Terreno hostil

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- Lá está, senhorita. Do lado esquerdo.

O coração de Lauren disparou quando viu a ilha da Boa Providência.

- É tão pequena... - comentou, fazendo a piloto rir.

- Sim, tem apenas uns catorze quilômetros de extensão e fica a uns vinte da ilha mais próxima.

A piloto continuou a falar sobre as dificuldades de comunicação com a ilha e os problemas causados pelas constantes tempestades. Lauren tentava prestar atenção, afinal era de seu interesse saber tudo sobre seu futuro lar, mas estava excitada demais para ligar para detalhes.

A ilha da Boa Providência seria seu lar por um ano, a duração do contrato. Lauren arregalou os olhos verdes em expectativa.

Como seria sua vida ali? Tinha esperado muito tempo por uma chance como aquela para colocar em prática seus conhecimentos de medicina tropical, e foram anos de preparação.

Agora estava mais perto do Japão e das Filipinas do que da costa dos Estados Unidos. Eram mais de dezesseis horas de vôo e, quanto mais o avião se aproximava da pequena ilha, mais desejava adiar aquela viagem.

Começava a achar que deveria ter feito mais um ano de residência, mais algum curso de especialização, qualquer coisa que lhe desse mais experiência para desempenhar com segurança o papel de única médica numa ilha com centenas de homens, mulheres e crianças. O bem-estar e até a sobrevivência de todos dependeriam dela e não era nada consolador saber que, até aquele momento, nunca tiveram a assistência de um médico.

Aos poucos, a ilha tomava forma, e faixas de verde, púrpura e marrom ganhavam vida. Estavam tão perto que podiam ver as encostas escarpadas das montanhas e até o topo arredondado de um vulcão. Finalmente, avistaram a faixa branca da areia.

- Segure firme agora! - avisou a piloto.

O avião começou a baixar e Lauren se agarrou ao assento, como fizera desde a partida. À primeira vista, o avião não tinha lhe causado boa impressão, mas já estavam atrasados e embarcara com os dedos cruzados.

Pararam em duas ilhas, onde crianças e porcos brincavam despreocupadamente na pista de cascalho e, agora que se aproximavam do destino, imaginava que tipo de recepção teria. Certamente, haveria alguma cerimônia, por mais simples que fosse, de boas-vindas para a primeira e única médica da ilha.

A cor da água também mudava enquanto o avião baixava, passando de um forte púrpura para um azul-escuro e finalmente para um azul-esverdeado transparente, pontilhado de manchas escuras que mostravam a existência de bancos de corais.
O avião mergulhou no ar, passando por uma faixa branca de areia e um cinturão de árvores antes de fazer uma aterrissagem brusca. Estavam na ilha da Boa Providência.

- Olá, Mendes! - A piloto cumprimentou um rapaz preguiçosamente encostado num jipe.

- Venha cá. É você quem vai levá-la até a Casa Grande? - Mas o rapaz não parecia muito disposto a se mexer.

- Ande logo, Mendes! Ela é sua responsabilidade agora.

Lauren jamais imaginaria uma recepção tão calorosa e começou a descarregar sua bagagem enquanto o rapaz se movia com lentidão.

- É... acho que é minha agora. - Sem dizer mais nada levou as malas para o jipe enquanto a piloto se encarregava de algumas caixas com equipamento médico.

- É só isso?

- Mandei o resto por navio, algumas semanas atrás.

- Mandou? - Mendes coçou a cabeça. - Pelo que sei, não chegou nada ainda.

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