"Não me importo em ser diferente. Só quero ser quem realmente sou."
— Os Instrumentos MortaisMoscou, Rússia.
Nikolina Belikov não era uma garota considerada normal. Não gostava de sair de casa, mesmo tendo dezenove anos. Sua mãe dizia que era comum, mas seu pai sabia que não era. Queria mandá-la para o psicólogo, mas a esposa não deixava. Sempre defendia a filha.
— Pare com isso, Mark! Ela é nossa filha. Nossa menininha. Ela não é anormal... Apenas prefere ficar só. Isso é algum tipo de crime, por acaso?
Oh, se sua mãe soubesse... A verdade é que Nikolina nunca gostou mesmo de sair na rua, mesmo antes de descobrir o seu poder. Ela sempre se sentia observada, uma sensação muito ruim que a deixava mais paranoica do que já era. Fora que para onde quer que fosse, era desprezada. Na escola principalmente.
O pior, contudo, é que desde pequena parecia que a garota podia sentir as emoções dos outros. Com o tempo, aquilo foi aumentando de uma forma insuportável.
Quando Nikolina tinha treze anos, ela estava no jardim lendo um livro qualquer até que viu seu vizinho caminhando para dentro da casa dele, bufando. Ela sentiu então a raiva que ele sentia. Era como se, do nada, tivessem estabelecido uma ligação. Ela sabia exatamente o tipo de sentimento que o dominava e era estranho. Quando o homem entrou na casa, tudo voltou ao normal.
No entanto, naquele mesmo dia, ela tinha optado por passear por aí, sem qualquer tipo de preocupação.
E foi aí que tudo, definitivamente, começou a mudar.
A russa observou tudo com admiração. As flores, as árvores... Tudo tão lindo. Tão vivo. Até que, claro, a magia cessou rapidamente. Quando entrou na padaria, viu logo os reis da escola. As patricinhas e os mauricinhos. Era tão clichê que a enjoava. Nikolina passou por eles de cabeça erguida, mesmo que seu subconsciente gritasse para ela se esconder. Quando passou por eles, sentiu sentimentos estranhos. Eram vários misturados: felicidade, raiva, amargura, deboche...
Viu Aleksey, o rei da turma, se levantar. Sabia que vinha em sua direção. Por isso engoliu em seco e pensou rapidamente em uma fuga. Viu uma porta ali nos fundos aberta e não perdeu tempo, apenas entrou, vendo em seguida que dava ao depósito da grande padaria.
Ela se escondeu atrás de uma caixa ampla de papelão, rezando para não ser encontrada.
— Eu sei que está aí, Belikov.
Aleksey era mau. Ela sabia disso, mesmo tendo treze anos. Ele perseguia todos os alunos que não eram de seu grupo e os faziam sofrer. Às vezes batia neles, já em outras ocasiões humilhava... Mas, na maioria das vezes, fazia os dois. Ele era lindo, não podia negar. Tinha os cabelos claros, quase brancos e seus olhos eram azuis iguais ao céu. Fora os traços, tão delicados... Parecia que o menino era uma pintura, de tão perfeito que era. Porém, mesmo a embalagem sendo linda, o conteúdo era um desastre. Um desperdício, na concepção de Nikolina.
— Onde será que ela está...? — Debochou.
— Por favor, não, por favor... — Sussurrou.
— Ahá!
Ele jogou a caixa que estava na frente de Nikolina para trás. Ela fechou os olhos, esperando pelo pior, mas nada aconteceu. Quando olhou novamente, viu que Aleksey não olhava para ela especificamente, mas sim através dela...
Era como se Nikolina nem estivesse ali, diante dos olhos dele.
O garoto olhou ao redor confuso, como se a procurasse. Depois de alguns minutos, Pavlova apareceu apreensiva. Era a namorada do garoto, tão má quanto ele. Ela jogou os cabelos sedosos para trás, mostrando o quanto estava nervosa. Pavlova era tão bonita quanto Aleksey, mas o que mais chamava a atenção eram seus grandes olhos verdes.
— Temos que dar o fora daqui! Meu pai está indo para casa e pensa que estamos lá estudando. Venha, depressa!
Aleksey, ainda meio confuso, a seguiu, mas olhou novamente para trás. Quando Nikolina teve a certeza que ele havia ido embora, se levantou ainda mais confusa que o garoto.
O que tinha acontecido ali?
Aquilo se repetiu várias vezes. Quando Nikolina queria sumir, era como se aquilo acontecesse de fato. Além de sentir a emoção dos outros, ela tinha o poder de invisibilidade.
Surreal, não? Quem no mundo não gostaria de ter a sorte de ter aqueles poderes? Certamente apenas Nikolina.
A garota não queria ter poderes, não queria ser nada, seja lá o que fosse de fato... Ela apenas queria ser normal. Ter uma vida normal, cercada de pessoas normais. Por isso raramente saía. Ela não gostava de olhar para toda aquela gente e ver que jamais seria como elas.
Estava sozinha em seu pequeno apartamento recém-adquirido, mexendo no computador, quando ouviu a campainha tocar. Estranhou aquilo, afinal, raramente alguém aparecia por ali sem serem seus pais e ela sabia que eles estavam trabalhando. Levantou-se de sua cama confortável e foi atender, com um pouco de preguiça. Abriu a porta, dando de cara com três pessoas. Um homem que vestia um terno preto e outros dois que usavam um uniforme da mesma cor, mas que era bem diferente do que terno.
— Posso ajudar? — Perguntou, com um pouco de medo na voz.
— Não precisa ter medo — o homem do meio falou como se lesse a mente dela. — Estamos aqui para um bem maior.
— O que vocês querem?
— Nikolina... — Ela ficou rígida na hora, pois não tinha falado seu nome. — Acho melhor você se sentar, é uma longa história...
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Heroes of Tomorrow
FantasyQual seria a sua reação se você descobrisse que super-heróis existem? Qual seria sua reação se você fosse um deles? Existem tantas pessoas no mundo, tantos acontecimentos inexplicáveis... Por que seria tão impossível assim? Alguns humanos tem supe...