Capítulo 3

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Os portões e uma grande muralha podiam ser vistos praticamente de qualquer distância no perímetro da Grande Ilha. Enquanto caminhava ao lado do meu pai, a pequena cidade foi ficando para trás e, logo, chegamos à Estrada do Castelo. Tudo dentro de mim implorava para voltar pelo mesmo caminho, mas eu não poderia deixar o Rei esperando só porque aquele lugar me trazia muitas lembranças, eu não estava fora dos limites de ser julgada apenas por fazer o Rei esperar, já vi condenações por motivos mais tolos.

Os três guardas que estavam ao portão fizeram-nos parar para a identificação. Já não me impressionava o fato de algumas pessoas me conhecerem de longe como a prometida de Nicholas e outras simplesmente não faziam ideia da minha existência. Acho que apenas as pessoas que trabalharam em nome do Rei Ian II que ainda são capazes de lembrar de mim ao me ver, mas é de conhecimento geral que quando o Rei morreu o ainda Sir Jonas dispensou boa parte da tropa Real e dos empregados do Castelo por proteção já que ele insistia em dizer que havia alguém infiltrado no Castelo foi o responsável pela morte horrível do Rei. Se eles soubessem...

Todos os novos contratados eram selecionados diretamente pelo atual Rei, Jonas. Provavelmente, eu era a única que sabia o que realmente aconteceu naquele dia.

- Bom dia, senhores, tenho uma reunião com o Rei, sou Elena Portier e este me acompanhando é meu pai...

- A senhorita está marcada, mas o senhor não poderá entrar. - Disse um dos guardas de forma direta e seca para meu pai.

- Mas sou o pai dela, vou apenas acompanhá-la até...

- Ela é quase maior de idade e são ordens do Rei - O homem interrompe meu pai com toda a falta de educação que ele devia ter aprendido por ali.

- Tudo bem pai. - Tento confortá-lo - Pode ir pra casa se quiser, não deve demorar muito e chegarei há tempo do meu trabalho.

- Não gosto de você andando por ai sozinha. - Meu pai se aproximou um pouco mais para que os guardas não escutassem - Ouvi algumas histórias sobre os soldados no trabalho que me dão nojo.

Imagina se ele soubesse que eu já vi acontecendo, ou pior, o que teria acontecido se ele não chegasse cedo do trabalho no dia anterior.

- Não se preocupe, já sou grandinha e conheço bem o Castelo.

- Mas não conhece as pessoas que estão ai dentro.

- Pai ... - Revirei os olhos - Até você está me tratando como criança? Achei que isso fosse coisa da mamãe.

Ele olhou em volta não satisfeito com a situação, mas confirmou com a cabeça. Sorri forçado e na ponta do pé beijei-lhe o rosto. É incrível como eu não parecia em quase nada com meu pai. Talvez as maçãs no rosto, mas era muito mais parecida com a minha mãe. Enquanto meu pai tinha o cabelo castanho característico da maioria dos moradores do Arquipélago, minha mãe tinha o cabelo ruivo e algumas sardas que eu também herdei. Não reclamo tanto quanto ela, gosto das sardas. Também não puxei os olhos do meu pai que eram de um castanho esverdeado lindo. Na verdade, para a idade que tinha, meu pai estava em forma e era bem alto.

Nos despedimos, mas ele me reassegurou que não sairia dali até meu retorno. Não discuti e segui um dos guardas.

O lugar continuava basicamente o mesmo, mas o ar era pesado, de uma forma que eu não sabia explicar. Os olhares que recebia eram bem diferentes dos olhares na época em que o Rei Ian II governava, as pessoas pareciam realmente apreciar o que faziam. Agora todos pareciam estressados demais, barulhentos demais, e brutos. Estranho quando você tem visões tão distintas sobre um mesmo lugar num espaço de tempo relativamente curto.

A Prometida do Príncipe (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora