ATO I - Capitulo 4: Horas perdidas

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ATO I - Capitulo 4: Horas perdidas

Seven

Embora fosse a coisa mais bizarra a se acontecer, dar voltas andando em linha reta, Tabitha rapidamente atribui uma explicação lógica ao que está acontecendo:

— Vai ver a neblina está nos confundindo e estamos andando em círculos.

Uma vez na sala de aula na Escola dos Caçadores, ouvi o professor dizer que as pessoas comuns não estão preparadas para lidar com o que existe no oculto e por isso inventam explicações mirabolantes e que façam sentido em sua cabeça, preservando o oculto no, como o nome diz, “oculto”.

— Pode ser. — Não me convenceu.

Sou treinado para prestar atenção em coisas estranhas e isso é, sem dúvida, a coisa mais estranha que já me aconteceu na vida. Aliás, acho que é a segunda coisa. Olho para Tabitha, com os cabelos escorrendo e as roupas molhadas, com tanto frio que posso vê-la tremer e bater os dentes. Chove bastante agora, lavando o asfalto. Retificando: a primeira coisa estranha foi ela aparecer depois de eu tanto sonhar com uma garota que nunca tinha visto.

Tabitha coloca a mão na boca pensando, acho que o cérebro dela está tentando entender o que está acontecendo, mas para mim, está meio óbvio que temos um problema não muito comum aqui. Talvez, antes de qualquer coisa, eu deva colocá-la em segurança.

— É melhor você entrar no carro, ou pode ficar doente. — Penso depressa. Ela ergue os olhos para mim e tomba a cabeça de lado. — Quem sabe se achar um copo lá dentro eu consiga juntar água da chuva e colocar no motor.

Minha ideia é um pouco estúpida, mas espero que ela entenda de mecânica tanto quanto entende de tecnologia. Ela parece acatar com o comando e dirige-se até a porta do carro, eu só rezo para que não tenha fundido o motor e que consiga dar um jeito de sair dessa tempestade bizarra, antes que as coisas se tornem perigosas.

Acompanho Tabitha abrindo a porta para ela e fecho, trancando a porta. Lá de dentro, ela olha para mim intrigada e eu sinalizo para ela procurar um copo.

— Seven! — Escuto ao longe uma voz conhecida e olho para os dois lados. Ué, cadê? Não vejo ninguém. — Seven! — De novo.

Tento me concentrar na voz, mas o barulho da chuva torrencial está bem forte. Esquadrinho os arredores e percebo uma silhueta alguns metros distante da Pajero, como se tivesse subindo a estrada. Acho que conheço aquela pessoa de algum lugar e me aproximo um pouco.

A névoa está cada vez mais densa, mas é como se agora ela fosse um vidro embaçado que divide a estrada, Suuch está do outro lado em pé, parece assustado.

— Suuch?

— Não toque nessa coisa. — Suuch diz e observa o carro atrás de mim. —  O que você está fazendo aqui, com essa menina? Você sabe que vai me pagar, por me deixar sem carro. — E aponta para mim, irado.

— Calma cara, o carro quebrou. — Levanto as duas mãos em sinal de paz. Vish, devo ter perdido noção do tempo e a aula já acabou.

— Quebrou? Desde meio dia? Caramba, Seven!

Mas é um exagerado mesmo!

— Mas não é nem meio dia deve ser onze e olhe lá… — Coloco as duas mãos no bolso da calça e exalo ar. — Credo, que mau humor. — Digo baixinho.

— Seven, já são 20:30. Tá doido?

— Doido tá você. — Noto que Suuch parece estar seco e que atrás dele está bem mais escuro, como se fosse mesmo noite. Ué! Abro bem os olhos quando percebo que realmente tem algo de estranho nessa tempestade. — Sério? O que tá havendo?

Venatio - Leitura Unificada - Seven & SuuchOnde histórias criam vida. Descubra agora