Capítulo 2

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Corri para o lado de Clara ainda escondida pela cortina e olhei pela janela. A rua estava bem mais escura desde que entramos, mas ainda conseguia distinguir três homens grandes, com farda, se aproximando. Reconheci um dos três guardas mesmo àquela distância e minhas pernas ficaram moles. Eu sabia porque eles estava vindo aqui, só não entendi porque viriam tão cedo.

- Estão trazendo o dinheiro sujo deles. - Expliquei tentando parecer mais calma do que estava ao sair de perto da janela.

Clara fez o mesmo e sentou na cama.

- Eles estão adiantados, só podem entregar na mão de seu pai ou da sua mãe e eles ainda estão no trabalho, não?

Confirmei com a cabeça tentando pensar no que aquilo significava, mas eu não tinha tempo, ouvi quatro batidas fortes na porta do andar de baixo. Não tinha como ignorar, eles podiam ter nos visto na janela, como ia dizer que não ouvi aquelas batidas?

- Clara, fica aqui em cima e quando eu sair, fecha a porta e não abra até eu dizer que pode.

- Amiga, você está me assustando, porque isso?

- Não sei, só estou com um pressentimento ruim.

- Que pressentimento? Você acha que eles fariam alguma coisa na sua própria casa? - Ela sussurrou preocupada.

- Só me espera voltar, promete?

Ela confirmou ainda preocupada e quando saí ouvi o clique da chave e mais três batidas na porta de entrada, ainda mais fortes que as anteriores.

Desci a escada e já estava em frente a porta quando parei para pegar ar e me recompor, não queria mostrar medo.

Olho em volta do pequeno espaço que chamamos de sala e a porta para a pequena cozinha onde lembrei ter um facão enorme, talvez se acontecer alguma coisa tentaria correr até lá e talvez arrumar tempo até meus pais chegarem. Abri a porta e usei minha máscara casual.

- Boa noite senhores - Os três responderam e logo continuei. - Meus pais ainda não se encontram, se puderem retornar depois.

Um sorriso apareceu no rosto de dois dos três soldados que enchiam a minha pequena varanda. Evitei olhar para o terceiro guarda que me estudava de cima a baixo.

- E eles vão demorar? - O primeiro soldado da esquerda perguntou. Na sua farda preta e elegante tinha o nome de "Benke" costurado em letras cor de ouro.

- Não acho, devem chegar logo, então vocês podem voltar mais tarde.

- Então está totalmente sozinha?

O tom na voz daquele homem que me causava arrepios me deixou paralisada, eu não precisava olhar para sua farda e ver o que estava escrito. Brick.

***

Estive apenas uma vez sozinha com aquele homem, quando precisei correr na casa do Doutor Henrique, um pouco antes do toque de recolher, para pedir um remédio para meu pai que estava passando muito mal. Quando voltei, duas ruas antes de chegar em casa, tropecei e deixei cair o frasco de vidro. Peguei rezando para que não tivesse rachado ou quebrado e quando me levantei estava em frente a uma rua pequena e escura, não gostava de passar por ali nem de manhã, a noite aquilo era assustador. Mas o que me chamou atenção foi ouvir o grito abafado de uma mulher, como se alguém estivesse tapando sua boca para não emitir som.

- Oi, tem alguém ai? - Falei baixinho, tão baixo que um ser humano normal não ouviria a não ser que seu ouvido estivesse próximo a minha boca. A rua era tão estreita que no máximo três pessoas passariam lado a lado.

A Prometida do Príncipe (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora