Prólogo

1.5K 68 16
                                    

Essa parte do Castelo encontra-se quieta apesar de tudo o que está acontecendo. Lembro da época mais fácil, onde meu maior problema era descobrir um jeito de fugir das aulas de estratégia para brincar nos jardins do castelo e esquecer que um dia eu seria o Rei de todo o Arquipélago e responsável por tudo o que acontecia nele. É um peso muito grande para carregar desde o nascimento, mas fui criado para aguentar a pressão. Infelizmente o meu destino nunca foi o que eu realmente queria.

Queria ter uma vida normal e sem as pressões da realeza. Eu vejo como meu pai trabalha, o quanto fica desgastado depois de um longo dia, suas rugas estão cada vez maiores, sempre que pensava que ninguém está vendo ele apoiava o rosto nas mãos e respirava fundo para se acalmar, o que achava não ser possível. Mesmo com o bom trabalho que faz cuidando do grande Arquipélago ele é apenas um e os rumores de alguém infiltrado no Castelo para derrubá-lo por querer expandir as alianças entre os continentes cresciam a cada dia, consequentemente deixando-o ainda mais desconfiado, até da própria sombra. Talvez o único em que ele confiava era seu irmão, Jonas. Apesar da diferente aparência, Jonas é irmão gêmeo de meu pai, nascido apenas dezesseis minutos após o herdeiro do Arquipélago.

Este pensamento me fez voltar a realidade do momento e chorei ao perceber o quanto sou covarde de estar ali. Deveria me levantar deste banco de jardim escondido pelos arbustos do jardim lateral, mas então vi Elena aparecer na janela de seu quarto. Mesmo de longe eu sei que estava chorando. Ela olhava preocupada para a direção que eu evitava desde o momento em que sentei nesse canto escondido.

O celeiro.

O fogo engoliu metade do lugar em menos de dois minutos e mesmo com todos os esforços, meus e dos três soldados, não conseguimos apagá-lo até que tudo veio abaixo. Fui tirado de lá à força. Olhei para minhas mãos chamuscadas pelo fogo e a sujeira das cinzas que ainda estava ali para me lembrar do que eu tinha feito e novamente não consegui segurar as lágrimas.

- Nicholas!!

Ouvi a voz de Jonas e rapidamente enxuguei o rosto com a manga de meu casaco e me preparei para o que estava por vir. Não seria nada legal pelo seu tom de voz, eu sei bem disso.

- Seu irresponsável! O que você estava pensando brincando com aqueles fogos tão perto do celeiro? Quantas vezes eu te disse que isso é perigoso?

Ele vinha como um furacão com sua armadura feita sob medida com sua arma sempre visível ao lado de seu corpo. Recebeu-a no dia em que se tornou oficialmente o Conselheiro do Rei. Em seu colete de aço uma coruja que simboliza o escudo da minha família, brilha contra o sol do fim de tarde. Acho que nunca o vi tão consternado.

Então reparo que o Conselheiro não está sujo de cinzas, o que me lembra que ele nem estava lá para tentar ajudar o próprio irmão e agora chega aqui com toda essa atitude.

- Não foi minha culpa, já fiz isso inúmeras vezes, há anos e nunca errei...

- Mas você escolheu seu pai estar perto para errar! Eu vi você pegar os fogos.

Novamente senti um embrulho no estômago, mas dessa vez não chorei, não diante daquelas esperadas insinuações.

- Eu teria morrido infinitas vezes antes de fazer qualquer mal ao meu pai, nenhum dos meus foi em direção ao celeiro, eu teria visto. O celeiro, mesmo se fosse atingido não deveria queimar daquela forma!

- Mas ele queimou, e o que eu vou dizer a todos? Que o futuro Rei dessa nação é tão irresponsável a ponto de matar o próprio pai por causa de uma brincadeira idiota?

- Eu já falei que eu não fiz aquilo, foi uma grande coincidência ou...

- Ou... - ele continuou tentando controlar sua voz e falhando algumas horas – aqueles fogos explodiram o que quer que ficasse em seu caminho porque são porcarias inconstantes e você não tem como dizer quando um deles pode dar algum problema.

A Prometida do Príncipe (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora