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acaso (a.ca.so)
1. conjunto de fatos sem causa aparente que determinam um acontecimento.
2. casualidade; ocasião imprevista.
3. destino.

04.01.2019

Esse é, com certeza, o pior encontro da minha vida.

Nós estamos em um dos melhores restaurantes de Turim, e, no momento, tudo o que eu mais quero é me embebedar com todos os vinhos da adega enorme do estabelecimento. E expulsar esse homem daqui.

Chato, arrogante, prepotente, narcisista, fútil, grosso e ignorante - só alguns dos adjetivos que eu pude caracterizar Pablo depois de 30 minutos de conversa (os 30 minutos mais longos da minha vida, diga-se de passagem), ou melhor, 30 minutos de um quase-monólogo por parte do meu acompanhante.

- E então, foi assim que eu consegui um acordo com...

- Desculpa interromper a tua história super empolgante, mas eu preciso ir ao toalete, com licença. - digo com um sorriso falso para o homem, nem tem tempo de falar, como eu já estava na metade do caminho até o banheiro.

Chego lá com o alívio de ficar alguns minutos sem escutar aquela voz já insuportável para mim. Como que o meu querido amigo e a minha amada irmã acharam que nós combinaríamos? Bom, só tem um jeito de descobrir.

"Bea? Por que você tá me ligando? Não era pra estar em um encontro?"

"Caroline Bianchessi Esposito eu quero saber como que vocês encontraram esse... idiota, pra não falar outra coisa, e como vocês cogitaram a possibilidade de eu combinar com ele?"

"Nossa, é tão ruim assim? No Tinder não parecia tã-"

"Vocês acharam ele no Tinder? Vo- vocês criaram um Tinder pra mim? É sério?"

"Err... sim. A gente cansou de você rejeitando todos os amigos do Matteo, e-"

"Oh mio Dio! Eu vou matar vocês - mas antes eu vou matar essa desgraça de Pablo."

E assim eu desligo a ligação e volto para a mesa em que estava acontecendo o meu encontro, sorrindo para o empresário que estava me esperando e pensando em um plano para espantar ele. Coitado.

- Sem querer ser indiscreto, longe de mim, mas... por acaso é coisa de mulher ir ao banheiro tantas vezes seguidas? - ele pergunta, tentando criar um clima descontraído. Aquela já era a minha terceira ida ao banheiro - e, se tudo der certo, a última pra fugir dele.

Eu poderia simplesmente falar que tenho um compromisso e ir embora? Sim, era uma desculpa útil, sempre funcionava. No entanto, esse cara tinha enchido tanto meu saco que, bom, uma brincadeirinha criativa não machucaria ninguém.

- Não, não é... Mas com a gravidez eu preciso ir, esse pequeno já está apertando a minha bexiga! - digo sorrindo para o homem, que tenta esconder a cara de assustado, enquanto coloco minha mão sobre a minha barriga, acariciando-a de leve.

O homem olha para o celular como se tivesse recebido uma notificação, o que claramente não aconteceu (inclusive o celular estava de cabeça pra baixo), e olha para mim pronto para dar uma desculpa.

- É... U-um problema surgiu no trabalho... Bolsa de valores, sabe como variam, né? Toda hora... desculpa ter que sair tão de repente, mas... eu pago a conta, certo? Tchau! - ele fala, já chamando o garçom.

- Tudo certo, sem problemas! - respondo com um sorriso. Ainda bem que ele nem percebeu a taça de vinho que eu estava tomando.

Depois que Pablo saiu, eu me afastei da área com as mesas e segui para o bar do restaurante, onde eu poderia sentar em uma das banquetas em frente ao balcão e tomar algumas taças de vinho em paz, afinal eu mereço depois desse "encontro". Na metade da minha segunda taça eu percebo alguém se aproximando e, em seguida, sentando ao meu lado, e ignoro esse fato até a pessoa se pronunciar.

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