Esquecer o barulho fora da cozinha, me acalmar com o cheiro do ambiente, focar na mecânica em receber os pedidos, lidar com a precária máquina de café e entregá-lo à menina do balcão.
Depois de quatro anos trabalhando no mesmo lugar e fazendo as mesmas coisas, apesar de cansativo, tudo estava tedioso demais. Antes sempre diziam que eu nunca precisaria me matar de trabalhar para me manter, que eu teria dezenas de pessoas para me dar o que eu precisava, mas eles estavam enganados. Meus pais também acreditaram nisso e posso dizer que eu também fui completamente enganada pois há seis anos muita coisa na minha vida mudou contra a minha vontade.
Minha, agora falecida, avó Madalena Portier nunca achou possível ser considerada parte da realeza até vinte e dois anos atrás. Minha família, apesar de influente, passava longe da linhagem Real, mais isso nunca foi um problema, pelo contrário, não tínhamos essa ambição, mas a geração a partir da minha mãe seria sempre lembrada, ou pelo menos era o que diziam.
Acredita-se que uma princesa deveria morar em um castelo, sendo, no mínimo, paparicada com vestidos, comida farta entre outras facilidades. Mas eu, Elena Portier, filha de uma médica que precisou virar costureira nas horas vagas e um ferreiro falido, fui designada, ainda antes de nascer, para ser a futura rainha do Grande Arquipélago, mas devido alguns "imprevistos do destino" nem de longe vivo como uma princesa.
Quando o Rei Ian II estava no poder, a Grande Ilha era a melhor do Arquipélago para se viver. Não haviam saques ou sequestros, o custo de vida era infinitamente menor e quase todos tinham bons empregos, minha mãe era uma médica muito respeitada e meu pai sempre cuidou das armas dos soldados do Rei e de quase todos os seguranças da Ilha, que é a maior e principal do Arquipélago e também é lá onde o Castelo foi construído há mais de seis gerações. Construído com grandes pedras em tom de cinza e azul, ele é enorme e eu sabia bem disso, haviam dezenas de quartos completíssimos, banheiros além de todas as suítes, uma cozinha que parecia não ter fim assim como o Grande salão para grandes festividades e o Salão Real onde eram servidos os jantares na presença da família Real que vive ali desde o início e tinham uma ala inteira separada apenas para eles. Como eu sei disso?
Não só porque o Castelo era aberto ao público uma vez ao mês apesar daquela ala ser proibida para visitação. Eu sei porque vivi toda minha infância naquela ala. Porque eu devia me casar com o homem que herdaria o Castelo e o Grande Arquipélago, aquele que todos depositavam infinitas expectativas para um futuro ainda mais próspero.
A história começa quando eu ainda estava na barriga da minha mãe, numa noite em que uma tempestade muito forte atingiu a Grande Ilha, algumas casas foram destruídas com a força do vento e as poucas estradas estavam completamente fechadas por árvores enormes tombadas em seu caminho. Um desses caminhos interditados era a única estrada que dava para o Castelo, a mesma que, se não fosse pela árvore, levaria meus pais de volta para casa.
Naquele dia minha mãe tinha ido naquela direção já que o comércio do meu pai ficava bem próximo ao Castelo. Minha mãe precisou ir ao seu encontro para levar umas ferramentas que meu pai esqueceu em casa e os dois estavam se despedindo quando, por pouco, não foram atingidos por uma das árvores que tombou bem próximo a eles. Encurralados, não tinham como voltar para casa com aquela árvore fechando a estrada por inteiro. O cavalo que minha mãe usara para chegar ali havia sumido, provavelmente com o susto.
O pior é que a loja do meu pai ficou destruída pela metade com o imenso tronco de árvore que atingiu a construção. Como não tinham muitas escolhas, meu pai achou melhor eles tentarem abrigo numa estalagem de soldados e empregadas que ele sabia ter no castelo e ver se algum guarda conhecido permitiria que os dois esperassem que abrisse passagem na estrada já que minha mãe estava grávida e não podia ficar ali naquele tempo tempestuoso.
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A Prometida do Príncipe (Degustação)
RomanceElena Portier é filha de uma mulher que estava no lugar certo e na hora certa e se tornou, antes mesmo de nascer, uma princesa não pelo sangue Real correr em suas veias, mas devido a gratidão de seus soberanos. Com 16 anos porém, devido a uma tragéd...