Capítulo 3

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      "Você está preso entre quem você é, e quem gostaria de ser."
— Bon Jovi.

Arizona, Estados Unidos.

          Ashton sentiu uma pontada incômoda na cabeça. Soltou um resmungo cheio de dor. De repente, quando sua total consciência voltou, ele percebeu que não sabia onde estava. Endireitou-se, rapidamente.
         Encontrava-se em um quarto simples, todo branco. Não tinha nenhuma janela, o que o deixou com a sensação de falta de ar. Levantou-se da cama em que estava sentado e foi em direção à porta de aço que, como previsto, estava trancada.
          O garoto sentiu sua garganta fechar, não sabendo o que fazer. Recordou-se que estava saindo de sua faculdade e, então, um carro parou em sua frente e três homens o apagaram. Era um tanto desesperador. Será que tinha sido sequestrado? Provavelmente. O que será que queriam dele? Ashton nunca teve muita coisa, não era pobre, mas não era rico, também. Então o que poderiam querer? A hipótese de ser seu poder passou pela sua mente, mas descartou rapidamente. Afinal, ninguém sabia da existência deles a não ser o próprio Ashton.
          Ouviu vozes, que pareciam vir do corredor. Foi até porta, encostando o ouvido ali. Porém, logo se censurou por isso. Era uma ação estúpida, já que era feita de um material muito consistente, jamais escutaria alguma coisa. Por isso, concentrou-se e deixou que os pensamentos viessem até ele.
          Era como se Ashton fosse puxado para dentro da mente da pessoa. Viu que era uma garota conversando com um homem. A menina parecia muito irritada. Xingava em sua mente o pobre homem a sua frente de todos os nomes feios possíveis. Já o homem parecia tranquilo e determinado.
          Ouviu o mais velho pensar que não valia à pena discutir, por isso se retirou dali. Já a garota continuava lá. Antes que ela fosse embora, Ashton falou com ela por pensamentos.
         "Quem é você?"
          Skye, que até então estava ali fora no corredor, virou-se, procurando a voz do indivíduo. Quando não viu ninguém ali a não ser ela, deu de ombros. Ia voltar para a sala de treinamentos, mas a voz voltou.
          "Sei que está me ouvindo. Por que não me responde?"
          Foi naquele momento que percebeu que a voz vinha de dentro de sua mente. Assustada, olhou para os lados. Não tinha ninguém ali realmente, então não era Michael pregando uma peça.
       Estou ficando louca, murmurou para si mesma mentalmente.
       "Não, você não está. Eu sou uma pessoa real. E estou trancado em um quarto, mais parecido com uma cela, na sua frente. Faria o favor de abrir a porta para mim?"
          Skye estava no corredor onde tinha acordado no primeiro dia quando foi trazida para a Base Secreta. Era ali que havia ficado isolada por dias, assustada e com medo. Isso só podia significar uma coisa: a pessoa com a qual ela falava era um novo herói.
          Com esse resultado, sentiu seu semblante se fechar. Então, eles já tinham chegado? Bom saber, sorriu maléfica, e então o respondeu por pensamento.
        "Eu não sei quem é você, mas sei o porquê de estar aqui. Por isso, não abrirei a porta. Espero que mandem você de volta para casa, nós não precisamos de mais ninguém aqui. Será o melhor para todos."
          Com isso, saiu dali com passos firmes sem olhar para trás.

         Calum acordou com uma pontada na cabeça bem forte, semelhante quando ficava de ressaca. A primeira coisa que viu foi um teto branco, o que o desesperou por dentro. Estava em um hospital? Era só o que faltava! As lembranças lentamente voltaram.
          Lembrou-se Liam. Depois de Cassey. Sorriu, mas então Nate apareceu e, finalmente, o motivo de tanta aflição também. Recordou-se também de quase matar Nate, com uma força anormal. E, por último, alguns flashes bem confusos dele conversando com uma mulher na praia.
          De repente, lembrou-se de cada mísero detalhe. Merda, o que eu fiz?, recriminou-se mentalmente.
          Levantou-se da cama dura e de má qualidade. Olhou ao redor e se sentiu incomodado. Primeiro: o lugar era muito pequeno. Não tinha janela, apenas uma porta de aço, pelo que parecia. Às paredes eram resistentes, não dando para ouvir nada. E em segundo: não tinha a mínima ideia de onde estava.
