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Distrito de Geumjeong, Busan. 

O som das folhas balançando, dos galhos quebrando e os altos relâmpagos que cortavam o céu enfeitavam aquela caçada pela floresta,que já durava horas e mais horas sem descanso, entretanto nem mesmo o cheiro da natureza era capaz de acalmar a matilha de lobos, cujo tinham seus pelos eriçados, tamanho era a preocupação e a raiva por estarem seguindo a pessoa que provavelmente era a responsável pela morte de tantos lobos e de vários moradores daquela pequena cidadezinha.

Tzuyu, por ser a alfa, seguia na frente de todos, guiando-se pelo cheiro forte daquela criatura que ainda não sabiam identificar com precisão, mas que era uma das mais terríveis que já haviam lidado, isso levando em conta o fato de que a líder do bando já havia visto de tudo, e tido mais experiências que qualquer lobo da sua idade jamais teria.

Em 1919, algo mudou na vida de Sana; tinha perdido seus pais, sua melhor amiga e sua humanidade.

Mas para Tzuyu, as coisas não tinham sido tão diferentes. Quando ela voltou a abrir os olhos, novamente viva, já não lembrava de nada que havia acontecido consigo nos últimos anos. Em algum lugar não tão distante da sua memória, ela ouvia a si mesma dizer “deixe que a última memória que eu tenha seja do seu sorriso”, junto com o som de alguém chorando.

Alguém que ela não lembrava o rosto, o nome, nem mesmo lembrava qual sua voz.

Em outros momentos, ela podia jurar que viu alguém sorrir para ela dentro de um sonho. Porém, essas foram coisas que acabaram se perdendo com o tempo.

Eu sempre fui um lobo…? 

Perguntas como essa eram frequentes no início, havia aprendido a não continuar fazendo muitas perguntas. Seus familiares eram rígidos sobre isso.

Todos agiam estranho.

Tinha a impressão que algo errado estava acontecendo com sua família, só que ninguém lhe dizia o que era.

“É melhor para ela, do que adianta dizer a ela se todos que ela conhecia estão mortos? Ela choraria por pessoas que ela nem mesmo é capaz de lembrar.”

Nenhum deles tinha ideia de que seu passado voltaria em algum momento, tendo este passado um nome, um sorriso encantador e todas suas memórias intactas.

Minatozaki Sana. 

    

Os anos passavam rapidamente, e seu interesse sobre seu passado se tornou nulo. Envelhecia muito lentamente, de forma que parecia estar com a mesma idade para sempre. 

Sana perdeu tudo em 1919. De certa forma, Tzuyu também, já que ela não conseguia lembrar nem mesmo de quem ela era.

Para os lobos, a primeira transformação pode ser um grande desafio. Sem o treinamento correto, talvez nunca consigam se transformar antes da fase adulta. Quando seu avô disse que ela seria uma alfa, antes mesmo do seu nascimento, seus pais escolheram esconder a verdade dela. 

Ela não aprenderia a se transformar. E antes da primeira transformação, não teria habilidades fortes de um lobo transformado, poderia envelhecer e adoecer como um humano normal. Podia ter uma vida normal.

Ser um lobo já era bastante complicado, e sendo um alfa? Como um bebê que ainda nem tinha nascido seria o líder daquela matilha, sendo condenada a uma vida repleta de responsabilidades? Treinamentos que nenhuma criança devia ter. Sendo o alvo de diversos inimigos.

Quando Tzuyu morreu, sua mãe implorou ao seu avô que forçasse a transformação dela. Que salvasse sua filha de alguma forma. Ela sabia que teria um preço, mas tudo que lhe importava era sua menina. Só queria sua criança de volta.

O ritual foi feito; Tzuyu estava de volta, mas suas memórias haviam ido embora, assim como seu avô.

Em determinado ponto, a alfa parou em seu lugar de forma brusca, ouvindo reclamações do resto da matilha, que não compreendiam o que havia acontecido. Seus olhos castanhos analisavam todo o perímetro cuidadosamente, a menina tinha ouvido passos, e o cheiro naquela região estava ainda mais forte que em qualquer outra parte da floresta. Mais galhos quebrando. O som agora alto de passos foi escutado por todos os lobos presentes no local. Tzuyu sinalizou com um uivo alto que não queria ser seguida, e após algumas reclamações, os outros lobos recuam e fazem o que lhes foi pedido, deixando que ela fosse atrás daquela criatura terrível sozinha. 

