VII.

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O tempo passava voando, e de repente já se estava a poucas semanas do vestibular. Os componentes do jornal da escola decidiram deixar algumas reportagens já meio prontas para as próximas semanas, para que eles não ficassem sobrecarregados enquanto faziam as últimas revisões antes da prova e tentavam não surtar. Ruby acabou caindo numa dupla junto com Gilbert, para fazer uma reportagem sobre uma decisão administrativa a ser tomada pelo conselho da cidade e que iria ser votado dali a um mês. Ela deu gritinhos no corredor assim que soube, mas achou que ia ficar ainda mais nervosa. Pelo amor de Deus, ela e Gilbert juntinhos na biblioteca escrevendo o artigo! Mas se lembrou que sempre ficava numa posição parecida, quando ela e Moody se davam aulas, e não era nada demais. Mas dessa vez ia ser com Gilbert.

Alguns dias depois, ela estava com seu melhor jeans e sua blusa preferida, perfumada, os cabelos impecáveis e até um pouco de maquiagem, esperando Gilbert na biblioteca, sentada em uma mesa redonda com suas anotações. Ela dava sorrisinhos espasmódicos de vez em quando, e se reprimia por isso.

Ele chegou bem atrasado, e largou as coisas na mesa com pouco zelo. Mal a cumprimentou, sem lembrar o menino cortês pelo que era conhecido. Ela passou suas anotações com certa apreensão, e começou a falar timidamente sobre as informações que reunira, enquanto ele lia os papéis.

Ele a interrompeu de forma brusca:

- Isso aqui está errado.

- Como? Isso o que?

- Essa resolução, você pegou a errada. É era pra ser a 775 da câmara de vereadores, mas você pegou a 757.

- Bom, desculpa. É que o site era meio confuso e eu...

- Você não presta atenção nas coisas?

Ela ficou em silêncio. Ele continuou ainda mais duro.

- Claro que não, está sempre no mundo da lua não está? Isso é uma coisa séria Ruby, ninguém vai ter cabeça pra escrever daqui umas semanas, você sabe disso.

- Eu sei! - Ela conseguiu dizer, tentando não chorar - Eu sei, mas eu estava meio nervosa e...

- Pelo que exatamente, pelo fato de todos estarmos correndo pra deixar tudo pronto antes das provas? Pelo fato dos vestibulares estarem chegando? Ou há alguma coisa mais importante que você esteja preocupada? - Ele disse de forma rápida.

- Eu estava nervosa porque ia ficar perto de você! - Ela colocou as mãos nos lábios, não acreditando no que disse.

- É claro, estava feliz e ansiosa por passar uma hora e meia a sós com o príncipe encantado! - Ele bateu as mãos com força na mesa e se levantou, pegando sua mochila. - Eu não sou um príncipe encantado, pelo amor de Deus. E você devia saber que eles não existem. Devia se preocupar com outras coisas Ruby. E é melhor que você saiba: eu não gosto de você. Não dessa maneira. Deixa que eu faço isso sozinho.

Ele pegou suas anotações e saiu. Sem falar mais nada.


Ruby ficou ali sentada por alguns minutos (bem podia ter sido mais de uma hora) tentando entender o que tinha acontecido. Gilbert devia mal ter ficado um minuto na biblioteca. Mas foi o suficiente para ela sentir seu mundo se despedaçar. Muito calmamente, ela se levantou e recolheu suas coisas que sobraram em cima da mesa, e saiu da biblioteca. A lentidão deu lugar à correria quando ela se deu conta que andava rapidamente pelo corredor, saindo correndo enquanto sentia as lágrimas inundarem seu rosto. Ao chegar na entrada da escola, ainda correndo e soluçando muito, tropeçou e caiu no pé dos degraus da entrada. Chorou ainda mais, a humilhação ardendo em seu peito enquanto ela olhava ao redor, torcendo para que ninguém estivesse vendo. Mas só uma pessoa presenciara a cena, e corria agora para acudi-la: Miss Stacy.

- O que houve querida? Se machucou? Meu Deus, está chorando Ruby, o que que há? - Disse ela, analisando seu rosto - É por cona da proximidade das provas?

Ruby apenas balançou a cabeça freneticamente dizendo que sim, aliviada por poder ter essa desculpa.

- Ah Ruby, não fique assim...

Mas a menina não ouviu o que se seguiu, sua cabeça doía. Nunca soube como conseguiu assentir e responder que era aquilo mesmo, que estava muito nervosa. Quando a professora falou que ela precisava se dar um descanso, Ruby aproveitou a deixa para se despedir, dizendo que tinha mesmo, e que iria para casa naquele momento.

Não conseguiu pedalar nos primeiros quarteirões da escola até em casa. As palavras de Gilbert voltavam a ressoar em seus ouvidos, mas mais pareciam apunhaladas, e ela sentia uma dor enorme no meio do peito. Ainda conseguiu ter a presença de espírito de, ao chegar em casa, dizer à mãe que estava com muita cólica e ia descansar. Tomou rapidamente o chocolate quente que a mãe insistiu em fazer, com a ameaça das lágrimas voltarem a cair a todo instante.

Tomou um banho demorado, deixando a água quente correr pelo seu corpo e torcendo para levar a tristeza junto com ela pelo ralo. Então sentou-se na beirada da cama com seu pijama de flanela, e autorizou-se a chorar. Chorou pelo seu amor platônico por Gilbert, chorou por ele não corresponder, chorou por ele ter falado com ela daquela maneira. Se odiou por aquele sentimento tomar conta dela por tanto tempo, por ser tão ingênua. Aquele sentimento tão bobo, por tanto tempo foi a centralidade da sua vida.

Ruby deixou suas lágrimas a embalarem naquela noite, deixando aquele pretenso amor ir embora. Mas com sorte, percebeu, tinha retornado a si mesma.

| an ordinary love story | - au text roody /awaeOnde histórias criam vida. Descubra agora