          Calum começou a sentir uma onda de pânico dominá-lo. E raiva, claro. Então Savannah o tinha enganado? Ela trabalhava para polícia? Céus...
          E se tivesse em um reformatório? Não, não deveria ser assim. Desesperado, começou a bater na porta com força.
          — Abram essa porta imediatamente! — Rosnou.
          Óbvio que não obteve resposta. Mesmo que tivessem se dado ao trabalho de responder, ele não ouviria. Uma pena.
          Com as veias saltando do pescoço, ele chutou a grande porta. No começou, não obteve quase nenhum sucesso, mas ao decorrer do tempo, a porta foi cedendo. Já tinha marcas de suas mãos e de seus chutes. Por isso, ele jogou o corpo contra ela. Depois de mais algumas tentativas, a porta quebrou. Ele a abriu, mas a mesma já estava quase caindo aos pedaços. Não se importando com esse fato, o garoto encarou o que estava do lado da fora da "cela".
          Era um corredor gigante, todo iluminado, cheio de portas iguais a sua. Engoliu em seco e pensou no que faria a seguir, mas depois de um segundo, seus olhos se desviaram para a porta ao lado da sua, onde vinha um barulho. Um resmungo, na verdade.
          Assustado, observou toda a cena. Uma menina simplesmente linda, de cabelos claros, assim como seus olhos, saía pela porta. Não saía como uma pessoa normal, na verdade, ela atravessava a porta. Isso mesmo, como um fantasma atravessa uma parede.
          Calum, pasmo e fascinado, não conseguiu dizer nada, ainda estava em choque.
          A menina, pelo que parecia, ainda não tinha reparado nele. Estava bem irritada, para falar a verdade.
          — Verdammt! Wo bin ich?
          Calum, do nada, conseguiu recuperar a voz. Olhou para ela, ainda mais intrigado.
          — Você está falando japonês por quê?
          Finalmente ela notou sua presença.
          Sofie olhou para o garoto ao seu lado. Ele era bem bonito. Tinha um corpo bem... Definido. Porém, o único asiático pelo que parecia aqui era ele, não ela. A garota era alemã. O que tinha a ver com japonesa? Nada, simplesmente nada.
          Ainda meio incomodada com a situação na qual se encontrava, colocou o cabelo para trás da orelha e tomou coragem para respondê-lo.
          — A única pessoa aqui asiática é você!
          O garoto pareceu surpreso por ela ter um inglês tão bom, mesmo com um pouco de sotaque — que ele não tinha reconhecido de onde pertencia.
          — Eu não sou asiático! Por que todo mundo fala isso? Tenho descendência neozelandesa e escocesa e sou australiano! — Suspirou fundo. — Por falar nisso, sou Calum Hood.
          A garota deu uma risada baixa, tirando a franja que caía de seus olhos. Ela o olhou ainda receosa, pensando se deveria confiar nele. Contudo, parecia que eles estavam no mesmo barco.
          — Sou alemã — revelou. — E meu nome é Sofie Barth.
          — Oh, é daí que vem essa língua esquisita e esse seu sotaque forte. Maneiro.
          — Pois é — ela olhou para os lados, mas não vinha ninguém. — Ei, você sabe onde estamos?
          Calum negou com a cabeça, meio decepcionado.
          — Não, mas quero saber. Isso daqui é tudo muito estranho. Acho melhor darmos no pé.
          — Mas... E se aqui existir outros prisioneiros, como nós?
          Calum pensou um pouco a respeito. Seria mesmo? Antes de tudo, o garoto queria perguntar como ela tinha atravessado a porta, mas depois de um tempo viu que era melhor não saber. Nem ele sabia explicar sobre sua superforça...
          — Você acha mesmo?
          — Tenho quase certeza.
          O garoto encarou a porta em sua frente. Tinha uma luz verde. Ao lado da mesma, havia outra porta igual, com a luz vermelha em cima. Percebeu, então, que aquilo deveria dizer se a cela estava ocupada ou não.
          Olhou para Sofie, que o encarava com aqueles olhos azuis cor do céu. Ele ficou meio sem graça de pedir, mas era necessário. Explicou para ela sua suposição, sobre as luzes acima das portas, que ela achou interessante e que realmente fazia sentido. Bom, agora é que vinha a parte constrangedora.
          — Você... — Ele pediu, sem graça. — Será que podia, você sabe, atravessar as portas só para ver quem está lá dentro? Se tiver cara de criminoso, nem tente.
