu definitivamente parecia descartável.

Eu botei a mão na testa. O que eu faria? Não podia perder o emprego.

— Brian, eu não posso perder esse emprego.

— Você já perdeu, senhorita Skake.

A arrogância e frieza na voz dele me deixaram doida. Como pode um ser humano ser tão ridículo?

Tudo bem que eu não planejava, e não queria, ficar naquele trabalho durante o resto de minha vida, e eu sabia muito bem que demissão era algo particularmente comum, mas se feita com educação. Um lado de mim estava totalmente acabada, mas o outro estava pulsando de de raiva, e isso não ia acabar assim, eu não merecia isso, ser dispensada feito lixo dessa forma, eu merecia algo melhor, só não estava conseguindo pensar em como sair por cima disso. Definitivamente a Amber que começou a trabalhar naquele lugar já não existia mais, tudo que me restava era essa nova personalidade que eu tinha criado, e de fato era um tanto mais fácil lidar com meus sentimentos junto a ela. Mas agora eu não podia fazer nada mesmo desse jeito, eu não podia ficar na miséria, eu estava sem nada, literalmente, e se eu continuasse assim...