ATO I - Capitulo 3: Ilusório e especial

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ATO I - Capitulo 3: Ilusório e especial

Seven

— Por que Seven? — Tabitha pergunta por cima de Deep Purple.

Desde que saímos do colégio, instalou-se um silêncio entre nós, denso e cheio de estranheza, especialmente depois que ela começou a puxar assunto do nada como se estivesse interessada em saber quem eu sou depois de me dar um fora. Tabitha me deixa muito confuso, como nenhuma outra garota me deixou.

— Não sei. — Olho para ela de relance e dou de ombros, vejo seu rosto se contorcer sem entender. — David nunca me falou.

— David? É seu irmão?

— Não! — Solto uma risada, achando graça na suposição dela. — Meu pai.

— Oh. Que estranho. Você o chama pelo nome?

— Não somos muito próximos. — Volto a olhar para a estrada, antes que eu acabe batendo o carro.

Aperto as duas mãos no volante. Tabitha continua em silêncio, me olhando, sinto seu olhar sobre mim como uma daquelas luzes de policiais em interrogatório, mesmo que ela não diga nada, imagino de forma tão sólida as perguntas que formam na sua mente, de um jeito que consigo até ouvi-las. Mas isso não seria possível, estou imaginando coisas, para variar. Às vezes, isso acontece, motivo pelo qual me acho meio maluco.

— Não converso muito com meu pai, é como se fôssemos estranhos que vivem na mesma casa.

— Não consigo imaginar como isso funcionaria. — Tabitha suspira, repousando as mãos sobre o colo, onde está sua bolsa verde água, em cima dos cadernos. Ainda consigo ver seus joelhos, unidos. Como ela está de shorts jeans, tenho uma visão completa de suas coxas. — Eu e meus pais somos muito próximos, conto tudo para eles!

— Tudo mesmo? — Ah, duvido! Viro a cabeça para ela, esticando as sobrancelhas.

— Talvez não tudo, no sentido mais amplo da palavra. Você entendeu. — Tabitha comprime os ombros, dando um risinho.

— Suponho que sim. — Acabo sorrindo para ela, como se um sorriso mesmo pequeno fosse a faísca suficiente para acender uma tocha dentro de mim.

Impressão minha ou ficou quente de repente? Puxo a gola da camiseta. Percebo Tabitha abanando o rosto e ligo o ar condicionado do carro. Não funciona de primeira e preciso dar um soco de leve no botão para ele acender a luz laranja e ligar o sistema de refrigeração.

— E sua mãe? — Tabitha pergunta, curiosa.

— Não sei nada sobre ela, David não gosta de falar no assunto. — Reviro os olhos e apoio o cotovelo no vão da porta, mesmo que o vidro da janela esteja fechado. — Já perguntei mil vezes, mas ele me mandava esquecer do assunto e escondeu todas as fotos dela. Acho que esqueci. Não me lembro nem de como ela era.

— Ah, deve ser algo doloroso para ele. — Ela arrisca compreender o assunto, mesmo que não saiba nada sobre isso.

Causa um impacto diferente em mim ouvir essas palavras. Quer saber? Nunca pensei por esse lado e não sei o quanto esse assunto poderia ou não entristecer meu pai. David não expressa seus sentimentos e às vezes ele parece um robô cheio de ordens pra dar.

— Eu não saberia dizer, realmente. Não sei se ela está viva ou o quê. Considero um pouco egoísta que ele guarde tudo para si. — Dou de ombros, mas sinto urgência em mudar de assunto já que na verdade, falar da minha mãe me entristece. — Seus pais trabalham em quê?

— Minha mãe é paisagista e meu pai é veterinário.

— Ah! — Faço sem saber o que responder. Uma mãe paisagista e um pai veterinário é algo fora da minha compreensão, soa bem comum e normal, sem grandes emoções, o tipo de estabilidade que eu aprecio, mas que realmente não conheço. — Qual das duas carreiras você está mais inclinada a seguir?

Venatio - Leitura Unificada - Seven & SuuchOnde histórias criam vida. Descubra agora