          Ela riu e não apareceu nada ofendida com o pedido. Sorriu e, sem dizer mais nada, entrou em todas as portas com as luzes vermelhas, que ao total eram duas.
          Ela logo saiu da primeira, com um sorriso.
          — Tem um menino aí. Eu entrei muito rápido, acho que ele não me viu, estava de costas. Porém, parecia bem cansado e desesperado, como nós.
          — Certo.
          Calum olhou para a porta, o mais gozado era que não tinha tranca. E sim apenas um botão vermelho, ao que parecia um interfone. Ainda meio hesitante, apertou.
          — Nome.
          Calum olhou para Sofie, como se pedisse ajuda. A garota deu um passo à frente, hesitante. Porém, o garoto teve uma ideia, felizmente. Foi até ela e sussurrou em seu ouvido um nome. Sofie achou a ideia boa, que era falar o nome Savannah Lancaster, mas sabia que o aparelho também reconhecia a voz, que provavelmente não era igual a da tal Savannah.
          Teve uma ideia semelhante à de Calum. Fechou os olhos e tentou se lembrar de cada detalhe do homem que foi até sua casa e tinha se apresentado como Brad. Abriu os olhos e já sabia que estava em sua forma.
          — Brad Froster.
          — Voz reconhecida, acesso permitido.
          A porta em sua frente abriu. E lá dentro estava um garoto, encolhido, de costas para eles. Calum estava encarando Sofie, agora Brad, horrorizado. O que estava acontecendo? Já a menina — agora um homem — encarava o menino dentro da cela. Ele parecia ter vinte anos, mais ou menos. Não soube confirmar. Pigarreou em uma tentativa de chamar sua atenção.
          O garoto se virou, quase na hora. Ao vê-los, arregalou os olhos.
          — Quem são vocês? — Sua voz estava ligeiramente rouca de tanto gritar, provavelmente. — O que querem de mim?
          — Estamos no mesmo barco, amigo! — Calum disse, pela primeira vez. — Também fomos sequestrados.
          — Não confio em vocês. Esse homem de preto... Os que me levaram eram iguais a ele.
          O disfarce de Brad lentamente se dissipou e ao seu lugar apareceu a imagem novamente de Sofie. Calum, ainda confuso e com um pouco de medo, desviou o olhar.
          Já o menino da cela estava em choque.
          — Eu não sou o único... — Sussurrou para si mesmo, ainda abismado.
          — O único o quê? — Sofie perguntou cautelosa.
          — Não sou o único anormal.
          Antes que a alemã e o garoto estranho pudessem prolongar a conversa, Calum retomou as rédeas novamente.
          — Está tudo muito lindo, mas temos que salvar a pessoa da cela ao lado e darmos o fora daqui, aí sim nós poderemos conversar e criar teorias com calma.
          Sofie assentiu rapidamente, transformando-se em Brad novamente. Foi até o interfone da cela ao lado e repetiu a cena anterior.
          A porta destravou e a garota a abriu devagar. Para sua surpresa, estava vazia. Foi o que pensou, até que sentiu um chute em sua barriga a deixando sem fôlego.
          — YA sdelayu vas sozhalet', chto menya pokhitili, vy varvar!
          De repente, uma garota parecida com ela, se materializou a sua frente. Ela estava com uma expressão nada boa no rosto. Parecia com muita raiva, a fim de matar alguém. De onde ela tinha surgido?
          — Me larga! — Sofie gritou, voltando a sua forma original.
          A garota acima dela, que no momento tentava dar um soco em seu rosto, olhou-a surpresa. Soltou-a quase na hora, levantando-se.
          — Quem é você? — Perguntou com medo.
          Nikolina estava bem confusa. E com medo. Raiva também entrava na lista. Quer dizer, aquela garota há um segundo era um homem. De repente virava uma mulher, do nada? O que estava acontecendo? Dois garotos apareceram correndo, entrando também na cela. O de cabelo escuro ajudou-a a se levantar.
          — O que você fez com ela? — Perguntou assustado.
          — Essa louca me chutou! É isso que dá ajudar as pessoas... — Disse magoada.
          — Quem são vocês?
          — Eu sou Calum, ela é a Sofie e este é o Ashton. Todos nós estamos no mesmo barco, então sugiro que se acalme.
          Nikolina ficou na dúvida se deveria confiar neles. No entanto, estava no fundo do poço mesmo, que mal faria? Pior do que já estava não podia ficar.
          — Desculpe-me, eu estava assustada e...
          — Não tem problema — o garoto das covinhas falou, sorrindo carinhosamente. — Qual é seu nome?
          — Nikolina Belikov, mas gosto mais quando me chamam de Nina.
          — Hm, então é russa, certo?
          Nikolina assentiu, rapidamente. Ainda estava com vergonha do que tinha feito há alguns minutos. Ashton ainda sorria já Sofie estava bem séria. Calum, entretanto, olhava para os lados, preocupado.
          — Acho melhor sairmos daqui rápido. Provavelmente alguém virá para cá.
          — Então, o que estamos esperando? — Sofie perguntou já se recuperando. — Vamos logo.
          Todos concordaram e começaram a correr pelo corredor extenso. No final, tinha uma porta de vidro. Estava aberta, para a sorte deles. Calum ia à frente, conduzindo o grupo. Ao saírem do corredor de celas, deram de cara com mais um corredor, mas desta vez ele era estreito e vazio. Continuaram a correr, sem perderem tempo. Em seguida toparam com outra porta de vidro, mas diferente das outras, estava trancada.
          Sofie, já desesperada pela simples hipótese de eles serem pegos a qualquer minuto, olhou em volta a procura de alguma coisa que pudesse quebrar o vidro. Viu um extintor de incêndio ali na parede. Sorriu satisfeita e sem perder tempo o pegou. Foi até a porta de vidro, jogando-o contra ela.
          Depois de algumas tentativas, a porta estava bem destruída, com um buraco no meio. Todos passaram, com muito cuidado para não se cortarem. Depois, continuaram a correr.
          — Esses corredores não têm fim? Isso aqui parece um labirinto! — Nikolina reclamou já cansada.
          — É nossa única saída. — Ashton respondeu, pela primeira vez, sério.
          — Estou vendo uma movimentação ali.
          Depois de passarem por uns dez corredores, eles finalmente deram de cara com uma porta preta. Estava destrancada, mas o problema não era passar por ela... Mas sim o que havia depois dela.
          Parecia um saguão, com várias pessoas, todas de preto, passando por ali. Algumas correndo, parecendo com pressa. Outras lentamente, conversando com alguém. Tinham até robôs! Era inacreditável.
          Calum reparou, com medo, que todos tinham uma arma. Aquilo era um péssimo sinal. Já Ashton ficou mais confuso ainda. Aquilo ali não parecia nem de longe uma prisão. Estava mais para um lugar futurístico.
          Sofie procurava a porta de saída, para que quando a atravessassem, saíssem correndo em direção à ela sem problemas, porém, ela não via porta nenhuma.
          — Acho melhor sairmos, antes que nos notem aqui parados.
          Nikolina concordou com Calum. Já Sofie mais ou menos. Ashton deu de ombros.
          O moreno, suspirando fundo, abriu a porta lentamente, sem querer chamar a atenção. Porém, quando fez isso, alarmes começaram a soar.
          — Alerta vermelho! Invasores na Base. Repetindo: Alerta vermelho! Invasores na Base.
          Os quatro se entreolharam, preocupados. Podiam já sentir o olhar de todas aquelas pessoas no saguão em cima deles.
          — Qual é o plano? — Ashton sussurrou.
          — Não tem plano! Corram! — Nikolina respondeu.
          E, então, cada um foi para um lado, sem saberem no que ia dar, mas corriam como se suas vidas dependessem daquilo — pois, no fundo, dependiam.

***

          — Eu estou entediada. — Skye falou, quebrando o silêncio.
          Os quatro estavam na sala de lazer. Tinha sido feita especialmente para eles. Lá tinha uma televisão muito fina, com um DVD e vários filmes. E claro, um Xbox. Na frente havia várias poltronas de couro, além de um pequeno frigobar, sempre abastecido. No canto esquerdo da grande sala existia uma mesa de pebolim e, ao seu lado, uma mesa de tênis de mesa. Já no canto direito tinham alguns instrumentos musicais e um rádio. As paredes eram brancas, mas havia muitas fotos deles, desde pequenos até agora, todos sempre juntos.
          — Diga-me uma novidade. — Michael murmurou, sem desviar os olhos da tela da televisão, onde jogava com Luke.
          — É sério — insistiu. — Hoje eu fui tentar falar com Joel sobre os novatos. Ele simplesmente falou para eu não me preocupar. E que, claro, ele não mudaria de ideia...
