| an ordinary love story | - au text roody /awae

IV.

À medida que o inverno chegou ao fim e a primavera vinha com todo o seu esplendor, os dias foram ficando mais longos e as temperaturas mais agradáveis. Agora, os alunos de Avonlea apinhavam as ruas próximas à escola com suas bicicletas ou andando em pequenos grupos, principalmente no começo e fim dos turnos da manhã e da tarde. Ruby saía do prédio da escola, num fim de tarde dourado, e ia em direção à sua bicicleta. Ela tinha ficado mais alguns minutos depois das aulas da tarde com a professora, para corrigir alguns exercícios extras de física. Parou um momento enquanto pegava sua bicicleta para admirar o céu que se encaminhava para o pôr do sol.

Passando o olho pelo perímetro da escola, o olhar de Ruby se deteve numa figura alta sentada nos bancos próximos ao campo de futebol. Moody estava inclinado por sobre um livro aberto no colo, com uma careta de concentração. Ruby não tinha tido oportunidade de entregar o casaco que ele tinha emprestado para ela, isso porque estava sempre cercada das amigas, e ele também; mas ela queria entregar para ele sozinha, para poder agradecer sem ter risadinhas baixas de plano de fundo.

- Eu não peguei para mim não, viu - ela disse, se aproximando dele e lhe oferecendo o moletom.

Moody levantou os olhos e sorriu para ela.

- Obrigada por ter me emprestado, valeu mesmo - ela completou, entregando o tecido.

- Ah, não foi nada. Se quisesse podia ter ficado com ele também - Moody pegou o moletom, deixando-o no colo, e fechou o livro.

- Torceu o tornozelo então? - Ruby continuou a conversa, sentando no banco ao lado do garoto.

- Pois é... quem te falou?

- Na verdade eu vi no spotted.

- Ah, é claro - ele revirou os olhos. - O pior foi que foi numa bobeira no treino. Enfim.

Ele virou a cabeça para o campo, e só então Ruby percebeu que ele estava observando o treino de futebol do time da escola, o qual agora ele estava impossibilitado de acompanhar. Ela sabia que ele era o mais entusiasta do time; embora não fosse o melhor jogador, era provavelmente o que mais gostava de jogar, animava o grupo com piadas ruins e mantinha todo mundo unido.

- Português é? - Ruby falou, depois de uma pausa, notando a apostila no colo dele.

- Ah, sim. Eu sou uma negação.

- Gramática e essas coisas ou literatura?

- Os dois, na verdade. É um pior do que o outro.

- Nossa, é tão fácil pra mim. Os dois. Não sei... literatura são mais só os estilos das escolas, e historinhas, é fácil de lembrar. E a parte de gramática e tal também, é fácil pra mim, sei lá. Queria que física fosse tão fácil assim.

- Física, sério? Nossa, eu preferia passar um dia inteiro fazendo exercícios de física à uma hora estudando isso aqui.

Nesse momento, foi como se uma luzinha acendesse ao lado da cabeça do garoto, e ele virou para ela, animado.

- Ei, por que você não me dá aulas de português e eu te ajudo com física?

Ela o encarou por uma fração de segundos com as sobrancelhas franzidas, e então sacudiu a cabeça em afirmação.

- É... pode ser.

- Podemos ficar mais um pouco depois das aulas da tarde, o que acha? Não precisa ser todo dia, até porque a gente tem que descansar um pouco.

- Sim! Pode ser, o que, duas ou três vezes na semana?

- Fechado!

Os dois apertaram as mãos, realmente fechando um acordo. Quando ainda estavam com as mãos unidas, uma buzina soou do estacionamento ao lado do campo.

- Meu pai. Ele tá vindo me buscar e tal, já que - ele apontou para o tornozelo - não posso fazer isso por mim mesmo. Quer carona?

- Não, valeu, eu to com a minha bike.

Os dois se despediram, então. Quando entrou no carro, sentando no banco do passageiro, Moody teve que se explicar para o pai, que o perguntou com uma expressão inquisitorial bem caricata (porque o homem na verdade estava se segurando para não rir), qual era o motivo daquele enorme sorriso bobo estampado no rosto do filho.