ATO I - Capitulo 15: Novo sonho

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Capitulo 15: Novo sonho

Seven

 

- Venha, não tenha medo… Siga minha voz. - É um tom feminino e suave, ressoando através da densa neblina. - Vou cuidar de você.

Caminho por uma rua estreita e curvolínea de predregulhos marrons que parece aquelas areias de aquário, como pequenos cristais. Meus passos fazem barulho, um filhote de cachorro com pelagem negra lidera o caminho, farejando. A corrente da coleira estica, mas não paro. Estranhamente, estou pequeno, voltei a ser criança.  A nevoa cobre os montes ao redor de mim.

- Venha… Não tenha medo. - A voz suave continua me atraindo. - Vou amar você.

Conforme ando pela estrada, consigo ver com detalhes do que são feito os montes: pés. Pés humanos, sangrentos, parecem ter sido desmembrados na altura do tornozelo, posso ver os ossos e um vermelhão. É uma sensação esquisita de que estou olhando para um cemitério de pés. Pés que foram roubados das pessoas. Tenho vontade de fugir daqui, mas  o cachorro quer ir adiante, continuar seguindo o rastro. Sinto um tranco na corrente. Tento segurar, mas ela escapa das minhas pequenas e infantis mãos, a corrente rasga minha pele, deixando um ferimento.

Eu tento chamá-lo, mas perdi a voz. Só consigo esticar a mão na direção para a qual o cachorro corre, para longe. Fico sozinho, com medo. Caminho atrás do cachorro, subindo pelas montanhas de pés. Algo seguro meu tornozelo, me forçando para baixo.

- Venha, não tenha medo. Vou devorar você!

Afundo. Escorrego por um tunel de plástico, como um tobogã. Caio sentado em uma poça de sangue se forma. Na minha frente há uma figura humanoide de pele vermelha translúcida, permitindo que eu veja as suas veias, comprida. A criatura está curvada sobre uma mesa de metal onde há alguém amarrado. Percebo que a figura sem rosto tem uma boca como a de uma sanguessuga, mastigando os pés da pessoa que está presa, arrancando pedaços que de pele e músculo, fazendo sangue escorrer e os ossos à mostra. A pessoa sendo devorada é Suuch. Ele grita muito alto com uma cara de dor e pavor:

- Aaaaaahhhh! - O grito machuca todo o meu corpo, invade meus ouvidos, toma conta de cada músculo do meu corpo ao ponto de que me deixa a sensação de que eu estou gritando.

 

***

 

- Aaaaaaaaaaaah!!! - Agora quem está gritando sou eu. Meio sentado no colchão, de olhos abertos, encarando a porta do meu quarto, acordando de um sonho para lá de bizarro.

Está de noite, tudo escuro. A porta do meu quarto abre com um estrondo. A luz amarelada do corredor me cega e coloco a mão na frente dos olhos.

- Cadê?! Cadê?! - Suuch invade o quarto de pijama, olhando para os dois lados procurando algo, acho que o Pesadelo, com sua Desert Eagle prateada com o cabo preto na mão direita. Parece perceber que não tem nada de errado no meu quarto e abaixa a pistola. - O que houve? Não são 7:25. - Mira o relógio no criado mudo ao lado da cama.

Confiro primeiro seus pés. Intactos. Nada aconteceu, então? Foi só um sonho? Meu coração está acelerado de susto, solto um suspiro exalando forte o ar e murcho.

- N-não tenho certeza. - É até difícil para falar. Afasto a gola da camiseta para respirar melhor. - Foi um pesadelo.

Espio o relógio com visor digital para checar as horas. 4:50. Suuch continua na porta, o que me incomoda um pouco. Olho para ele, que espera uma explicação descente de mim.

Venatio - Leitura Unificada - Seven & SuuchOnde histórias criam vida. Descubra agora