Raul 4

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Há vejo ir embora, e sinto os músculos do meu coração se contrair.

Coração idiota, qual o seu problema?

Volto para a festa, mas algo parece não estar certo, deveria ter insistido para saber o seu nome. Mas aquele cara já havia forçado uma barra com ela, eu não quis ser chato.

Quando ela entrou no carro e disse que seu nome era "Princesa", meu riso foi espontâneo, como se a minha alma estivesse sorrindo diretamente para a sua.

Mas então eu me lembro do pisão que ela me deu, quero ficar com raiva, mas não consigo, outro riso sai de mim enquanto caminho até onde a galera esta.

— Porque você esta rindo feito idiota, Raul? — Brenda pergunta, assim que me aproximo com seus grandes olhos castanhos claros, me analisando.

— Nada. — Respondo fechando a cara.

— Alguma coisa muito estranha deve ter acontecido, eu nunca te vi sorrir — Mateus diz acrescentando ao comentário de Brenda. A luz da balada faz com que seu tom de pele clara fique vermelha, assim como a pele negra de Brenda, que agora está parecendo ter passado horas ao sol, deixando-a bronzeada, como a cor laranja de sua blusa.

— Eu não estava sorrindo, são espasmos involuntários do rosto — respondo concluindo o assunto, para que não se prolongue.

— Até parece, mas tanto faz, vem, vamos dançar. — Brenda diz segurando minha mão.

Deixo-a me arrastar para dançar de novo, não levo muito jeito para isso, não sei o que deu em mim quando chamei a caipira para dançar, alguma coisa estranha com certeza aconteceu comigo.

Danço algumas músicas, mas logo me despeço e vou embora, já deu de balada por hoje.

Fui o primeiro a voltar para casa, o que me dá o privilégio do silêncio, é tão raro isso por aqui, que chega a ser estranho, mas acho que gosto desta calmaria.

Quando eu era pequeno, odiava o silêncio, sempre quando tudo estava quieto demais eu podia ouvir meus pais brigando, então eu colocava os fones de ouvidos, e ligava a música no volume mais alto possível, só para não ser capaz de ouvir os xingamentos que meus pais gritavam um contra o outro pela casa.

Meu pai me mandou uma mensagem com o endereço de sua nova casa, na segunda-feira me convidando para um almoço ao domingo, e por mais que minha memória seja fotográfica, prefiro guardar a mensagem a apagá-la, para o caso de eu decidir aparecer, não sei se deveria ir, tem anos que não o vejo, nunca fui a sua casa nova, não tenho um pingo de vontade de conhecer a sua nova esposa, a sua nova família.
Não compreendo por qual motivo as pessoas começam uma vida nova e se esquecem da antiga, é tão simples para alguns virar a página e seguir enfrente, enquanto outros ficam presos diariamente ao passado, como uma âncora que os puxa para baixo.

Adormeço no sofá, acordo quando o sol já esta entrando pela janela.

— Acorda, grandão — Mateus me cutuca e me passa um pedaço de pizza.

Grandão, essa palavra me faz rir.

— Cara você anda estranho, nunca tinha te visto dar uma risada, e de repente você começa a sorrir feito um bobo — ignoro completamente este comentário infeliz.

— Onde vocês conseguiram pizza uma hora desta?

— Sobrou de ontem, o que você vai fazer hoje?

— Não sei ainda, por quê?

— Brenda esta trabalhando, pensei em almoçar lá, quer ir?

— Pode ser.

— Combinado então, às 11h, não se atrasa.

Dos sonhos eu sou o AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora