Capítulo 35

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"Talvez não houvesse nenhuma forma de definir o sentimento. Talvez houvesse tantos tons de amor quanto existem tons de azul no céu."
— The Kiss of Deception.

Skye ainda estava irritada com toda aquela confusão que havia acontecido no jantar. No entanto, sabia que tinha agido certo. Quer dizer, ela precisava se posicionar. E queria deixar mais do que claro que não desistiria de Ashton. Nem agora nem nunca.
Se ninguém queria ajudar, ela mesma bolaria um plano para fazer o garoto voltar ao normal. Era só isso que desejava.
Só de se lembrar de todos na mesa seguindo a vida normalmente enquanto Ashton estava preso em uma cela sendo controlado por Monish dia e noite, uma parte dentro de si morria. A luz que brilhava dentro dela se apagava um pouco... Como podiam ser tão insensíveis? Como tinham coragem de dizer que eram amigos dele?
Pior ainda, como tinham a audácia de se intitularem heróis?
Bom, Skye não era como eles. Ela não desistia das pessoas que amava. Nunca. Preferia morrer ao fazê-lo.
Devia ser perto das onze horas da noite e tudo que a garota pensava era em como poderia mudar aquela situação aparentemente irreversível. Talvez pedisse para Frida, por mais que doesse, tentar beijar o garoto. Certo, era uma ideia infantil, sabia bem disso, mas o amor verdadeiro tudo curava, não é? Rezava a lenda. Além do mais, não custava tentar, não é como se tivessem muito a perder...
Botou as mãos no rosto, envergonhada só de cogitar a hipótese, sentindo-se uma grande idiota. Desde quando havia se tornado uma mulher impulsiva motivada por uma paixão ridícula?
Desde que havia conhecido Ashton Irwin. É, sabia bem disso.
E não era uma mera paixão. Tinha começado como uma, mas transformou-se em algo muito mais forte, muito mais poderoso...
Suspirou fundo, querendo chorar pela centésima vez no mês, mas conseguiu segurar. Lágrimas não mudariam nada. Nunca mudavam.
Ficou encarando o nada por muito tempo, até que chegou à conclusão que precisava agir. Afinal, ninguém mais faria isso. O garoto que amava estava em grande perigo e ela era a única que poderia salvá-lo.
Levantou-se, decidindo que iria improvisar. Precisava ver Ashton, só tinha certeza disso. O resto... Bom, ela pensaria em algo na hora, sempre pensava. Quando viu, já estava no corredor, andando determinada até a cela onde o garoto estava.
Estava tão focada que quase não notou uma luz estranha, azul, saindo pela fresta da porta do quarto de Michael.
Ela arqueou uma sobrancelha, sentindo seu corpo ficar rígido, cheio de tensão. A mão inconscientemente foi até a arma que estava escondida em sua cintura. Sabia que Michael não estava lá, então quem poderia ser?
Só mais tarde descobriria que não era quem, mas o quê.
Abriu a porta do quarto cautelosa, pronta para qualquer surpresa inconveniente. Segurou a arma com mais força enquanto analisava tudo que pudesse ser considerado anormal. O ambiente estava todo desorganizado, como de costume, mas ela já estava habituada, não era estranho ou novidade. E a lâmpada estava apagada.
Constatou, depois de longos minutos de procura, que tudo estava sob controle. Sentou-se na cama do amigo, bufando, botando as mãos no rosto, não acreditando que tinha enlouquecido de vez.
E, sem que notasse, seus pensamentos voltaram para Ashton e em como ela poderia trazê-lo de volta.
Estava perdida em teorias e ideias malucas quando ouviu um barulho baixinho. No começo tinha achado que era sua imaginação falando mais alto, mas não, era real. Parecia um zumbido, algo tremendo.
E então aquela maldita luz estranha que tinha visto mais cedo voltou, invadindo o quarto escuro.
Franziu o cenho, a procura do dono daquele barulho e daquela luz misteriosa que estava começando a irritá-la. E o achou, no alto de uma prateleira, enterrado no fundo de uma caixa.
Pegou o objeto, fascinada, observando que ele era, de certa forma, mágico.
Era uma bússola de ouro, mas havia algo de diferente nela. Algo atípico... Talvez místico.
Suas suspeitas se concretizaram assim que tocou o objeto. Berrou, sentindo a luz então invadir todo seu corpo, fazendo tudo ao seu redor sumir, levando-a para um lugar que ela nunca tinha conhecido. A cena passou rapidamente por sua mente, dando todas as respostas que precisava. Durou frações de segundo, mas foi como se tivesse visto uma vida inteira.
Ela largou a bússola, com as mãos tremendo e o corpo queimando. Não acreditava no que tinha visto.
A garota não sabia, mas aquele objeto pertencia a Johanna Clifford e antes pertenceu a uma família real, muito antiga e poderosa — e de outro mundo, segundo lendas. Agora era de Michael, mas ele nunca contou aos colegas sobre aquele segredo. Sobre a bússola mágica, que não levava aonde a pessoa queria, mas aonde ela precisava ir... Não ouvia a razão, somente ao coração.
Por isso Skye estava em choque. Ela não entendia nada ainda, mas tinha visto o suficiente para saber o que precisava fazer a seguir.
Pois a visão, as coordenadas que estavam frescas em sua mente, levavam para a pessoa que ultimamente não saía de seus pensamentos. Uma que ela achava que estava morta.
Era alguém que compartilhava o mesmo sangue que o seu.
Alguém que representava o passado e, agora, seu futuro.
Não sabia como, mas a resposta estava ali.
Harry Jones Hemmings, seu meio-irmão, estava vivo.
E ela sabia exatamente aonde encontrá-lo.

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