Transformação

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Distrito de Nam-gu, Daegu. — 15.01.1919.

 As coisas estavam piores do que a 3 semanas atrás, a doença se alastrava como fogo em palha seca, a falta de saneamento básico era sem dúvida uma das maiores causas disso. A uns 3 dias atrás, o senhor Chou Ah-Kum morreu, após sofrer por 1 semana inteira em cima da cama, recebendo cuidados apenas das filhas e da esposa, mesmo tendo as economias da loja, o homem não teve direito a atendimento médico. Isso preocupava Sana, elas estavam expostas a tal vírus sem proteção alguma, o que era extremamente perigoso.

Minatozaki Katsuo seguia sofrendo pela falta de ar que a doença lhe causava, Sana ouvia sua mãe chorar todos os dias do lado de fora do quarto do casal. Sabiam que era questão de tempo até que ele morresse também, e a sensação de saber que estava mais perto do que nunca, era algo dilacerador. A senhora Minatozaki já começava a apresentar alguns dos sintomas da infeliz doença, conhecida como "Gripe Espanhola", mesmo que vinhesse negando para filha, a japonesa mais velha dizia ser apenas uma gripe comum, mas Sana já conhecia os sintomas, sua mãe também estava infectada. 

Sana sai pelas ruas em busca de um local onde possa comprar suplementos básicos, tal como arroz, ou alguma fruta ou legumes, ao menos, mas tudo que conseguia ver era desespero e corpos jogados pelas valas. O odor era forte, sentia arder por entre suas narinas a cada vez que inalava o ar para dentro de seus pulmões. A jovem tentou até procurar em tabernas, mas nenhuma estava aberta, apenas na última em que foi, onde viu o corpo de um bêbado ser jogado porta a fora, com os gritos de que ele fosse para sua casa e não voltasse mais alí até a pandemia acabar. Se é que acabaria. 

Uma mulher caminhava por estas mesmas vielas, estava bem vestida, parava de corpo em corpo, notava que estavam mortos e seguia até o outro. Como ela tinha coragem de tocá-los? Ela poderia acabar contaminada ou algo assim, era o que Sana pensava. Abaixou a cabeça, arrumando o capuz de capa sobre a cabeça, preferia passar despercebida, nunca se sabe se ela não é uma das criaturas místicas que tanto falam existir.

Mas a mulher não pensou igual a Minatozaki.

— Garota? Olá? 

Continuou seu caminho, apertando as poucas frutas que tinha conseguido comprar em seus braços, se ela tentasse roubar sua comida, não conseguiria. 

— Não precisa correr, não vou te fazer mal, eu sou médica. 

Claro, um assassino também diria para não correr porque ele não te faria nenhum mal, boa tentativa, esquisitona, pensou a japonesa.

Após virar uma das ruas, a mulher já não estava mais lá. Sana chegou em casa, se deparando com a mãe caída no chão do corredor. 

— MAMÃE! — solta as frutas no chão e corre em sua direção. A mulher queimava em febre. 

Com muita dificuldade, Sana consegue levar a mulher até seu quarto, já que seu papai dormia no quarto que era deles. Não seria bom que eles dividissem o mesmo espaço. Logo após acomodar a mulher, vai até a cozinha, esquentar a água para fazer uma compressa para mulher e o homem. Volta até seu quarto e vê a mulher já com os olhos abertos, ela tinha uma mão na cabeça, parecia ainda estar tonta. 

— Mamãe? O que sente? 

— Minha cabeça está girando, meu corpo todo pesa e minha cabeça dói. Sana… — ela tinha um olhar triste agora, provavelmente pensando o mesmo que a filha. 

— Eu sei, eu sei. Não se preocupe, irei cuidar de você e do papai, vocês ficarão bem. 

— Não, Sana, já somos adultos e temos uma saúde terrível, é questão de tempo minha filha. 

Teeth • SATZUOnde histórias criam vida. Descubra agora