Aurora 7

73 36 29
                                    

De todos os lugares que eu gostaria de "não" estar, este, com certeza, está no topo da lista, preferiria estar no topo do Everest, ou no meio de uma guerra, eu toparia ir à praça de alimentação do shopping se fosse capaz de me livrar disto, convidei Bruna para vir, tentei até a subornar, mas falhei na missão. Ela já tinha um compromisso urgente.

Reconheço algumas das pessoas que estão aqui, alguns são antigos amigos de papai, e em toda a oportunidade que encontram me perguntam sobre ele e Mia, das primeiras vezes até respondia de uma maneira educada, agora apenas digo "Porque você não pergunta sobre isso a minha mãe?", encerrando por fim o assunto.

Tudo me parece melhor, do que esses olhares direcionados para mim, já que não podem perguntar, eles me olham como se eu fosse uma pobre coitada, ingênua e indefesa.
Ingênua e indefesa uma pinóia, sou uma super-heroína, a super-heroína da minha própria história, talvez eu ainda não seja, mas estou no caminho certo. Porque heróis, heróis são os que vão atrás de seus próprios sonhos, sem desistir, não acredito nisto de que a indústria do cinema nos contou.
Herói é quem ama com o coração, quem sonha com a galáxia de seus olhos, abraça com um sorriso, e cura com as mãos.
E eu serei uma heroína, mesmo que doa.

— Aurora, por favor, saia deste sofá e venha aqui — eu já disse o quanto odeio a minha mãe?

Levanto e vou até a sala de jantar, onde estão todos.
Como minha mãe está grávida, todos os seus passos são seguidos por alguém, que passa a mão em sua barriga e diz o quão linda, ela esta. E sobre o seu marido, tudo o que sei é que ele é um velhote, sem graça, com piadas sem graça, e que mexe em meu cabelo, pensando fazer algo que me agrade, não agrada, não gosto, odeio na verdade, e o odeio também, encostada na parede da sala de jantar, observo tudo, tem um lustre imenso centralizado ao meio, de brilhantes, que reflete perfeitamente por todo o imóvel de madeira, a mesa deve ter lugares para umas 20 pessoas, ou 22, porque uma mesa tão grande? Talvez para cada personalidade da minha mãe se sentar.

— Para que uma mesa deste tamanho? É para o meu pai apoiar todos os chifres que esta vaca loira branquela deve colocar nele? — Este dia não tinha como piorar, tudo bem eu não gostar da minha mãe, mas sabe como é isso com família, só quem é da família pode falar mal.

Apenas quem comeu o pão que o diabo amassou nos piores dias, pode dizer algo sobre os dias de fartura.

— Ela pode até ser uma vaca, mas é a vaca da minha mãe — cruzo os braços, me viro, e olho para ele, e só pode ser brincadeira, encarando-o, seu cabelo ainda está molhado, parece que acabou de sair do banho, os deixando em um tom de loiro mais escuro, suas pupilas estão um pouco dilatadas.

Quem ele pensa que é para ditar coisas sobre a minha mãe, como se fossem defeitos?! Que a meu ver, ele parece os ter também.

— Você? Filha da vaca? Isso te faz uma vaca também, não faz Princesa? — Esse sorrido de canto me faz ter vontade de socar a seu rosto lindo e perfeito, ele é sempre assim tão arrogante e sem educação?!

Sério universo?! O Plebeu tinha que ser filho do marido da minha mãe?
Sério universo?!

Sem que eu tenha tempo para respondê-lo, ele se vira e sai.

Espero por alguns minutos, e não consigo fingir que isto não aconteceu, saio para procurá-lo, só eu posso xingar à minha mãe, não um branquelo qualquer, loiro, de alhos azuis transparentes.

Ainda mais este branquelo loiro de olhos azuis, que tromba em mim, puxa meu cabelo, e depois canta e toca para mim.

Ele não pode me afrontar e virar as costas como se não me conhecesse, como se eu não fosse alguém.

Dos sonhos eu sou o AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora