" Se lembra daqueles tempos bons que viveria, não sei se hoje mais o teria".
>>> Louise Cristina
Por todo o castelo da conhecida família Reis, não havia quem não soubesse do famoso herdeiro da família, Silas Reis, mesmo que conhecido apenas em nome, porque desde os cinco anos do garoto, a família o havia mandado para estudar nas melhores escolas de magia, uma hora ou outra alguém sempre o citava, ou em tom de curiosidade, ou simplesmente para reclamar que ele devia ser igual a família esnobe que tinha, até que finalmente poderiam tirar suas conclusões pessoalmente, Silas estaria de volta.
Louise também sabia da chegada do herdeiro, mas mesmo assim não parava sua vida como tantas outras mulheres para falar a respeito, afinal sempre tinha muito serviço a ser feito na estufa da família, e por todos os longos jardins ao redor do castelo, e ela amava seu serviço para pensar o oposto.
A anos a família de Louise trabalhava no castelo nos mais variados serviços, e consequentemente faziam parte da pequena parcela que conheciam o segredo dos patrões, os Reis não eram pessoas normais, eram bruxos de uma incontável linhagem pura, ou seja, eles eram poderosos mesmo sendo uma família pequena.
Para os demais humanos que conhecia o sobrenatural apenas como lenda, era fácil pensar em um bruxo como uma espécie sem divisões de características, mas ela sabia que não, havia uma diferença grotesca que fazia seus patrões serem tão poderosos e temidos que os demais, que era o fato de somente se casarem com bruxos puros, o que mantinha a magia forte, diferente de quando algum bruxo se casava com um humano, e essa união gerava um herdeiro mais fraco, porque a magia fica mais diluída por conta da presença não sobrenatural. Louise em todos os seus anos de trabalho ali já conhecia histórias que seus patrões falavam de bruxos que nasciam sem magia alguma por conta dessas uniões.
Mas sendo bruxos tão poderosos, era fácil se perguntar, por que não faziam esses trabalhos tão corriqueiros ? Como se bruxos ricos e esnobes tivessem tempo para isso, além do mais devia ser um ato de poder para eles ter tanta gente para mandar, era o que a jovem pensava ao regar as rosas que ficavam na parte de trás do castelo, quando acidentalmente feriu seu dedo em um dos espinhos delas.
— Ai que merda — falou a jovem soltando de imediato o regador, e levando o dedo a boca, quando alguém falou perto de si.
— Belas damas não deviam sair por aí falando palavras feias.
Assustada, a jovem de cabelos escuros se virou para trás e viu seu observador.
Sua aparência era um tanto peculiar, pois seus cabelos, sobrancelhas e olhos estavam e um tom alaranjado, nada em contraste com o terno azul que estava com as mangas arregaçadas até os cotovelos e a gravata escura que usava, tanto que era difícil distinguir se era um executivo, ou um comediante que veio fazer uma apresentação para a família.
— E você e ? — ela falou brava com o cenho franzido, mas parecia que o estranho não conseguiu ver bem a raiva emanando de seus olhos azul escuro, por que desatou a rir.
— Ei, eu estou falando sério — ela falou ainda mais irritada — não é como se eu gostasse de ser observada por um estranho — ele parou de rir na hora, e ergueu os braços para cima, onde só agora a garota foi reparar que havia um livro de magia na mão direita.
— Juro que não sou nenhum psicopata, só um garoto vítima de uma aposta mal feita que estava procurando um lugar tranquilo para pesquisar um contra feitiço para reverter isso — ele apontou com as mãos para o rosto, e Louise soltou uma pequena risada.
— Parece que lhe jogaram em um tonel de tinta alaranjada — ela pigarreou antes de voltar a falar — com todo o respeito claro.
— Imagina, não fiquei ofendido — ele baixou os braço e lhe deu um sorriso tímido — na verdade não a culparia se me dissesse um bem feito, afinal a culpa foi minha por confiar em amigos de procedência duvidosa — Louise não aguentou e desatou a rir.
— Seus pais devem ter ficado uma fera — os ombros do jovem ficaram tensos por poucos segundos que Louise nem chegou a ver, porque logo em seguida ele respirou fundo e se forçou a relaxar enquanto a respondia.
— Eles tem suas razões — A jovem ficou em silêncio na hora.
— Desculpe — ela falou sem jeito.
— Não tem problema, afinal eles tem razão, parecer uma tangerina não tem charme algum — ele fez um biquinho descrente, e sem que a jovem percebesse, seus olhos já estavam acompanhando aqueles mínimos movimentos, até se dar conta, ficar vermelha, e passar a ter um fascínio súbito pelos próprios sapatos gastos de tom amarronzado, que apareciam por baixo do seu vestido rosa claro.
— Devo concordar, laranja é uma bela cor, mas não cai bem no senhor — o jovem a sua frente riu.
— Suspeitei desde o princípio — mais relaxada, a jovem voltou a olhar o homem à sua frente — mas está tudo bem com o dedo ? — ele perguntou preocupado.
— Claro senhor, foi só um arranhão — ela falou rápido.
— Posso ver ? — ele perguntou sério, e relutante ela lhe estendeu a mão.
O jovem pôs o livro debaixo do braço, e com as duas mãos livres pegou com cuidado a mão da jovem, e vendo que o indicador ainda saia sangue, passou com cuidado seu dedo por ele, e quando enfim a soltou, já não havia mais machucado algum.
— E... Obrigada — ela falou sem jeito, e rapidamente encolheu a mão junto ao corpo.
— Disponha — ele falou, mas a jovem já tinha se virado, e enquanto pegava o regador do chão disse.
— Desculpe o incomodo, pode voltar a sua pesquisa, depois eu volto — ela falou enquanto se afastava rápido.
...
Sim talvez tenha começado ali a razão de todos os seus problemas, que foi quando seus pais se conheceram, e também o único dia que se lembrava de ouvir sua mãe lhe contar de forma tranquila, porque o resto era notório a mágoa mal disfarçada.
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✔️ AMOR EM TREVAS
FantasíaAs Joias Da Coroa Dos Três Mundos: Entre Eras O Início Do Fim Por séculos Dorion Dark foi o ancião, líder responsável por manter a frágil paz no mundo, só que no presente momento sua fama está por um fio, graças a volta iminente do seu eu do mau. Po...