Capítulo 6

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A noite estava fria, mas nada congelante. Melanie podia até imaginar que ainda estava no Brasil, se não fosse a rua da casa de sua tia que era totalmente deserta. Em Gramado, mesmo no inverno, os vizinhos estariam caminhando ou em frente de suas casas olhando o movimento. Melanie havia tirado um pequeno cochilo depois que terminou de conversar com os seus amigos, depois aproveitou para olhar a vista da rua pela janela do quarto de sua prima. Em poucos minutos, ouviu três batidas leves na porta.

– Pode entrar. – Disse, imaginando ser a sua tia.

– Mel! – Suzie exclamou adentrando a porta e indo abraçar a sobrinha que sorria alegre. – Quantos anos eu não te vejo, menina! Está uma mocinha.

– Tia! – Melanie gargalhou – Já tenho 24 anos, sou uma mulher.

– Ora essa! Para mim será sempre aquela menininha que brincava com a Luna, lembra?

Melanie sorriu e acabou gargalhando por relembrar não das brincadeiras, mas sim das brigas constantes com sua prima.

– Como estão Suzanne e Marcus?

– Estão bem, tia. Graças a Deus.

– Que bom, minha querida. Eu trouxe janta, vamos descer? Também preciso te apresentar a casa.

Melanie a seguiu e ao chegar na sala de jantar mirou sua prima sentada à mesa, mas já terminava de comer. Suzie a olhou severa e logo tratou de chamar sua atenção. Melanie não quis se intrometer, mas percebeu que teria sérios problemas com Luna.

– Sopa de batatas com aipo, Mel. Espero que goste.

– Obrigada, tia.

Depois de conversar sobre sua vida no Brasil, Mel falou sobre sua graduação e sobre suas especialidades. Ficou animada em saber que já poderia começar a trabalhar o quanto antes. Só não começaria no dia seguinte, porque sua tia teria que resolver sobre a sua documentação antes, mas logo iria pôr a mão na massa e finalmente trabalhar com o que gostava.

Sua tia apresentou a casa e logo a levou para o quarto que seria seu. Era um cômodo pequeno, menor do que seu quarto no Brasil, mas era perfeito. Pelo menos, não iria compartilhar o espaço com sua prima, a menina certamente não estava animada com sua presença.

***

A noite para Melanie não foi tão boa. Por conta do fuso horário, ela acabou passando quase a metade da madrugada acordada, teria sido pior se não tivesse a companhia de Letícia, mesmo que pela internet. Levantou cedo e tratou de ajudar sua tia no café da manhã, resolveu mostrá-la alguns de seus dotes e ficou feliz em saber que ela havia saboreado e aprovado de sua torta, tanto quanto seus pais. Luna comeu sem emitir nenhum som de agrado. Porém, Melanie percebeu, mesmo que discretamente, seus olhos se fechando de prazer por milésimos de segundos. Logo a casa ficou vazia, pois era terça–feira e sua prima havia ido para o colégio e tia Suzie para sua confeitaria. Melanie conseguiu arrumar todas suas coisas no pequeno armário que sua tia havia lhe disponibilizado, assistiu um pouco dos programas locais e por fim, já cansada de esperar o tempo passar, resolveu sair um pouquinho de casa.

Era estranho olhar para a rua deserta. Seu relógio marcava 10:58 da manhã, geralmente nesse horário o carro da pamonha passava em frente a sua porta e ela corria para comprar, adorava o sabor de milho com queijo de seu João. O único sinal de vida que ela percebeu ali foi do semáforo, que mesmo sem nenhum carro, o aparelho ainda mudava as cores. Começou a se sentir em um desenho animado. Não quis sair da rua onde ficava a casa, pois ficou com medo de se perder, mas, rezou para que pudesse encontrar algum lugar animado para poder conhecer a noite, não era uma mulher de festas, mas também não era caseira ao ponto de viver trancada.

Quando chegou ao fim da rua, voltou como se fosse uma criança, não encontrou nenhum supermercado e riu quando se deu conta que queria alguma coisa do Brasil em Dublin. Era claro que ali ela não encontraria nada, teria que se acostumar com aquela vida e aquele lugar. As casas eram todas enormes, não havia portões e nenhum tipo de proteção contra bandidos, aquilo era incrível.

De repente apareceu um ônibus escolar cheio de criancinhas, Melanie jogou as mãos para o alto e pensou 'aleluia', por finalmente ver sinal de vida e riu de si mesma. Como era Outubro, que é um mês chuvoso em Dublin, a rua estava molhada por causa da chuva que havia caído pela madrugada. Melanie não se deu conta que andar por ali precisava de mais cuidado, o chão estava escorregadio e ao se virar um pouco mais rápido do que deveria, acabou pisando em falso e tropeçou, caindo de uma vez em cima da grama.

Teria sido engraçado se não fosse o olhar irado do homem que estava um pouco mais atrás, acabando de sair de sua casa. Ele era alto, tinha os cabelos negros e olhos azuis, um típico Irlandês. Não havia sequer um sorriso em seu rosto, o que Melanie via era puro aborrecimento. Ela não sabia o motivo daquele olhar, o tombo fora dela e quem estava suja era ela. Mas ao invés de se deixar abater, levantou-se sem ajuda, se limpou e continuou andando até a porta de sua casa, ainda sendo seguida por aqueles olhos.

Quando pensou que estava livre, ouviu um grito e o viu andando em sua direção com aquele olhar mortal.

– Presta atenção por onde anda, ok? – O homem chegou até uma linha imaginária que separava as duas casas e começou a lhe chamar a atenção.

– Como disse? – Melanie estava doida para treinar seu inglês, mas não daquela forma.

– Tenha cuidado para não estragar a grama dos outros! – Dizia ele com o seu sotaque arrastado, Melanie não entendia porque tanta irritação logo de manhã.

Ela ficou tão pasma que ao invés de responder o vizinho, começou a rir.

– Deve ser louca mesmo, pois ao invés de responder, fica rindo como se eu estivesse contando alguma piada. – Os olhos dele estavam em brasas, Melanie pôde perceber. O homem estava realmente puto por ela ter caído em sua grama.

– Perdão, eu tropecei. Não pude ver.

– Na próxima vez olhe por onde anda, criança! – E se virou de costas para ela.

Ela não acreditava que foi chamada de criança por um homem que não aparentava ser muito mais velho que ela. Com certeza ele não tinha mais que 30 anos.

Rapidamente ele saiu e só então Melanie percebeu que ele estava segurando um capacete. O homem subiu na moto potente que estava estacionada na beira da rua e saiu cantando pneu descontroladamente. Ela ficou sem entender a reação daquele sujeito. Além de ter sido absolutamente mal-educado quando não a ajudou a se levantar, ainda a chamou de criança. Ela realmente odiou aquilo, pensou que deveria estar com algum carma por ser tratada mal pela própria prima e agora pelo vizinho que nem se deu o trabalho de cumprimentá-la. 

***

Oiê, 

mais um capítulo pra vocês ... Quem será esse vizinho ein? 👀

Não se esqueçam de comentar e de votar no capítulo!! Até a próxima segunda...

Bjinhos de Pri e Fabi 😘

Doce amor de invernoOnde histórias criam vida. Descubra agora