          Claire, que até então lia um livro, olhou para a amiga, interessada.
          — Foi realmente falar com ele?
          — Claro que eu fui! Achou que eu ia deixar barato? Sou Skye Jones, jamais deixaria um assunto assim quieto.
          — O que disse, exatamente?
          — Falei que sabíamos sobre os novatos e do que ele pretendia fazer. Joel ficou na defensiva, é claro. Só depois cedeu e confirmou! Eu respondi que aquilo era um absurdo, que não precisávamos de mais ninguém no nosso grupo, que estávamos bem assim. Mas, ele foi bem definitivo. Disse que não mudaria sua opinião, então era melhor eu me acostumar com a ideia. Dá para acreditar?
          — Na verdade, — Luke respondeu. — dá sim. É de Joel que estamos falando. Desde quando ele ouve a gente?
          — E desde quando o ouvimos, também? — Michael entrou na conversa. — Parece justo.
          — Acho que Joel sabe o que está fazendo — Claire respondeu, tirando seus óculos de leitura. — Ele sempre sabe, na verdade. Não quero ninguém novo aqui, mas não podemos fazer nada.
          — Você me matou! — Michael gritou inconformado. — Seu traidor.
          — Foi mal. Era você ou o tesouro...
          Skye, já irritada com aquilo, foi até a tomada, puxando todos os fios dali. A televisão se apagou, fazendo os dois olharem para ela, revoltados.
          — Que merda você fez? — Luke gritou ainda pasmo. — Estávamos no nível quarenta e dois! Caralho, Skye!
          — Bom, estamos falando de um assunto sério aqui, crianças — Ela falou brava. — Será que podem prestar atenção?
          — Estávamos prestando... — Murmuraram juntos, irritados.
          Claire, olhando para cena, revirou os olhos. Seus amigos, às vezes, eram bem infantis, mesmo tendo a idade que tinham. Skye ainda tinha uma desculpa, já que tinha apenas dezesseis anos. Ela estava na idade da rebeldia. Já os dois...
          — Será que podem deixar de serem crianças por apenas um minuto? Estamos falando aqui sobre a vida real. Não sobre um videogame estúpido.
          Skye sorriu feliz por ter alguém do seu lado. Levantou-se e se jogou nos dois garotos que estavam sérios.
          — Foi mal, docinhos. É que vocês me irritam demais.
          Luke virou a cara, ainda irritado. Nunca tinha passado da fase trinta e cinco. Aquele tinha sido o recorde de sua vida! Seria histórico, se ele tivesse salvado o jogo. Já Michael, do jeito que era, perdoou-a rápido. Puxou a amiga para um abraço de urso, enchendo-a de beijos. Skye era a caçula do grupo, despertando um sentimento em todos de proteção maior.
          — Como eu dizia antes... — Claire retomou o assunto. — O que faremos em relação à Monish?
          — Acho melhor ainda não contarmos nada a Joel — Michael falou pensativo. — Vamos falar com ele sobre isso depois que os novatos se revelarem.
          Skye, ao seu colo, bufou. Só de imaginar aqueles novatos... Sentia uma onda de irritação subir até sua cabeça. Lembrou-se do ocorrido de hoje cedo, daquela pessoa em sua mente... Escondeu seu rosto na curva do pescoço do amigo.
          — Nem me lembre sobre esse assunto, por favor.
          Claire ia dizer que talvez não fosse tão ruim, que talvez eles fossem boas pessoas, entretanto, antes que falasse alguma coisa, o alarme começou a tocar nos alto-falantes.
          — Alerta vermelho! Invasores na Base. Repetindo: Alerta vermelho! Invasores na Base.
          — Acho que eles finalmente entraram em ação — Claire riu.
          Luke se levantou, ainda com a cara fechada. Ajudou Claire a se erguer também. Michael e Skye já estavam em pé, prontos para lutar. Foram até a porta e ao saírem, viram que tudo estava um caos. Eram pessoas correndo, outras gritando...
          Joel apareceu ali, do nada. Olhou para os quatro por um minuto, em silêncio. E, nesse meio tempo, Claire reparou que ele não parecia preocupado.
          — Peguem-nos.
          Dito isso, saiu dali. Os quatro de entreolharam, sorridentes.
          — Pronta para sair do tédio? — Michael brincou, olhando para Skye.
          — Achei que essa hora nunca ia chegar. — Respondeu, sem tirar o sorriso maléfico dos lábios.

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