A alfa dava tudo de si naquela caça, nunca antes a mulher tinha corrido com tanto afinco e com tanta velocidade, sentia seus pulmões queimando, e seus pelos cada vez mais pesados devido a forte chuva que começava a cair torrencialmente naquela região. 

Inesperadamente Tzuyu sente um corpo pular sobre o seu, causando o desequilíbrio da alfa que cai ao chão, uivando alto enquanto tentava tirar o que quer que fosse que estava sobre si, mas a criatura apenas segurava-se com mais força ao redor do pescoço da Chou, que conseguia sentir uma falta de ar desconfortável, lutando para de safar. Estava começando a se sentir fraca, a medida em que o aperto ficava cada vez mais e mais forte, levando a morena ao chão novamente. Tzuyu tenta se reerguer mais uma vez, jogando o próprio corpo contra uma árvore, uma péssima ideia. Um uivo de dor foi escutado por toda floresta. Tzuyu estava ferida. Ao jogar-se contra a árvore, um galho pontiagudo havia perfurado sua lateral, levando a menina a imediatamente voltar a sua forma humana. Ao abrir os olhos, agonizando de dor, pode olhar bem no rosto de quem havia feito aquilo, mesmo que sua aparência estivesse bastante diferente do que Tzuyu estava acostumada a ver, conseguiu reconhecer claramente de quem se tratava, quem era o monstro que estava espalhando o caos pela cidade, mas mesmo que estivesse vendo, não conseguia acreditar. 

— Não é possível... Eu não acredito que é você.

— Qual a surpresa? Pensei que meu olhar já entregaria muita coisa. Você é uma péssima alfa, Chou Tzuyu. Se esta cidade depender de você, e daqueles mosquitos dos Lee, eles estão ferrados. — Suas palavras ácidas despertavam ainda mais o ódio de Chou, a menina tentou agarrar a perna da outra, mas antes de qualquer coisa, o solado duro da bota que Momo usava foi de encontro ao ferimento de Tzuyu, fazendo a garota gritar ainda mais de dor — Espero que isso sirva de lição para o próximo ou próxima alfa, nunca se afastem de seu bando... nunca se sabe quando se vai dar de cara com um híbrido como eu por aí. O que você estava tentando fazer? Ser heróica e morrer sozinha? Você sabe que eu daria conta de todos.

— Irá se arrepender disto... — a taiwanesa diz com dificuldade, chegando até confundir uma palavra ou outra de sua língua materna com o coreano. 

— Acho que não. Agora, chega de conversa, será um prazer chegar com sua cabeça em casa, conheço pessoas que irão amar ter ela como decoração... e ah! Mais uma coisa, não confie totalmente nas pessoas a sua volta, nem todo mundo é seu amigo, Chou Tzuyu. Ah, mas... esqueci que após isso, você não poderá avisar a ninguém de tudo isso, não é? Sinto muito... não, não sinto nada. 

Com uma alta risada perversa, Momo sacou uma faca de seu coldre, aproximando do pescoço da jovem alfa. No momento em que prosseguiu para realizar seu último movimento, sentiu apenas a força de um empurrão contra seu corpo, a levando ao chão. Os movimentos eram rápidos, Tzuyu percebia que Momo mal sabia identificar de onde estavam vindo, mas sabia que aquilo a estava machucado, de uma forma que ninguém ao menos chegou perto de conseguir. 

Com um chute certeiro, a japonesa consegue se desvencilhar dos ataques, correndo por entre as árvores para o mais longe dali possível. A taiwanesa tinha certeza que ela não deixaria aquilo daquele jeito, e que provavelmente a híbrido estava pensando em diversas maneiras de matar quem lhe salvou, assim como deveria estar ansiando para matar a alfa.

—  Tzuyu? Tzuyu, fique consciente, por favor! - O rapaz segurava o rosto de Tzuyu com delicadeza, mantendo uma de suas mãos pressionando o ferimento. — Droga! Droga!

— Você… – a alfa diz com uma voz fraca, observando os olhos cobertos de tristeza do seu salvador, antes de finalmente apagar. 

Sabia que estava a salvo por agora, ou esperava que sim.

Teeth • SATZUOnde histórias criam vida. Descubra agora